Efeitos da tempestade
Sem luz em casa, moradores de Porto Alegre correm a supermercados e shoppings para recarregar celulares
Sem previsão exata para o retorno da energia elétrica, pessoas que seguem às escuras se viram como podem para não ficar incomunicáveis
Na mão esquerda, o celular descarregado. Na direita, uma sacola verde com uma lâmpada de emergência recém-comprada e o celular da esposa, que seria o próximo na fila para ter a bateria recarregada na tomada do Zaffari Menino Deus, em Porto Alegre.
Sem previsão exata para o retorno da energia elétrica, os porto-alegrenses que seguem às escuras após a tempestade que caiu na noite de terça-feira (16) se viram como podem para não ficar incomunicáveis.
— Eu planejei ir na cafeteria, pedir um cafezinho, ficar sentado enquanto o celular carregava, mas ali já está lotado — conta o representante comercial José Luis Bastos, 60 anos, que estava sem energia elétrica em casa havia quase 18 horas na tarde desta quarta-feira (17).
Enquanto Bastos carregava o dispositivo na tomada próxima à porta do mercado, outros clientes pediam licença para utilizar o plugue ao lado. "Essa está estragada", informava prontamente. Ele comenta que se ficasse sem internet perderia os clientes que entram em contato pelo WhatsApp.
Alguns metros à frente, na cafeteria, a advogada Mistica Dal Pozzo e sua vizinha Rejane Karkow dividiam uma mesa com outras duas pessoas para carregarem seus dispositivos móveis. Perspicaz, Mistica levou consigo uma régua com cinco tomadas. Na mesa, o assunto se resumia a uma pergunta: quando a luz vai voltar?
Entre os percalços enfrentados desde a noite de terça, quando a luz foi embora no Menino Deus, um ponto positivo foi destacado pela advogada — o reencontro com o radinho de pilhas, com o qual ela garante ter passado a noite às escuras ouvindo a Rádio Gaúcha.
No Zaffari do bairro Bom Fim, os usuários se sentaram no chão para recarregar os aparelhos. Teve, inclusive, quem levou cadeira para esperar a recarga no estacionamento. Até mesmo as tomadas dos banheiros foram alvo de disputas.
No Zaffari da Rua Fernando Machado, no Centro Histórico, havia fila de espera pelo uso das tomadas. Em um banco próximo aos caixas eletrônicos, três mulheres — entre elas uma idosa e uma gestante — conversavam sobre a falta de luz enquanto esperavam os telefones carregarem.
Próximo à porta, a servidora pública Simone Zaar aguardava, escorada em um pilar, pelo carregamento da bateria de seu celular, acompanhada de Bolota, sua cachorra caramelo. Na parede adjacente, uma sequência de tomadas era disputadíssima entre os clientes que também levaram adaptadores para ampliar a capacidade de recarga.
Movimento intenso em Shoppings
A busca ávida por tomadas também se repetiu em shoppings e outros estabelecimentos da Capital. No Praia de Belas, a movimentação seguiu intensa mesmo após as 22h. No térreo do shopping, onde havia uma cafeteria anteriormente, dezenas de pessoas se reuniram para recarregar seus celulares, tablets e smartwatches.
O tatuador Maikel Freitas, morador do bairro Santa Tereza, foi ao shopping duas vezes nesta quarta-feira. Na primeira vez, ele esteve acompanhado do filho. Ele conta que pela manhã havia apenas algumas pessoas utilizando as tomadas disponíveis pelo chão. Mas à tarde, o próprio shopping disponibilizou réguas para que os clientes pudessem recarregar seus dispositivos.
Quem circulou pelo complexo nesta terça pôde observar durante todo o dia a disposição de extensões e réguas distribuídas em cada canto, pilar ou parede onde houvesse uma tomada. Os conectores dos banheiros também foram utilizados para as recargas.
Moradora da Rua Silveiro, no Menino Deus, a assistente de crédito Daniele Abreu e o sobrinho Davi Abreu encontraram um cantinho na praça de alimentação do Praia de Belas para recarregarem os dispositivos. Daniele conta que desde a noite de terça está sem água e energia elétrica em casa, por isso, apelou ao shopping.
— Eu tenho o meu sogro, que é bem idoso e usa oxigênio, por isso a gente precisa muito do celular, para entrar em contato com a empresa do oxigênio e enfermeiras. A minha colega me mandou uma foto dizendo que estava no shopping Bourbon e as pessoas estavam todas sentadas no chão recarregando os telefones. Daí eu disse para o Davi "vamo" — conta.
Moradores do bairro Santa Tereza, William Branco e Elen de Melo aproveitaram o início da noite para abastecer seus dispositivos eletrônicos no shopping. Com uma régua, além dos celulares, eles também recarregaram uma lâmpada de emergência e um refletor para auxiliar na iluminação da sua residência que está sem luz e água há 24 horas. Enquanto o serviço não for restabelecido, a tendência é de que essa cena se torne recorrente na Capital.