Desde 3 de maio
"Esqueceram da gente": moradores de parte do bairro Mathias Velho, em Canoas, estão há 28 dias fora de casa
Água da enchente segue invadindo residências na área mais baixa
Moradores do bairro Mathias Velho, em Canoas, deixaram suas casas na noite do dia 3 de maio e desde então, vivem na expectativa de poderem retornar para as residências. Famílias vivem há 28 dias em abrigos, casas de amigos ou em habitações alugadas. Nesta sexta-feira (31), partes mais baixas do bairro seguem alagadas.
O acesso ao maior bairro de Canoas está liberado tanto pelo viaduto da Avenida Rio Grande do Sul, quanto pela Rua Florianópolis. Em parte das vias, montanhas de entulho se formam e os carros precisam desviar. Já na parte mais baixa, próximo das ruas Curitiba, Erechim, Santos Dias da Silva e Jaguari, a água segue invadido as residências.
Rodas de moradores se formam nas esquinas, mas é impossível acessar as regiões. Dentro da casa do vendedor Anderson Melo dos Santos, 36 anos, móveis, geladeira e fogão estão boiando. O trabalhador precisou locar um imóvel porque não tem previsão de quando vai poder retornar para sua residência.
— Fiquei de favor na casa de um conhecido, mas não dá para viver assim. Aluguei duas peças para minha família. Não sobrou nada na minha casa e perdi até as coisas de trabalho. Esqueceram da gente. Quando essa água vai baixar? — questiona o morador da Rua Roseli.
Em outro ponto, Douglas de Freitas, 43, aparece no fundo da Rua Santos Dias da Silva. O motorista de ônibus foi olhar sua casa com medo de que o imóvel pudesse ter sido saqueado. Diabético, ele utilizava um macacão de proteção. No entanto, orienta os demais vizinhos a não entrarem na água já que o nível ultrapassava a cintura.
— O telhado da casa caiu e as madeiras estão podres. A gente já perdeu tudo, mas tem a esperança de recuperar algumas coisas. Está tudo em baixo d'água, mas está tudo lá. O que está acontecendo é um descaso. Vão esperar a população tirar essa água de balde? — disse o motorista que está abrigado na casa de conhecidos.
Acolhida em uma igreja, Elisete Morais, 53, aguardava a filha retornar da tentativa de acessar a casa. Moradora da Rua Theodoro da Fonseca há mais de 40 anos, ela não sabe se sua residência ainda está de pé:
— Minha casinha é de madeira. Não sei nem se eu tenho casa ainda. Não tenho palavras para falar, mas dói ter que começar tudo do zero. Se tira força só de Deus.
De acordo com a prefeitura de Canoas, um motor opera na casa de bombas 7 e outros três, na casa 8. Ambos os locais ficam no bairro Mathias Velho. Além disso, 10 equipamentos auxiliares ajudam na drenagem da região. No entanto, bolsões de água ainda podem persistir.