Peso no bolso
Com passagens aéreas mais caras, Grande Porto Alegre registra maior inflação do país em agosto
Mesmo com desaceleração, a Região Metropolitana anotou alta de 0,18% no IPCA no oitavo mês do ano, segundo o IBGE
A região metropolitana de Porto Alegre voltou a apresentar avanço nos preços. Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, ficou em 0,18% na Grande Porto Alegre. Essa é a maior elevação registrada entre as unidades regionais pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no mês. O dado foi divulgado na manhã desta terça-feira (10). Mesmo ainda no campo de alta, o IPCA mostra desaceleração ante julho (0,36%), atingindo a metade do patamar observado na época.
O dado do IPCA mostra que o item com maior variação percentual nos preços em agosto na Região Metropolitana foi passagens aéreas (21,59%). A elevação ocorre em um contexto onde o aeroporto Salgado Filho, terminal mais importante do Estado, segue sem pousos e decolagens desde a enchente de maio.
Seis dos nove grandes grupos pesquisados apresentaram alta em agosto na Grande Porto Alegre: Transportes (0,95%), Artigos de residência (0,92%) e Educação (0,73%) registraram os maiores avanços. Na outra ponta, alimentação e bebidas, comunicação e habitação tiveram queda.
Nos transportes, além das passagens aéreas, gasolina também afetou o grupo, com aumento de 0,94% e impacto de 0,06 ponto percentual para o IPCA do mês.
Nos Artigos de residência, os itens de mobiliário (2,41%) registraram a principal alta, seguidos de utensílios e enfeites (1,63%) e dos aparelhos eletrônicos (0,33%).
Já na educação, os cursos regulares tiveram variação de 0,59% e 0,04 ponto percentual, com maior variação mensal nos cursos diversos (2,00%), como o de idiomas (4,39%).
O professor da Escola de Negócios da PUCRS Gustavo Inácio de Moraes afirma que os efeitos da inundação na infraestrutura do Estado estão entre os principais fatores que ajudam a explicar a pressão sobre o ramo de transporte:
— Nós ainda estamos saindo de um processo traumático e temos, principalmente, a interrupção ainda de várias vias e de várias infraestruturas de transporte. É isso que está causando, essencialmente, a aceleração nos preços de transporte.
No âmbito dos artigos de residência, Moraes afirma que o aumento na busca por utensílios domésticos em razão dos estragos causados pela enchente tem peso na inflação desse setor.
No ano, a Região Metropolitana acumula alta de 2,46%. Já no agregado de 12 meses o índice está em 3,47%.
País
O resultado da Grande Porto Alegre ocorre na contramão do país. O IPCA foi de –0,02% em agosto no Brasil — abaixo da taxa de julho, quando ficou em 0,38%. É a primeira deflação do ano no Brasil, conforme dados do IBGE.
No ano, o IPCA acumula alta de 2,85%. Nos últimos 12 meses, de 4,24%, abaixo dos 4,5% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em agosto de 2023, a variação havia sido de 0,23%.
O professor da Escola de Negócios da PUCRS afirma que a deflação e o crescimento econômico registrados atualmente são notícias positivas. No entanto, afirma que ainda existem problemas no radar, como recrudescimento de alta nos preços de energia:
— Existem alguns riscos à frente, principalmente, relacionados ao setor de energia. A gente tem a entrada da bandeira vermelha nesse mês de setembro e isso vai impactar.
Moraes afirma que, como a inflação não descola das metas previstas, a autoridade monetária nacional segue pressionada, em um ambiente onde crescem as projeções por novas altas na Selic:
— Os 4,24% que nós temos na variação 12 meses ainda está muito próximo do teto das metas de inflação. Isso ainda faz, apesar do resultado positivo, com que a política de juro, a definição da selic, ainda esteja pressionada por essa aproximação com a meta. Nós ainda enxergamos a política monetária pressionada para os próximos meses.