Conviver com a dor e com a dificuldade em enxergar já virou rotina no dia a dia da aposentada Vera Maria Loreto da Silva, 65 anos. Moradora do bairro Jardim Algarve, em Alvorada, aguarda há quase dois anos por uma consulta com um oftalmologista especialista em plástica ocular. Ela enfrenta uma doença chamada entropio, em que a pálpebra se dobra para dentro, fazendo com que os cílios irritem o globo ocular. 

A aposentada lida com o problema desde setembro de 2021, quando procurou a Unidade Básica de Saúde (UBS) Porto Verde, em Alvorada, após sentir uma coceira constante no olho esquerdo. Além de causar desconforto, o entropio também provoca dor, vermelhidão e irritação na área dos olhos. 

Após dois anos aguardando para realizar a consulta com o especialista, o problema agora também afeta o olho direito. Vera Maria conta, neste olho, que antes estava saudável, começou a sentir irritação há cerca de dois meses. Assim, os problemas de visão se intensificam. 

- Essa situação me prejudica muito. Não consigo mais ler nem as mensagens no WhatsApp. Por lá, só converso por áudio. Quando eu saio para a rua, tenho que estar me cuidando para não cair nos buracos. Eu já caí muitas vezes, a minha visão fica embaçada _ relata. 

Espera

Em setembro de 2021, quando procurou a UBS Porto Verde devido à coceira constante que sentia no olho esquerdo, a aposentada conta que sentia como se houvesse grãos de areia dentro dos olhos. 

Após a consulta, o médico a encaminhou para um profissional de oftalmologia especialista em plástica ocular, para que pudesse orientá-la sobre quais procedimentos deveriam ser realizados para tratar o entropio. Na maioria dos casos, o problema é resolvido por meio de cirurgia.

A orientação dada à aposentada era de que ela deveria aguardar ser chamada para a consulta, e o médico já a alertou de que esse processo poderia ser demorado. Mas não imaginava que teria que esperar tanto. Vera Maria conta que buscou informações na Secretaria de Saúde do município diversas vezes para saber onde estava posicionada na fila de espera. Contudo, recebia sempre as mesmas respostas pouco satisfatórias, que diziam apenas que ela deveria continuar esperando o agendamento da consulta. 

Uma dor que persiste 

Durante esses dois anos, sem nenhuma perspectiva de ser chamada para fazer a consulta com o especialista, a dor e irritação no olho esquerdo persistia _ o que levou a aposentada a procurar outros locais para tentar amenizar o desconforto. Com isso, Vera Maria foi até o Hospital Banco de Olhos, em Porto Alegre. Comenta que foi atendida no setor de urgência porque estava com muita dor. No entanto, a equipe apenas fez um curativo na região e a liberou.

_ Eles demoram muito para chamar para fazer a consulta com o especialista. Eu deveria ter prioridade, porque já tenho 65 anos. Até pensei em procurar a Defensoria Pública para tentar ser chamada de forma mais rápida, mas eles pedem muitos papéis. A cada dia que passa, minha visão piora. Vou acabar ficando cega _ lamenta. 

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Órgãos públicos não preveem data

A reportagem procurou respostas junto à Secretaria de Saúde de Alvorada, por meio da assessoria de comunicação. A pasta informou que a responsabilidade sobre o agendamento da consulta de Vera é inteiramente da Secretaria Estadual da Saúde (SES). 

A SES, diante dos questionamentos sobre o caso de Vera, afirmou: "Tendo em vista que as informações solicitadas são específicas sobre um cidadão, de acordo com a Lei Geral de Proteção dos Dados Pessoais (LGPD), não cabe ao gestor fornecê-las a terceiros". 

Conforme dados disponíveis no portal do Gercon, o sistema de regulação de consultas especializadas do SUS, o tempo de espera para consultar com o oftalmologista especialista em plástica ocular é de, em média, 1.078 dias, o equivalente a quase três anos de espera.

Produção: Nikelly de Souza