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Temperaturas elevadas

Ilhas de calor no centro de Porto Alegre registram 54ºC nesta segunda-feira  

Índice de umidade relativa do ar no Largo Glênio Peres durante a manhã estava em 46%. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda percentuais entre 50% e 60%

11/02/2025 - 10h44min


Jean Peixoto
Jean Peixoto
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Camila Hermes / Agencia RBS
Calçadão do Largo Glênio Peres registrou 54ºC na manhã desta segunda-feira (10).

Os termômetros registraram temperaturas na faixa dos 34ºC na manhã desta segunda-feira (10) em Porto Alegre. Contudo, entre pontos mais arborizados e outros recobertos por concreto a diferença de temperaturas chegava a 20ºC, devido à formação das chamadas “ilhas de calor”. Em pontos da região central foram registrados 54ºC.

A reportagem de Zero Hora acompanhou, durante a manhã, o professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Brack, e o técnico ambiental Emerson Prates, ambos membros do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), que realizaram medições em dois pontos da Capital.

Brack explica que as “ilhas de calor” são decorrentes da ausência de vegetação, em contraste com a presença massiva de concreto em superfícies que absorvem a luz do sol, seja em asfalto, cimento ou outros tipos de construções.

— Essa absorção do calor se projeta na temperatura, seja da superfície ou, depois, da atmosfera — diz o biólogo.

Com a ajuda de um termômetro industrial, o professor iniciou as medições em uma área recoberta por grama sob a sombra das árvores do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Parque Harmonia). No sol, a temperatura já chegava a 33ºC por volta de 10h30min, na medição realizada em uma altura média do corpo humano. Na sombra, entretanto, a temperatura registrada foi de 26ºC.

Alguns metros à frente, na esplanada central do parque, em uma área pavimentada com blocos intertravados de concreto, sem árvores, a temperatura saltou para 50ºC na medição próxima ao chão. Mais à frente, em um trecho recoberto com fresado de asfalto — pequenas pedras escuras granuladas — a temperatura chegou a 54ºC. Na terça-feira da semana passada (4), data em que o RS bateu recorde de calor, o professor esteve no parque por volta das 13h e registrou temperatura superior aos 62ºC.

— A redução da vegetação provoca o aumento da temperatura e diminuição da umidade relativa do ar. Essa diminuição pode ter como consequência doenças respiratórias e problemas cardíacos — diz o professor.

Corte de árvores

O professor lembrou que, em julho de 2023, houve grande mobilização por parte de ambientalistas em razão da retirada de 103 árvores do Harmonia. À época, o tema foi alvo de protestos, mobilizações na Câmara de Vereadores e de ações judiciais. Ele comenta que nas áreas onde hoje há pavimentos, os pássaros, como quero-queros, que habitavam o parque, já não conseguem caminhar sobre o piso durante o dia devido às elevadas temperaturas.

O professor também explica que as árvores ajudam a reduzir a temperatura do ambiente e que a derrubada delas pode intensificar o aquecimento da cidade.

— As plantas têm as suas raízes lá no fundo, onde elas vão buscar a umidade que tem no lençol freático. Após buscar essa umidade, elas vão bombear através da chamada evapotranspiração e essa umidade que elas estão exalando, estão liberando, para nós vai ser importante — pontua.

Centro Histórico

No Largo Glênio Peres, na lateral do Mercado Público, no Centro Histórico, a temperatura, na altura do corpo, chegou a 34ºC por volta de 11h. Área de grande circulação de pessoas, com diferentes tipos de pavimentos, o largo também constitui uma ilha de calor no coração da Capital.

O índice de umidade relativa do ar no ponto turístico ficou em 46%. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda percentuais entre 50% e 60%. Acima ou abaixo disso, a umidade pode oferecer riscos à saúde e aos bens materiais.

Na área de ladrilhos da via, a temperatura oscilou entre 49ºC e 54ºC nesta manhã. Já na lateral do chalé da Praça XV, sob a sombra das árvores existentes no local, a temperatura caiu para 29ºC.

— Além das ilhas de calor, se não nos dermos conta de que temos que revegetar a cidade, o aumento dessas áreas urbanas de cimento vai trazer também áreas com menor umidade relativa do ar, o que vai trazer prejuízos à nossa saúde.

Onda de calor

De acordo com a Climatempo, a onda de calor deve persistir influenciando na elevação das temperaturas em todas as regiões do Estado pelo menos até a quarta-feira (12).

Nesta terça-feira (11), a condição de calor intenso persiste durante o dia em todo RS. Contudo, a aproximação de uma nova frente fria sobre o oceano deverá estimular o retorno da instabilidade, especialmente no sul e leste gaúcho. Chuvas mais expressivas podem ocorrer na região da Campanha e no Extremo Sul, com eventuais temporais localizados, com ventos, raios e até granizo.

A tendência é que essa frente fria avance na quarta-feira (12), ampliando as áreas de chuva. Poderá ocorrer precipitações na metade Sul e na Fronteira Oeste, com possibilidade de temporais. Em partes do centro-norte do Estado, as pancadas acontecem a partir da tarde e podem vir acompanhadas por trovoadas.

Nesse período, as temperaturas devem começar a apresentar uma diminuição na temperatura em relação aos dias anteriores. Mas, apesar da ligeira queda, o calor segue presente.


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