Eu Sou do Samba
Unimúsica 2023 levará público a refletir sobre Carnaval com programação de shows e debates
Colunista Alexandre Rodrigues escreve sobre Carnaval e samba todas as sextas-feiras
Quem passar pelo Campus Centro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) nos dias 3, 4, 17 e 18 de agosto será transportado para um mundo onde a cuíca chora e a alegria se multiplica. É nesse clima que um dos projetos culturais mais longevos de Porto Alegre chega ao seu 42º ano: abram alas para o Unimúsica 2023: Alô, Harmonia!, evento que celebrará o Carnaval com uma programação especial de shows no palco do Salão de Atos da UFRGS (Avenida Paulo Gama, 110).
A apresentação de abertura ocorre a partir das 20h da próxima quinta-feira, e é nota 10 garantida. A Velha Guarda Musical da Mangueira, escola do Grupo Especial do Rio de Janeiro, chega com um repertório repleto de sambas de terreiro e enredos antológicos da agremiação carioca.
— Estamos muito felizes em poder participar desse projeto tão consagrado no Sul — afirma o integrante da Velha Guarda Musical Robson Lo Bianco, mais conhecido como Robson Mangueira. Desde 2008 responsável também pela produção-executiva do grupo, ele dá um gostinho do que o público pode esperar do espetáculo:
— Vai ter música de Cartola, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Hermínio Bello de Carvalho, Chico Buarque de Holanda, Tom Jobim… Tem muita coisa boa! Nó dividimos esse show em três blocos. O terceiro é com os sambas-enredo campeões da Mangueira, desde de 1984 (ano de inauguração do Sambódromo da Marquês de Sapucaí) com Yes, Nós Temos Braguinha, passando por Chico Buarque da Mangueira (1998) e Brazil com “Z” é pra Cabra da Peste, Brasil com “S” é Nação do Nordeste (2002). Tenho certeza de que o público vai gostar bastante.
Memória afetiva
A segunda noite de Unimúsica, na sexta, será de exaltação ao Carnaval de Porto Alegre. O grupo Afro-Sul Odomode apresenta Reminiscências, espetáculo dirigido por Iara Deodoro que faz uma releitura baseada em participações da ala Afro-Sul em desfiles realizados pelas escolas de samba da Capital – tanto na Avenida Carlos Alberto Barcellos, o Roxo, quanto no Complexo Cultural do Porto Seco.
— Uma das coisas mais importantes é mostrar a grandeza do nosso Carnaval. O espetáculo não tem ordem cronológica e, sim, ordem de afeto. Até carro alegórico a gente coloca no palco, pois o Afro-Sul estava no primeiro carro de dois andares apresentado em um desfile de Porto Alegre — destaca Iara. — Participar do Unimúsica tem uma relevância imensa, é dar voz e vez para a cultura popular. Carnaval é algo sério e educativo, assim como a universidade. Os enredos são verdadeiras aulas.
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Não para por aí! Na última semana de evento, as escolas Bambas da Orgia e Imperadores do Samba dividem o palco na noite de 17 de agosto. Já o encerramento apoteótico, no dia 18, ficará por conta do espetáculo inédito Aos Mestres, com Carinho, que presta homenagem a personalidades marcantes da história do Carnaval da cidade, como Claudio Barulho, Maria Helena Montier, Onira Pereira, Nilton Pereira e Wilson Ney.
Ingressos
/// Todos os shows são gratuitos. No entanto, os ingressos que estavam disponíveis via Sympla (e que valem mediante a doação de um quilo de alimento não perecível no dia do evento) estão esgotados. Devido à grande procura, será organizada uma fila de espera para acesso ao Salão de Atos da UFRGS, em todos os quatro dias de apresentações. As poltronas que não forem ocupadas até as 20h serão liberadas para quem não conseguiu ingresso. O mesmo esquema ocorrerá nas demais atividades do evento.
Espaço para debates
Vale ressaltar que o Unimúsica 2023 também é voltado ao debate do Carnaval enquanto campo de conhecimento importante da sociedade. Em vista disso, promove um seminário no meio da programação, nos dias 10 e 11 de agosto, no Centro Cultural da UFRGS (Rua Engenheiro Luiz Englert, 333). Dois grandes especialistas e pesquisadores do Carnaval no Brasil vêm do Rio de Janeiro para apresentar conferências: o escritor e cancionista Nei Lopes, e Milton Cunha, coreógrafo, designer de figurinos e comentarista da TV Globo. O seminário ainda inclui duas rodas de conversa com representantes locais, além da apresentação de trabalhos de pesquisa e experiências com o tema nos âmbitos do ensino e da extensão.
— A programação foi pensada para aqueles que quiserem absorver o Carnaval na sua essência. Os seminários e as rodas de conversas levam ao público as discussões sobre a construção do Carnaval espetáculo, sua formação e os elementos que o constituem. Os shows apresentam no palco a beleza e a riqueza do Carnaval em movimento, valorizando aqueles que se doam a uma das mais genuínas manifestações culturais do Brasil e que nunca o abandonaram, potencializando sua base indissolúvel — ressalta o carnavalesco e figurinista Luiz Augusto Lacerda, curador da edição deste ano com a percussionista Alexsandra Amaral, a jornalista Ana Laura Freitas, a etnomusicóloga Luciana Prass e o ator e diretor Thiago Pirajira.
Cultura afro
Ao elegerem o Carnaval das escolas de samba como tema, os cinco curadores buscaram valorizar a contribuição das tradições africanas, que historicamente renovam suas ligações com a ancestralidade a partir de toques, cantos e danças que fundamentam nossa cultura. É o que aponta Pirajira:
— É preciso pensar o Carnaval também como espaço de manutenção de lutas históricas das populações negras e periféricas em todo o Brasil e, não diferente, aqui em Porto Alegre. Entendendo as potências e a importância das manifestações carnavalescas como celebração das manifestações afro-brasileiras, a gente tomou o Carnaval como um eixo central do evento, celebrando as raízes artísticas, enaltecendo as comunidades e os festejos negros. Além de trazer para o centro da discussão o Carnaval como um lugar de produção de conhecimento.
Fique por dentro
/// A programação completa e mais informações sobre o Unimúsica 2023 estão em bit.ly/unimusica2023.
Falando nisso...
A coluna marcou presença na inauguração da exposição curricular No Batuque dos Bambas da Orgia: Folia e Resistência em Porto Alegre, nesta terça-feira. É com muita honra que Eu Sou do Samba está em uma das paredes da mostra, fazendo parte desta linda homenagem com a reportagem sobre a inesquecível Rosalina Conceição, que nos deixou no último dia 8 de junho, aos 65 anos. Muito obrigado Letícia Heinzelmann pelo convite!
A visitação ao público vai até 25 de agosto, de segundas a sextas-feiras, das 9h às 12h e das 13h às 18h, no Mezanino do Museu da UFRGS (Avenida Osvaldo Aranha, 277). A entrada é franca.
Que tal dar uma passada por lá e depois curtir o Unimúsica? Programa imperdível!