Quadrilátero Central
Bloqueada por obras, Esquina Democrática é espaço tradicional ausente na campanha eleitoral de Porto Alegre
Cruzamento entre Rua da Praia e Avenida Borges de Medeiros consolidou-se, ao longo dos anos, como cenário de mobilizações e transformações sociais, mas está fechado para intervenção urbanística até o final do ano
Palco de atos políticos e mobilizações coletivas marcantes para a história do Estado e do país, a Esquina Democrática não estará acessível aos candidatos durante a campanha eleitoral deste ano. O cruzamento entre a Rua da Praia e a Avenida Borges de Medeiros, componente de jornadas pela redemocratização e pelo direito ao voto direto no Brasil, passa por obras integrantes do projeto de revitalização do Quadrilátero Central.
Conforme a Secretaria de Obras e Infraestrutura da Capital, a conclusão, que originalmente esteve projetada para ocorrer no ano passado, agora está prevista para o final deste ano, sem uma data especificamente definida. O custo global da obra de revitalização, inicialmente estipulado em cerca R$ 16 milhões, tem valor atualizado para R$ 23 milhões.
"A Borges foi o último trecho a entrar em obras (...). Está sendo executado um projeto arquitetônico e entre as melhorias, está uma melhora na caminhabilidade, na mobilidade e na acessibilidade daquele trecho. A obra teve de ser adiada por conta da cheia de maio, que assolou 85% do nosso Estado. Não fosse isso, ela já estaria concluída", argumenta o órgão da prefeitura.
O cenário atualmente observado demonstra um trabalho intenso de operários e máquinas. Tapumes atravessam a Borges, cortando a Rua dos Andradas na linha de seu calçadão. Pedestres podem caminhar pelo contorno do canteiro, próximo à pedra memorial sobre a morte do policial militar Valdeci de Abreu Lopes, degolado por um golpe de foice, em episódio trágico durante ato do Movimento Diretas Já, em 1990.
— É uma obra importante para o Centro, mas está muito demorada. A gente convive com esta mudança, o barulho e o efeito sobre a mobilidade e o comércio faz quase dois anos — aponta o corretor de imóveis Márcio Gouvêa, 53 anos, morador do bairro Sarandi e trabalhador em empresa com sede na Rua da Praia.
Ao lado de uma das faces de tapume, a banca de pães de queijo evidencia o impacto da intervenção, buscando adaptar a atividade ao cenário. Com quase 20 anos de vendas na Esquina Democrática, Jaimara Gattermann, 52, afirma que não percebe prejuízos, principalmente porque observa as alterações no fluxo dos caminhantes, mantendo-se na rota daqueles que podem se tornar seus clientes.
— A chuva e o final de mês espantam mais consumidores do que a obra — descreve, em tom bem-humorado.
O impacto da interferência na circulação sobre o calçamento ressona na amplitude dos prédios que emolduram a Democrática. Num deles, onde funciona academia de ginástica para idosos, trabalhadores percebem a redução na frequência de seu público.
— A gente nota que menos alunos vêm quando há esta agitação. Atrapalha neste momento, mas traz uma expectativa positiva para quando a obra estiver pronta — analisa o educador físico André Rodrigues, 35.
O porto-alegrense reconhece a esquina onde trabalha como uma referência para a atividade política na cidade.
— Em época de eleições, a vida fica intensa nesse ponto do Centro — comenta.
Diante da indisponibilidade do espaço tradicional para a atual corrida eleitoral, a Secretaria de Obras sustenta que o projeto está em sua fase final.
"Uma nova paralisação causaria também prejuízo financeiro ao contrato e à administração, além dos inconvenientes ao setor produtivo e as pessoas que ali transitam. Entendemos que a Esquina Democrática é um importante ponto histórico para a política, mas há também que se considerar o beneficio para a cidade e sua história de que a obra finalize o quão antes possível", pontua texto remetido à reportagem.