Com forte calor
Bloco desfila em protesto contra proibição de Carnaval na Cidade Baixa
Entrevero passou pelas ruas do Centro em direção ao Largo dos Açorianos no domingo de Carnaval
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Mesmo com o calor de 35ºC e as ruas vazias pelo feriado de Carnaval, o Centro Histórico de Porto Alegre viu o desfile de um grupo de músicos, foliões e vendedores ambulantes. Era o Bloco do Entrevero, que se reuniu na Esquina Democrática na tarde deste domingo (2) e desfilou até o Largo dos Açorianos.
Conforme o organizador do evento, Carlos Eduardo da Silva Pereira, a ideia surgiu dois dias antes, depois da proibição de festividades e da violência ocorrida na Cidade Baixa na madrugada de sábado (1). Por meio das redes sociais, ele divulgou o bloco e acionou alguns músicos conhecidos para comparecer.
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— A ideia do entrevero, clássico da culinária gaúcha (um lanche que mistura vários tipos de carne diferentes), é juntar todo mundo. É juntar o que precisa ser feito no carnaval. Então, a ideia desse bloco é muito simples. Vem quem quiser tocar, toca junto. Todo mundo se junta, com segurança, na esquina democrática. É uma organização do povo pelo povo — explica Pereira que atua como corretor de imóveis.
Pereira vê o desfile como uma demonstração da população de Porto Alegre mostrar que realmente quer o Carnaval, mas pondera: precisa de adesão do público.
— Não dá para, em um feriado tão democrático, ter um ato de violência. Mas também se o pessoal não vier...gente, vocês estão pedindo por um monte de coisa, mas vocês não vieram pra fazer parte disso — comenta.
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O encontro estava marcado para as 15h, mas foi somente perto das 16h que se ouviu o ressoar dos tambores e dos metais.
Aos poucos, outros músicos chegaram e se somaram ao movimento. Quase sem ensaio, marchinhas clássicas de Carnaval, axé e funk saíram dos trompetes e saxofones, acompanhados pela percussão.
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Por volta das 17h30, o bloco começou a se deslocar em direção ao Largo dos Açorianos. Os foliões ainda tocaram em frente à sede da prefeitura municipal de Porto Alegre, que estava fechada.
"Deixa as pessoas serem felizes"
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Antes mesmo dos foliões e músicos aparecerem, alguns ambulantes já estavam no local, como Simone Ribeiro, que disse que os vendedores souberam do evento e chegaram após comunicações das redes.
— Eu vou ser bem sincera, esse carnaval tá uó. Porto Alegre passou por uma enchente, está todo mundo frustrado, triste. E o carnaval é um momento de alegria, de descontração. Então, a gente está muito insatisfeito com o nosso prefeito. Deixa as pessoas serem felizes, deixa as pessoas saírem pra rua. A gente precisa disso, nós necessitamos disso — comenta a ambulante.
Simone observa que esse sentimento é compartilhado por outros vendedores, que dependem dos eventos de rua para tirar renda extra. Por volta das 17h, havia ao menos 10 ambulantes com bebidas geladas para vender no local.
Presença da Brigada Militar
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Quem também observava o bloco era a Brigada Militar, que já marcava presença no local antes das 15h. Conforme o número de pessoas aumentava, o de policiais também crescia.
— Até o momento, não tem ordem de interromper qualquer ação, apenas acompanhar. Mantendo a tranquilidade está tudo certo. Estamos aqui para manter a ordem — disse o soldado Maurício de Lima, aluno da Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Sargentos (Esfas), por volta das 17h.
Na madrugada de sábado, aconteceu um conflito entre a Brigada Militar (BM) e foliões na Rua General Lima e Silva, na Cidade Baixa, em Porto Alegre. Pessoas que estavam no local denunciam o emprego de violência do aparato de segurança pública, enquanto a BM relata ter deparado com "hostilidade crescente e tentativa de invasão do perímetro policial por populares" ao tentar desobstruir a via.
Na segunda-feira (3), os foliões dos blocos devem voltar às ruas da Cidade Baixa às 18h, para um evento aberto do bloco Devolve meu Ouro, na rua José do Patrocínio, em frente ao boteco Cambucá.
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