Impacto social
"É uma celebração da nossa presença e do nosso cuidado com a saúde", diz participante do Coletivo Corre Preto
Primeira corrida do projeto ocorre no dia 31 de agosto e já conta com mais de 250 inscritos
— A gente existindo é a maior forma de combater o racismo.
A afirmação é de Monique Machado, 30 anos, uma das coordenadoras do Coletivo Corre Preto, projeto que encontrou na prática esportiva uma forma de reunir pessoas pretas e pardas para se fortalecerem coletivamente. O primeiro encontro ocorre neste sábado. O ponto de partida será o Anfiteatro Pôr do Sol, no Trecho 2 da Orla, a partir das 9h. Os interessados devem preencher um formulário que está disponível na página do Instagram @coletivocorrepreto.
A iniciativa nasce com o objetivo de potencializar o debate sobre a prática de atividade física para as pessoas negras, que, muitas vezes, é de difícil acesso visto os fatores que as atingem: a jornada de trabalho dupla, o racismo e outras formas de preconceitos velados. Assim, o intuito é estimular, pelo viés da corrida, um sentimento de pertencimento entre os seus semelhantes por meio da prática de atividade física.
O Coletivo Corre Preto é uma iniciativa organizada pelo bombeiro militar Vitor Hugo Silva de Oliveira, 30 anos, e por Rodrigo Peres, 31 anos, graduando em Educação Física, que tem o propósito de reunir pessoas pretas para correr. No ano passado, foram realizados três encontros, mas o projeto acabou sendo suspenso. Agora, em 2024, o coletivo volta com força e novos integrantes: Monique Machado, Nicole Mengue e Denison Fagundes, diretor de criação e fotógrafo.
Os encontros serão mensais até o final do ano. Para os próximos, serão pensadas outras atividades que agreguem ao projeto, além de diferentes locais em comunidades para abranger públicos mais periféricos. A corrida já conta com mais de 250 inscritos.
Transformação social
Psicóloga clínica e criadora de conteúdo digital, Monique Machado trabalha há alguns anos com foco na saúde mental da população negra. Em suas redes sociais, ela aborda as dificuldades enfrentadas pela comunidade para acessar os cuidados de que precisam.
— Infelizmente, há um número expressivo de pessoas negras sedentárias, com uma má alimentação, ou até mesmo com doenças relacionadas à falta de atividade física. Além da vulnerabilidade social e o racismo, que fazem com que elas adoeçam ainda mais — reitera a psicóloga.
O quinteto acredita que a corrida é uma prática com potencial de colaborar com o não adoecimento de pessoas pretas, por ser uma atividade física mais acessível. Com a experiência de Rodrigo, que está se formando na área, haverá um acompanhamento antes do início da corrida, para auxiliar no aquecimento e no alongamento dos participantes.
Nicole, 27 anos, que é formada em Administração e trabalha na área de marketing e comunicação, se juntou ao grupo como uma das coordenadoras. Por ter experiência nesse ramo, juntamente com Monique, ela auxilia principalmente na divulgação e fortalecimento da iniciativa nas redes sociais, além de ser uma entusiasta na corrida.
— Eu já corro na Orla e percebi que é um espaço em que há mais pessoas brancas, pois geralmente elas possuem mais tempo para se dedicar para isso — relata Nicole.
O projeto é destinado para pessoas pretas e pardas, e visa promover a transformação social por meio da corrida, incentivando as pessoas a se movimentar e ocupar lugares que geralmente são mais elitizados.
— Muitas vezes, a gente participa de alguns lugares, se vê sozinho e passa a não ser tão acolhedor. Por que não usar a atividade física para estar entre os nossos e mudar algumas estatísticas, como a saúde da população negra? — questiona Nicole.
Não requer experiência
Os organizadores afirmam que não é necessário ter experiência para participar do encontro.
— Vai ter gente caminhando, vai ter gente que vai fazer 3km, 5km. No Coletivo Corre Preto, todos serão acolhidos e atendidos — destaca Monique.
Dolores Teresinha, 58 anos, é advogada e estará presente no dia 31 de agosto. A prática de exercício físico mudou sua vida. Em 2022, ela corria 200 metros, e hoje, sabendo da sua capacidade, consegue alcançar 13 quilômetros.
— Aprendi que a corrida é democrática e acessível a todos, gordos, magros, jovens, idosos, e que tudo se resume a treino e dedicação — reflete Dolores.
A advogada reconhece a importância do Corre Preto como uma oportunidade de unir pessoas pretas e pardas, enfatizando a importância de cuidarmos da nossa saúde:
— O Corre Preto é uma celebração da nossa presença e do nosso cuidado com a saúde. Estamos aqui para mostrar que a corrida é para todos e que nossa inclusão é essencial.
Produção: Ana Júlia dos Santos