Piquetchê do DG
Músicos gaúchos gravam canção inspirada no cavalo Caramelo; ouça
Canção “Visões de um Quadro Incoerente” representa a pintura do animal no telhado e a necessidade de intensificar os cuidados com a natureza
Jaguarão, Porto Alegre e Canoas. A união de artistas que moram nessas três cidades, a partir do quadro que retrata o cavalo Caramelo em cima do telhado, gerou uma música que representa a urgência em cuidarmos da natureza.
Com letra composta pelos poetas Martim César, 56 anos, e Diego Müller, 42 anos, e melodia e interpretação por conta do aposentado e cantor tradicionalista Marco Aurélio Vasconcellos, de 84 anos, a canção Visões de um Quadro Incoerente já está disponível no Spotify e YouTube para ser ouvida. O resgate do cavalo em cima de uma casa em Canoas mobilizou o país e deixou Martim e Diego inspirados para escrever a letra a quatro mãos.
— Sempre fazemos assim: ou eu mando um tema para ele ou ele manda para mim. E aí, um termina para o outro e depois a gente revisa juntos. Então, o refrão foi do Martim, eu complementei, ele deu uma trabalhada novamente e a gente acabou fazendo juntos via WhatsApp — descreve Diego.
Depois da letra ter ficado pronta, Martim compartilhou a poesia com seu amigo de longa data Marco Aurélio. Para o poeta, ele é o “é um dos maiores cantores históricos do nosso Estado”. O cantor adorou a letra e perguntou se poderia criar a melodia:
— Quando eu recebi a letra, não foi com o objetivo de melodia-la. A intenção dos letristas foi transmitir para as pessoas aquele quadro inusitado. E eu fiquei encantado. Aí eu fiz em seguida — conta Marco Aurélio.
O cantor, então, enviou a melodia para o arranjador Maurício Marques, que organizou a estrutura da canção. Após isso, contatou um estúdio em Osório, onde ele está hospedado no momento, e gravou a música.
— Sendo conhecedor de um excelente estúdio aqui em Osório, eu mandei para eles, que fizeram toda a preparação para eu colocar a voz. Coloquei a voz no arranjo do Maurício Marques. E é isso que está sendo veiculado intensamente — relata Marco Aurélio.
Emoção na escrita e na interpretação da letra
A emoção é um sentimento que circundou a escrita da letra e a interpretação da canção. Para os artistas, poder utilizar a arte tradicionalista para voltar os olhos do mundo para o que está acontecendo no Rio Grande do Sul é uma forma de ajudar a comunidade.
— Quando a gente vê essas imagens de tragédia são como metáforas do que estamos vivendo. Então, a gente transforma no que podemos colaborar, que é com a nossa poesia — explica Martim.
A letra serve como um apelo para passarmos a cuidar do meio ambiente: a poesia passeia pelas cenas que compõem a catástrofe ambiental que assola o Estado, e faz questionamentos e críticas acerca da responsabilidade humana em meio ao caos, já que “é a mãe natureza que está mandando um recado”.
— Eu acho que a gente tem que pensar que a única forma de termos um futuro é cuidando da nossa única casa, que é a nossa terra. E nisso o Rio Grande do Sul, que tanto ama a terra, é fundamental. E na voz de seus artistas, principalmente — finaliza Martim.
Como ouvir
/// A canção está disponível no Spotify. Para ouvi-la, clique neste link ou dê o play abaixo.
/// Também é possível ouvir o trabalho no YouTube, neste link ou dê o play abaixo.
Confira a composição completa
Visões de um Quadro Incoerente
Um cavalo no telhado...
Pergunta que nos invade:
O erro está nesse quadro
Ou talvez na humanidade?
Quem olha não acredita
Nessa visão incoerente
Mas a descrença do crente
Não vê no cavalo ilhado
Algo mais que só um quadro
Tão triste em sua beleza...
Não crê que é a mãe-natureza
Que está mandando um recado
Pois quem destrói a floresta
Quem corta as matas ciliares
Quem suja os rios e os mares
Quem tira a Terra dos trilhos
Está apertando o gatilho
Que mata a própria esperança
Pois vai deixar como herança
Tão só um deserto a seus filhos
Um cavalo no telhado...
Pergunta que nos invade
O erro está nesse quadro
Ou talvez humanidade?
Quem olha não acredita
Em tanta casa invadida
Pelas águas, consumidas
Na força brutal dos rios
Tempo de dor, desvario
Cobrando a conta do homem
De um ser que a tudo consome
Em meio a pratos vazios
Muito anda acontecendo
Num mundo que era normal
Mas quem planta o próprio mal
Colhe o mal, logo ali em frente
A natureza não mente
E nos avisa - em alarde -
Que o amanhã já será tarde
Pra quem não cuida o presente.
Letra: Martim César e Diego Müller; Melodia e voz: Marco Aurélio Vasconcellos; Arranjo, violão e baixo: Mauricio Marques
*Produção: Elisa Heinski