Desde maio de 2019, a operadora de eletrocardiograma Geneci Lourdes Ferreira, 54 anos, aguarda pelo Hospital Universitário (HU) de Canoas para realizar uma cirurgia de colocação de prótese no quadril – chamada de artroplastia total do quadril (quando a articulação é totalmente substituída por um modelo mecânico). O procedimento é necessário em razão de um desgaste severo que foi constatado por meio de exames. 

– Consulto lá (no HU) a cada três meses. Eles me receitam medicamentos e dizem que eu preciso aguardar porque estou na fila – conta a moradora do bairro Guajuviras, em Canoas. 

Atualmente, ela não consegue se movimentar sem a ajuda de um andador. E, mesmo assim, se locomove sob fortes dores. 

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Alternativas 

Outra informação que conta ter ouvido dos médicos durante as consultas é que deveria buscar a realização do procedimento na Justiça, a fim de reduzir o tempo de espera. Porém, Geneci frisa que essa não é uma alternativa: 

– A Defensoria (Pública) me pediu laudos de hospitais particulares com o orçamento da cirurgia. Só que não tenho como pagar para conseguir isso.

Restou, então, recorrer apenas aos caminhos mais convencionais: a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da cidade e a ouvidoria do HU. Em nenhum deles, no entanto, teve sucesso.

Na SMS, Geneci diz ter sido informada de que cabe ao hospital o agendamento da operação. À ouvidoria, diz ter encaminhado diversos e-mails, como foi solicitado pela instituição, mas não obteve retorno de nenhum deles. 

Prejuízos  

Com a evolução do problema de saúde, a operadora de eletrocardiograma teve que se afastar do trabalho e pedir o benefício de auxílio-doença. Só que o dinheiro, explica, acaba sendo investido nas caras e fortes medicações que são receitadas para aliviar as dores. Tratam-se de remédios que provocam efeitos colaterais no bolso e na vida: 

– Em janeiro (deste ano), tive um AVC isquêmico. Fiquei com o rosto todo torto. Por sorte, consegui reverter com fisioterapia. Na emergência, os médicos me disseram que foi causado pelo excesso de medicamentos. 

Se os remédios oferecem risco, o quadro clínico de Geneci não é menos preocupante. De acordo com ela, o desgaste fez com que a perna esquerda ficasse mais curta que a direita. Um dano que causa reflexos no caminhar dela e tende a piorar com o tempo. Assim, o receio divide espaço com a frustração e o sentimento de desamparo.

– Antes, eu acordava 5h20min e ia trabalhar. Fazia tudo sozinha! Hoje, dependo das pessoas para qualquer coisa. Deitada tenho dor. Em pé, também. Sou uma mulher de 54 anos, em idade ativa. Só que não tenho mais vida, me sinto um ser inútil – finaliza. 

Prefeitura: responsabilidade é do HU

Em resposta à reportagem, a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde de Canoas informou que cabe ao Hospital Universitário, onde Geneci já é paciente, se manifestar sobre a espera pelo procedimento.

O Diário Gaúcho, então, procurou o HU, pediu esclarecimentos sobre o caso e questionou se havia previsão para a realização da cirurgia. A instituição, porém, não respondeu até o fechamento desta edição.

*Produção: Guilherme Jacques