Risco de desabamento
Esqueletão será derrubado com implosão e demolição convencional; entenda
Prefeitura anunciou nesta quarta-feira modelo escolhido para colocar o prédio abaixo; trabalho deve ter duração de quatro meses
O Edifício Galeria XV de Novembro, mais conhecido como Esqueletão, no Centro Histórico de Porto Alegre, será demolido de forma mista. A opção foi apresentada em laudo técnico elaborado pela empresa STE e anunciada pela prefeitura na tarde desta quarta-feira (2).
O edifício, que tem 19 andares, será demolido de forma convencional, manual e mecânica, nos pavimentos superiores. Já os 10 primeiros andares da edificação, que fica na Rua Floriano Peixoto, serão implodidos.
O custo estimado da operação é de R$ 3,9 milhões, com tempo previsto de quatro meses. Um edital para contratação emergencial da empresa que ficará responsável pela demolição será lançado nos próximos dias.
— Não dá para esperar fazer uma licitação. Temos que fazer uma contratação emergencial. A bola está conosco agora. O Judiciário autorizou, existe um perigo, o prédio pode cair, e, portanto temos que ser rápidos — analisa o prefeito Sebastião Melo.
Como vai funcionar
O modelo misto envolve dois tipos de demolição combinadas. Os nove andares superiores do edifício serão demolidos manualmente e com o auxílio de maquinários na parte interna. Os pavimentos serão removidos um a um.
A demolição manual ocorre com o uso de ferramentas como marteletes, talhadeiras e ponteiros. O processo mecânico utiliza máquinas e equipamentos pesados para derrubar ou remover estruturas de diferentes tipos, como vigas, paredes, coberturas e estruturas metálicas ou de madeira. O material será levado para o térreo pelo fosso do elevador e retirado com caminhões.
A retirada destes materiais será feita durante a noite e madrugada, entre as 20h e 7h. Para a retirada, o plano é inverter o sentido da Rua Marechal Floriano Peixoto para facilitar o escoamento dos escombros até a Avenida Júlio de Castilhos. Ainda não há um detalhamento de como os resíduos serão descartados, mas há a indicação de que parte do material possa ser reaproveitado.
Os 10 andares restantes serão implodidos, com o uso de uma técnica que consiste em provocar o colapso da estrutura por meio de explosivos colocados em pontos estratégicos. A operação é comparada à implosão do prédio da Secretaria da Segurança Pública, em março do ano passado.
De acordo com Marcus Vinícius Caberlon, engenheiro responsável pela avaliação do projeto de demolição na prefeitura, ainda não é possível precisar a área que será isolada, mas prédios próximos terão de ser desocupados para a implosão.
Um estudo técnico específico sobre o tema ainda será feito para analisar as possibilidades. A expectativa é de que a implosão aconteça em um dia e horário de menor movimento, como o final de semana.
Implosão total foi descartada
O laudo técnico que apresentou as possibilidade da demolição foi elaborado pela empresa STE, que presta serviço para a prefeitura na revitalização do Centro Histórico. O trabalho durou 90 dias, a um custo de R$ 294 mil. O laudo apresentou três possibilidades: a implosão total da edificação, a demolição convencional e a demolição mista, opção escolhida pelos técnicos da prefeitura.
A implosão total, apesar de tecnicamente possível, foi descartada pelo risco de segurança aos prédios do entorno e ao tamanho reduzido do terreno, que não comportaria a quantidade de escombros.
A demolição convencional, com trabalho manual e mecânico em todos os pavimentos da edificação, seria mais caro e demorado, de acordo com o laudo. O trabalho levaria seis meses ao custo de R$ 4,3 milhões. Por isso, a opção escolhida foi a mista, mais rápida e menos onerosa:
— É um método mais seguro, é uma tecnologia consolidada no mercado. Ganhamos velocidade de execução, reduzimos o transtorno e o impacto na comunidade e temos um custo menor de execução — explica Caberlon.
Sem planos para o terreno
Ainda não se sabe o que será feito com o terreno após a demolição do Esqueletão. O prédio tem cerca de 50 proprietários e há dívidas em IPTU. Em setembro de 2021, a Secretaria Municipal da Fazenda (SMF) avaliou o imóvel em cerca R$ 3,4 milhões.
— Existe uma dívida de R$ 3,5 milhões sem atualização do IPTU, e, portanto os proprietários vão pagar essa conta. E tem ainda a demolição que vou cobrar deles também. Vai tudo para a conta de quem infernizou a cidade por 60 anos — afirmou Melo.
A decisão de demolir o Esqueletão
O Esqueletão está inacabado desde a década de 1950. A demolição foi determinada pela Justiça em abril. A decisão autorizou a prefeitura de Porto Alegre a realizar a demolição com o reconhecimento da possibilidade de ressarcimento dos custos da derrubada com os proprietários do imóvel.
A decisão de demolir o imóvel se deu após laudo técnico sobre o diagnóstico do imóvel ser incluído nos autos do processo em agosto de 2022. Depois disso, o município e o Ministério Público solicitaram a demolição do local, que foi desocupado em 26 de setembro de 2021.
O laudo do Laboratório de Ensaios e Modelos Estruturais da UFRGS (Leme) confirma que, se nada for feito, o Esqueletão vai cair. No material, os profissionais envolvidos explicaram os motivos. São três os principais problemas: concreto esfarelando, infiltrações e desgaste nas estruturas de aço.
Na decisão judicial que determinou a demolição do prédio, em agosto do ano passado, o juiz Couto Terra, da 10ª Vara da Fazenda Pública do Foro Central, afirmou que "seu estado tende a se agravar mês a mês, em velocidade crescente. O fator ocupação agrava ainda mais a situação para os ocupantes e transeuntes, visto o acréscimo de carga e a probabilidade de um colapso global".