A escadaria da Rua 24 de Maio, que conecta a Rua Duque de Caxias com a Avenida André da Rocha, em Porto Alegre, necessita de reparos. As cantoneiras (perfis metálicos da borda dos degraus) exibem ferrugem, têm partes soltas e oferecem riscos para os pedestres. Os corrimões dos guarda-corpos precisam de pintura e os suportes apresentam oxidação. As lajotas do piso estão soltas em diversos pontos. 

O logradouro liga o Centro Histórico à Cidade Baixa. Trata-se de uma conexão para os pedestres entre as partes alta e baixa da região. Além disso, o trecho da escadaria conta com casas e edifícios nos dois lados da via, sendo uma área residencial. De acordo com a Associação dos Amigos da 24 de Maio e Adjacências (Amivi), a última revitalização da escadaria ocorreu em 2007.

Aos 82 anos, Eva Marlete Campos preside a Amivi e, aos sábados, das 10h às 15h, promove uma feira de troca e doação de livros na escadaria. Moradora do lugar desde 1978, compartilha o que percebe de problemas. 

— Na parte que compete à prefeitura, (falta) a conservação do gradil das laterais da escadaria. E o piso está estragado, deve ser retirado e recolocado — sinaliza. 

O vice-presidente da entidade, Pércio de Moraes Branco, 77, relata que a última revitalização contou com o apoio da Associação de Moradores do Centro. Na ocasião, foram instalados corrimões ao longo da escadaria, nova iluminação, canteiros e drenagem. Morador da rua há 42 anos, o geólogo tem uma sugestão para a escadaria receber manutenção periódica e adequada:

— A criação da figura do prefeito de praça foi uma feliz iniciativa da atual administração do município. Os prefeitos têm participado muito da busca de soluções para os problemas dos logradouros. Por isso, e pelas características da escadaria da Rua 24 de Maio, a prefeitura deveria considerar este logradouro também uma praça.

Os moradores do entorno da escadaria também reclamam de pessoas que descem os degraus com bicicletas. Uma placa na Rua Duque de Caxias proíbe tal prática, que além de oferecer riscos para as pessoas ainda causa mais danos à estrutura do piso da escadaria. 

O aposentado Daniel Campos da Silveira, 66, diz que vive há cerca de 20 anos na Rua 24 de Maio.

— Entre as coisas que os candidatos a prefeito estão prometendo na campanha poderiam incluir a escadaria — pensa. 

Atração turística 

A intervenção mais recente no espaço data de dezembro de 2011, quando a artista plástica Clarissa Motta Nunes, 52, com auxílio de sete pedreiros, colou mais de 3 mil azulejos coloridos nos degraus em iniciativa do Projeto Artemosfera. A intervenção urbana deu um ar artístico ao local. Desde então, a escadaria se tornou ponto de visitação de turistas. 

Vocês não imaginam o que vem de gente de fora fazer fotos de casamentos, formaturas e festas de 15 anos aqui.

EVA MARLETE CAMPOS

Presidente da Amivi

Treze anos depois, contudo, o cenário de falta de manutenção preocupa. 

— A minha arte foi elaborada em cima do espaço disponível nos espelhos da escada. Era o espaço entre o ferro da quina do degrau e a base. O ferro, que é obra da prefeitura, corrói. Neste jogo dele, machuca o azulejo — analisa Clarissa, que ganhou uma placa de agradecimento no início da escadaria na Rua André da Rocha, em 2013.

Nesta quarta-feira (23), a reportagem de Zero Hora percorreu os 123 degraus. Foi possível perceber uma série de azulejos soltos, outros com danos e até alguns descolados. Os degraus do início da escadaria, próximos à André da Rocha, apresentam mais sinais de deterioração do que os situados na parte alta.

A artista explica que se responsabilizou por substituir os azulejos perdidos ou estragados. Entretanto, conta que o investimento de restauro não vale a pena enquanto a escadaria não tiver sua estrutura revitalizada.

A minha ideia era que a escadaria pudesse ser adotada por alguma empresa que mantivesse essas características.

CLARISSA MOTTA NUNES

Artista plástica

O que diz a prefeitura

A reportagem de Zero Hora questionou a prefeitura de Porto Alegre sobre os planos de revitalização da escadaria da Rua 24 de Maio. 

A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi) afirmou que não tem planos para o local, assim como a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (Smcec). 

Por sua vez, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) disse que realiza "manutenções de rotina na escadaria da Rua 24 de Maio".