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Agência da ONU especializada em refugiados de guerra ajuda vítimas da enchente no RS

Missão do Acnur utiliza sua experiência em conflitos internacionais para percorrer abrigos e orienta gestores no Estado

31/05/2024 - 21h38min


Fábio Schaffner
Fábio Schaffner
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Concebido para ajudar desterrados por guerras mundo afora, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) está usando sua experiência em conflitos internacionais para ajudar na acolhida às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Há duas semanas, uma missão da agência percorre abrigos, dando treinamento aos gestores e amparo aos flagelados. 

O objetivo inicial é auxiliar os imigrantes que foram atingidos pelos alagamentos, sobretudo os 43 mil refugiados que vivem atualmente no Estado. Todavia, em cada visita as demandas se sucedem, ampliando a atuação da equipe. 

Ao circular pelo Centro Municipal de Eventos de São Leopoldo, na última terça-feira (21), o grupo discutiu com servidores da prefeitura e do Ministério do Desenvolvimento Social mecanismos para melhorar o atendimento às cerca de 400 pessoas que estão alojadas no local

— Há uma emergência clara e a necessidade de se dar resposta, por isso esse esforço para acolher com dignidade. O que a gente tem feito é verificar como consegue melhorar os padrões de higiene, de proteção — explica Felipe Santoro, especialista em abrigamento. 

No ápice da enxurrada, havia 2,3 mil pessoas no Centro Municipal de Eventos de São Leopoldo, um dos 124 abrigos abertos no município. Muitos venezuelanos expulsos de casa pela água já haviam retornado, enquanto a colônia senegalesa local estava abrigando os próprios compatriotas desalojados. 

Visitando família por família nos cantos do ginásio, a assistente de proteção Joana Cordeiro Lopes deparou com o colombiano Diosnel Jose Vallejo Guarisma, 22 anos. Alojado há três semanas sobre um colchão cercado por caixas de papelão, ele disse ter perdido todos os documentos ao sair de casa com a água na cintura. 

— Saí só com a roupa do corpo. Estou sem trabalho, sem documentos e não quero mais ficar aqui, quero voltar para casa — desabafou Guarisma.

Com delicadeza e falando em espanhol, Joana acalmou o colombiano. Anotou seus dados, prometeu ajuda na interlocução com a Polícia Federal para confecção de novos documentos e no cadastramento do governo federal para obtenção dos benefícios sociais. 

— Muitos não sabem nem que podem acessar o SUS, enfrentam a barreira da linguagem, então a gente traz informação confiável e de qualidade. Tem muita gente ainda com medo do que está por vir, a incerteza sobre o amanhã é muito grande — diz Joana.

Há seis anos atuando na Operação Acolhida, que todo dia recebe cerca de 400 recebe refugiados venezuelanos em Roraima, o Acnur trouxe para o RS utensílios usados na fronteira. Ao menos 16 toneladas já foram despachadas para o Estado, com 5 mil colchões, 2 mil mochilas escolares, além de lâmpadas solares e itens de higiene e limpeza. 

Também estão chegando 208 casas modulares que serão montadas em Canoas. Denominadas unidades habitacionais de socorro, cada módulo tem 18 metros quadrados e abriga até cinco pessoas. Projetadas para o inverno europeu, as estruturas protegem do frio e garantem intimidade para quem hoje está morando no chão frio de um ginásio sem divisórias. 

Segundo a chefe da missão gaúcha, Thaís Menezes, o grupo não tem data para deixar o Estado. Instalados numa sala do Tecnopuc, eles têm mantido reuniões com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social para ajudar na coordenação dos abrigos e no mapeamento das necessidades de cada local de acolhimento.

— Cada vez mais temos agido em crises climáticas, sempre buscando apoiar o poder público, mas esse é o maior desastre em que atuamos. No nosso caso, é um problema que afeta uma população que já é vulnerável, pois está refugiada e buscando integração. O próximo passo será ir nas comunidades que estão fora dos abrigos, na casa de amigos ou parentes, para ver como podemos ajudar — conta Thaís. 

Para facilitar o acesso dos refugiados à ação do Acnur, foi desenvolvido um site com orientações e formas de contato: ajuda.acnur.org.


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