Expressão do tradicionalismo
Maçanico, chico sapateado e chimarrita: a dança mora no coração dos gaúchos
Cultura por meio da prática se manifesta no dia a dia dos CTGs e em disputadas competições oficiais, dentro e fora do Estado
Maçanico, quero-mana, sarrabalho, chico sapateado, chimarrita balão, xote de carreirinha. Talvez nem todo mundo conheça esses nomes, mas, possivelmente, já tenha assistido a apresentações de dança que traziam os ritmos citados, seja em atividades nos CTGs ou em competições Estado afora.
— Através da dança, transmitimos a beleza da cultura gaúcha. A leveza do sarandeio da prenda, a força e a garra do sapateio do peão que, ao mesmo tempo, executa a mesma dança com uma delicadeza ímpar com a sua parceira de dança. A simplicidade e o galanteio, a demonstração de amor e a dedicação ao executarem cada passo. Dançar é vida, é levar aos palcos a alegria de ser gaúcho — comenta Vera Lúcia Menna Barreto, patrona dos Festejos Farroupilhas de Porto Alegre 2024 por sua trajetória de dedicação ao tradicionalismo.
Rotina
Parte fundamental para a expressão das tradições, as competições de danças ocorrem em reuniões, como o Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (Enart), o principal do segmento, e em rodeios, principalmente. Cada modalidade tem suas características próprias e exige habilidades específicas, como interpretação, desenvoltura e harmonia em conjunto.
Duas vezes campeão do Enart (2016 e 2019) e vice em outras oportunidades, o dançarino, ensaiador e coreógrafo Duda Freitas integra o grupo do CTG Tiarayú, em Porto Alegre, reunindo cerca de 40 membros. Sua inspiração veio de dentro de casa: seus pais dançam na categoria Xiru, acima de 40 anos.
— Nosso grupo adulto de dança é de alta performance. Para atingir o padrão para nível de competição leva tempo. Mas, com dedicação, tudo é possível — assegura, destacando a vitória recente no M’bororé, título conquistado pelo coletivo no Sarau de Arte Gaúcha, competição de rodeio sediada em Campo Bom.
Momento especial
O momento teve significado especial pela retomada após período da enchente, no qual não foi possível prosseguir com a agenda de ensaios prevista.
— Devido às chuvas, fomos obrigados a ficar um mês sem ensaiar. Nosso CTG fica na zona norte de Porto Alegre e temos dançarinos de Canoas e do Vale do Sinos, muitos dos quais tiveram suas casas atingidas, inclusive eu. Nosso espaço virou um ponto de coleta. O galpão e o salão estavam cheios de doações, roupas, comida e água. Não havia clima nem condições para ensaios — relembra.
Para além do Rio Grande do Sul, o grupo representou o Estado em eventos nacionais e internacionais. Na década de 1990, uma caravana viajou pelo norte e nordeste do Brasil, apresentando-se em palcos como o Teatro Castro Alves, em Salvador, e na Feira da Providência, em Belém, no Pará. Fora do país, estiveram nas cidades de Durazno e Canelones, no Uruguai.
A dança gaúcha tem um significado grande para mim, é onde coloco meu sentimento, minha alma e consigo expressar o que ela me transmite
DUDA FREITAS
sobre a dança tradicionalista.
Enart confirmado
Com a retomada do calendário, a edição deste ano do Enart, considerado o maior festival de arte amadora da América Latina, está confirmada para novembro, em Santa Cruz do Sul.
— O conceito do Enart é muito semelhante ao do Carnaval. Todo o ano, monta-se um enredo, um contexto e se apresenta uma coreografia de entrada e uma de saída. Ano passado, homenageamos Jayme Caetano Braun em alusão ao seu centenário. Em 2022, nosso tema foi sobre Sepé Tiaraju — explica Duda.
Já o grupo do CTG Campo dos Bugres, de Caxias do Sul, optou por falar sobre a história dos italianos no Rio Grande do Sul no ano passado e já prepara novidades para novembro. O coletivo é composto por um instrutor, um coordenador, 24 dançarinos e quatro ensaiadores, entre as quais está Camila Salles Moccelin.
— Participo desde os meus 18 anos. São pessoas que não convivo somente no final de semana. A maioria faz parte do meu dia a dia e são irmãos que tenho o prazer em ter ao meu lado, não somente em momentos bons mas, principalmente, nos ruins. Estamos trabalhando bastante esse ano para alcançar nossos objetivos. No Enart, mostramos o nosso trabalho do ano inteiro, não só para o festival, mas para outros públicos também. O CTG é minha segunda casa — comenta.
Ao final das apresentações, um corpo multidisciplinar de jurados define os vencedores. No Enart e fora dele, a dança e suas vertentes fazem vibrar o tradicionalismo nos espaços dos CTGs e da cultura gaúcha durante todo o ano.
*Produção: Padrinho Conteúdo