Seu Problema é Nosso
Guerreiros do Tatame oferece aulas gratuitas de caratê para crianças em Canoas
Alunos já ficaram em pódio de campeonato internacional, mas o projeto precisa de ajuda para continuar levando-os a competições
Foco, determinação, disciplina e humildade. São valores desenvolvidos na prática dos esportes e muito valorizados pelo professor de artes marciais Jerri Adriane Navaes dos Santos, 53 anos, que dá aulas de caratê para as crianças do bairro Guajuviras, em Canoas. O Guerreiros do Tatame, como é chamado o projeto, atende crianças de três a 10 anos de forma gratuita.
Em abril, a iniciativa completa uma década. A profissionalização se deu, com o passar dos anos, na medida em que cresceu o interesse de os alunos participarem de campeonatos. Assim, nos últimos anos, os pequenos caratecas do Galpão da Luta – nome da sede do Guerreiros, onde acontecem as aulas – já subiram ao pódio de competições de nível regional e internacional.
Treinamentos
Uma das beneficiadas pelo Guerreiros do Tatame é Millena Ferreira Nunes, 11 anos, que pratica o esporte há dois anos. Nesse período, ela já conquistou o segundo lugar no Campeonato Internacional de Karatê Kyokushin e foi a grande campeã da competição estadual. Ela aceitou o convite de uma prima que já participava do projeto e nunca mais saiu.
– Meu objetivo é continuar competindo. Quando se prepara para as competições, a gente treina com sacos de pancada, faz movimentos em dupla, também tem o preparo físico. O que eu mais gosto de fazer é o kumite (estilo de caratê de combate físico) – conta.
Disciplina
Ela é um dos alunos que o sensei, forma como são chamados os professores de artes marciais, permite continuar tendo aulas mesmo após completar a idade estipulada pelo projeto. A concessão é feita para as crianças que se comprometem a manter a disciplina e querem seguir evoluindo.
– Mas as exigências mudam. Tem aluno que se torna ajudante – esclarece Jerri.
É o que aconteceu, também, com Luís Felipe Nunes da Silva, 11 anos. O carateca entrou no projeto aos quatro anos, quando a mãe ofereceu para ele e o irmão a opção de praticar ou esporte ou dança. Enquanto o irmão foi para a segunda opção, ele optou pelo caratê.
O menino ficou em terceiro lugar no campeonato internacional e, apesar de gostar de ajudar o sensei, quer manter a luta na sua vida como um hobby, não de forma profissional. Ele conta que o esporte o deixou mais forte mentalmente e fisicamente:
– Melhorou minha imunidade. Eu tive derrame pleural (excesso de líquido em volta do pulmão), ficava muito doente sempre. O caratê me ajudou nisso – relata.
Falta de recursos para desenvolvimento
Não são todas as crianças que conseguem aproveitar a chance de disputar medalhas. Isso porque o projeto não tem condições de financiar a participação de todas e os alunos precisam pagar as despesas. Há famílias que não têm condições de arcar com os custos de inscrição, deslocamento e material.
– Eles vêm treinar, se empolgam e, quando chega a hora, não têm verba. Ano passado, nós participamos de um campeonato internacional que aconteceu em Canoas, alguns (alunos) venceram e foram convidados para lutar no Chile, mas não puderam ir por falta de dinheiro – relata o sensei.
A dificuldade se aplica até nos casos em que as competições ocorrem em locais mais próximos. É que os quimonos – roupas usadas pelos lutadores – que as crianças do projeto usam são doados de outras escolas e iniciativas, até mesmo de diferentes modalidades de luta e com o nome das instituições bordado. Desta forma, o grupo não pode usar a roupa em torneios oficiais. Cada peça nova custa em torno de R$ 250. Por essa necessidade de custear o projeto, Jerri recebe doações de quem se solidariza com a iniciativa (para ajudar, confira no quadro abaixo).
Acessibilidade
Nenhum aluno do Galpão da Luta fica desamparado. Durante a pandemia, os treinos passaram a ser realizados de forma on-line para ninguém perder o ritmo. Alguns dos caratecas participaram de um campeonato virtual. Além disso, o projeto recebe, atualmente, 12 crianças com transtorno do espectro autista, que aprendem junto com os outros alunos.
– A gente não separa eles. Tem uma (aluna com autismo) que saiu daqui com faixa azul, outro que hoje é faixa marrom. Como começaram a aparecer essas crianças, eu comecei a ler mais e aprender sobre a adaptação do aluno autista, e foi dando certo – explica Jerri, que está no último semestre da faculdade de Educação Física.
O projeto recebe novos alunos durante todo ano e é aberto para moradores de outros bairros de Canoas.
Galpão da Luta
Guerreiros do Tatame foi o salão do condomínio onde Jerri mora até hoje. Depois, com o aumento da quantidade de alunos, o projeto se mudou para o ginásio de uma escola do bairro. Até que, quatro anos atrás, ele sentiu que era hora de construir a própria sede.
Foi o pai de um dos alunos que vendeu o terreno, localizado na Rua da Acadepol, e permitiu que o professor pagasse em pequenas parcelas. O dinheiro foi arrecadado com a venda de galetos, rifas e a realização de brechós, e custeou, também, os materiais necessários.
– Aí, tinha um pai (de aluno) que trabalhava com construção e pensou no projeto. Não gastamos com mão de obra, as famílias ajudaram a fazer. Ele mede 66 metros quadrados. E é todo de madeira, por isso se chama Galpão da Luta.
Inscrições
/// Para fazer a matrícula no projeto, basta ir ao Galpão da Luta com documento da criança e do responsável. A sede fica na Rua da Acadepol, 5.038, no bairro Guajuviras, em Canoas.
/// As turmas são divididas de acordo com idade, nível de conhecimento e disponibilidade de horários.
/// Doações para o projeto podem ser feita via Pix, pelo CNPJ 51.916471/0001- 85.
/// Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (51) 99951-4498, com Cláudia.
Produção: Caroline Fraga