O galpão da cooperativa SDV Reciclando é, desde 2018, um porto seguro para as mulheres que precisam de apoio para sair de situações de vulnerabilidade na Vila dos Herdeiros, na zona leste da Capital. Porém, desde a pandemia, a iniciativa criada pelas irmãs Stefani Guedes, 32 anos, e Paula Guedes, 36, também é uma referência para quem precisa garantir o prato de comida do dia. A cozinha solidária da organização surgiu na crise de 2020 e se mantém lutando, até hoje, para ajudar os moradores da comunidade que não têm acesso adequado à alimentação. O Diário Gaúcho acompanha a história da SDV desde outubro de 2020. 

A cozinha oferece o almoço das recicladoras e seus filhos nos dias de trabalho e monta marmitas para doação. Atualmente, o projeto consegue produzir cerca de 50 viandas três vezes por semana, mas a realidade já foi bem diferente. 

Em 2024, durante e após a enchente de maio, a cozinha atendeu em torno de 150 famílias diariamente e, às vezes, até com distribuição de janta. Foi a redução de doações que fez a produção desacelerar. 

— As famílias continuam em vulnerabilidade, algumas nem retornaram ao serviço depois da enchente. Tem dias que vai bem rápido, e dá dó quando alguém vem buscar e não tem mais — enfatiza Stefani.

É num espaço pequeno ao lado do galpão da reciclagem, equipado com itens doados ou encontrados em meio à coleta, que a ação acontece. Voluntárias se dividem nos diferentes processos culinários. O fogão esquenta panelões que preparam arroz, feijão e batatas. Nos últimos tempos, dificilmente há alguma proteína para oferecer. Isso porque a operação tem sido custeada inteiramente pela cooperativa, com parte do rendimento da reciclagem.

Stefani ressalta que tudo é preciso. Carnes, alimentos não perecíveis e potes de marmita são os insumos essenciais para a produção, sem contar o consumo do gás e as eventuais falhas de equipamentos — como as duas geladeiras que estragaram nas últimas semanas. 

Apesar dos desafios, as gurias do SDV sabem que há pessoas, vindas até de uma comunidade vizinha, que contam com aquele alimento. Por isso, elas se organizam, cozinham e, quando está tudo pronto, divulgam nas redes sociais para chegar a quem precisa. E, então, todo esforço é compensado. 

— A gente já passou fome, sabemos como funciona. Por isso, não dá pra parar – diz Stefani. 

Um refúgio para mulheres

A SDV Reciclando completou sete anos na última sexta-feira, 21 de março. O trabalho com reciclagem foi a forma que Stefani e Paula encontraram para se fortalecer depois de saírem dos ambientes de violência doméstica em que viviam. Logo o espaço se tornou um refúgio para outras mulheres que passavam pela mesma situação. 

Mas a cooperativa não se restringe à geração de renda por meio dos resíduos. Todas que entram são acolhidas e incentivadas a melhorar de vida por meio dos estudos e do empoderamento feminino. São rodas de conversa, cursos e ações solidárias promovidas pela organização que vão, aos poucos, reconstruindo a dignidade de mulheres que têm histórias distintas, mas sempre muito duras. 

— Ninguém aqui teve a vida fácil. Tem caso de gente com doença, com problema com droga, violência, prostituição. Isso aqui é um resgate pra todas elas — afirma Paula. 

Atualmente, são nove cooperadas que bradam com orgulho o lema “É as guria!” que representa a SDV. Enquanto elas estão no galpão fazendo a triagem, os filhos ocupam o pátio, os brinquedos de plástico e a biblioteca, montada, principalmente, com livros recolhidos da reciclagem.

— A gente viu a necessidade de ter um espaço pras crianças, é fundamental para eles. Não atrapalha as mães e a gente tem a oportunidade de educar, passar valores e mantê-los perto — explica Paula sobre a biblioteca, projeto pelo qual diz ter muito carinho. 

No final do ano passado, a cooperativa deu mais um passo importante e criou um CNPJ. Agora, o objetivo é firmar parcerias para qualificar o trabalho e ações da SDV.

Ajude a SDV Cozinha Solidária

Doações de alimentos podem ser levadas até a cooperativa, na Rua do Zaire, 158, Vila dos Herdeiros, no bairro Agronomia. 

Contribuições em dinheiro podem ser feitas pela chave Pix sdvreciclando@gmail.com

Quem quiser conhecer mais sobre o trabalho da SDV Reciclando pode entrar em contato pelo telefone (51) 98114-3067 ou seguir o perfil @sdv_reciclando no Instagram.

Produção: Caroline Fraga