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Prédio histórico

Marco da imigração alemã, Casa do Imigrante passará por restauração em São Leopoldo

Construção com mais de 200 anos foi habitada por escravos e imigrantes, mas acabou abandonada. Parte desmoronou em 2019. Agora, no ano em que se comemora o bicentenário da imigração alemã no país, local foi contemplado por projeto de restauração do governo estadual

16/07/2024 - 05h00min

Atualizada em: 16/07/2024 - 05h00min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Um marco da imigração alemã no Brasil fica em São Leopoldo, no Vale do Sinos. Instalada no bairro Feitoria, a Casa da Feitoria ou Casa do Imigrante é uma construção que foi abrigo dos primeiros alemães convidados pelo Império a fazerem sua morada no Brasil — isto em 1824

O local que estava abandonado há alguns anos deve ganhar contornos restaurados. Isso porque a prefeitura da cidade e o governo estadual estão assinando um convênio para restauração do espaço.

Em 2024, a imigração alemã no país completa 200 anos. Esse marco vem da ocupação da casa pelo alemães há dois séculos. Enquanto esperavam pelas terras que seriam distribuídas, os homens e mulheres vindos do Velho Continente ficaram hospedados no pequeno galpão

Mas antes mesmo disso, na década de 1790, o local já era usado pela Coroa, por meio da Real Feitoria do Linho-Cânhamo. Ficavam no espaço os teares usados na confecção dos tecidos produzidos a partir da planta que dava nome à feitoria. Neste período, pessoas escravizadas eram exploradas e usadas como mão de obra no local, enquanto portugueses geriam o espaço.

— Por isso, é importante que se ressalte a diversidade histórica do prédio. Tem o aspecto da imigração alemã, mas também tem outros fatos históricos anteriores neste mesmo terreno — relata Ana Lúcia Goelzer Meira, arquiteta e professora da Unisinos.

Ressaltar o valor da estrutura, entretanto, não vinha entrando nos planos do poder público há alguns anos. A casa já estava fechada e sem manutenção há algum tempo quando, em 2019, um desabamento atingiu parte da estrutura

Desde então, quase seis anos depois, tudo segue como no dia do acidente. A exceção é o mato que cresce na área e a degradação que agora também atinge a parte interior, afetada pelo desabamento. Quem circula pela região vê com tristeza os impactos deixados pelo tempo em um espaço tão rico em história e que não recebe a devida atenção

— É uma pena, um marco histórico da cidade assim. Com frequência tem gente que vem tentar visitar, turmas de escola que aparecem. Mas neste estado é até arriscado chegar perto — conta o vigilante Irio Rodrigues, 60 anos, todos vividos em São Léo.

Já vi gente chegar aqui depois de ligar para prefeitura e ouvir que podia visitar. Mas aí, não tem ninguém para receber, a pessoa acaba indo embora — conta um comerciante local, que prefere não se identificar.

Projeto ainda não saiu do papel  

Mesmo com promessas de uma restauração ao longo dos últimos anos por parte de prefeitura de São Leopoldo, nenhum projeto saiu do papel. Entretanto, com as comemorações do bicentenário da imigração em 2024, a possibilidade de restauração volta à pauta e deve ocorrer

Isso porque o projeto de restauração está entre os selecionados pelo programa Iconicidades, do governo estadual. Atualmente, os impasses são burocráticos, tratando-se apena do aguardo de assinaturas, como explica Marcel Frison, secretário de Cultura e Relações Internacionais de São Leopoldo, e coordenador das comemorações do bicentenário da imigração na cidade.

— O projeto está pronto e entregue ao governo estadual e ao município. A prefeitura, desde o ano passado, captou junto à Caixa Econômica Federal (CEF) os recursos necessários para execução das obras de restauro. São cerca de R$ 5 milhões. A prefeitura já assinou e encaminhou para o Estado, que deve assinar em breve — projeta Marcel.

Segundo o secretário, a enchente de maio não afetou o projeto nem o andamento da seleção no Iconicidades. A ideia é que, após as assinaturas, seja lançada a licitação que escolherá o responsável por fazer a restauração. 

— Acredito que em três meses teremos o resultado da licitação e poderemos iniciar a obra de restauro — explica o titular da pasta municipal de Cultura e Relações Internacionais.

Estado vai assinar convênio

A reportagem procurou o Escritório Desenvolvimento de Projetos (EDP) do governo estadual. Segundo o órgão, "a Casa da Feitoria/Museu do Imigrante foi um dos cinco objetos selecionados na primeira fase do projeto Iconicidades em 2021". 

Desde então, o projeto passou diversas etapas, como abertura de concurso público para empresas apresentarem seus planos de restauração, habilitação e contratação da empresa vencedora

Ao longo do ano passado, a empresa vencedora desenvolveu os projetos, "que passaram por sucessivas análises técnicas por um grupo de trabalho composto por Secretaria de Obras (SOP), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAE) e prefeitura de São Leopoldo, além de Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) e do próprio EDP", diz a nota do escritório enviada ao DG. 

Em fevereiro de 2024, por fim, "as devidas aprovações legais (municipais, PPCI etc.) foram todas concedidas". 

Mas então o que falta para os trabalhos serem executados? Agora, segundo o EDP, "os trâmites para a assinatura já estão em curso" por parte do governo estadual.


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