O dia 10 de fevereiro começou normalmente no bairro Maria Regina, em Alvorada, até que homens e máquinas da prefeitura abriram buracos gigantes às margens da Rua Padre Diogo Feijó. Sem nenhum aviso ou explicação aos moradores, os profissionais cavoucaram as crateras, com mais de dois metros de profundidade, e foram embora. 

Desde então, os pontos passaram a acumular lixo e água, exalando um cheiro forte de esgoto. Enquanto isso, a comunidade vive o medo de cair nos buracos.  

— Eu tenho 1,83m, se eu cair ali, o buraco me cobre. Agora, imagina se cai uma criança — afirma Lucas Rangel, 30 anos. 

São nove buracos ao longo de uma quadra. Nesse mês e meio em que estão a céu aberto, já cresceram e agora ameaçam a infraestrutura das casas. A escavação feita em frente à casa de Lucas, por exemplo, está se expandindo em direção ao muro de sua casa. 

— A água vai comendo a areia, e a cratera já está passando por baixo da minha viga, com risco do meu muro cair — reclama o morador.

Incômodos

Rafael Pereira, 51 anos, que mora em na esquina com a Rua Voltaire Pires, também está indignado com a situação. Ele conta que um dos buracos foi feito na janela de sua cozinha.  

— É um cheiro insuportável, porque o esgoto de casa vai direto para o buraco. Esses dias, eu recebi visitas e como eu ia cozinhar para eles com esse cheiro? — questiona ele.  

Não bastasse o odor forte que exalam e a arapuca que se tornaram para quem transita na região, os pontos abertos também acumulam água e viraram um criadouro para mosquitos. Em alguns deles, é possível visualizar as larvas se multiplicando.  

A esposa de Lucas está com suspeita de dengue e a família acredita que a doença foi transmitida pelos mosquitos que se criaram por ali. 

— A gente não deixa nem as crianças brincarem no pátio por medo de que caiam. E usamos repelente todos os dias — conta. 

Descaso    

Desde fevereiro, a administração municipal estava sem prestar esclarecimentos aos moradores. No dia 28 de fevereiro, Lucas foi até a sede do Executivo e abriu o processo 468/2025 relatando a situação. Até agora, porém, diz que não recebeu nenhuma resposta:  

— Eles falam que já fizeram reclamação e a encaminharam para uma secretaria municipal. Só que não fizeram nada aqui. Só sabem enrolar — reclama. 

Na última segunda-feira, ele esteve novamente na prefeitura e recebeu o contato da Secretaria de Obras e Serviços Urbanos do município. Ele se queixa do descaso com os moradores.

— Eles não falam nada com a gente. É uma grosseria só. Não respondem quando a gente pergunta — relata Lucas. 

Contraponto

/// A reportagem entrou em contato com a prefeitura de Alvorada, que informou que as obras são uma ação emergencial para sanar um problema de drenagem urbana. Segundo o órgão, o esgoto estava retornando para algumas casas na região. 

/// “Diante disso, foi necessário abrir pontos ao longo da via para limpeza das redes e substituição de canos danificados, que impediam o escoamento adequado”, afirma a nota. 

/// Segundo a administração municipal, os buracos ainda não foram fechados, porque “houve atraso na entrega de materiais por parte da empresa contratada, o que impossibilitou a conclusão da substituição dos canos”.

/// A prefeitura afirma que fechar os pontos sem finalizar as obras de escoamento submeteria os moradores a novos riscos de alagamento. 

/// A previsão é de que os materiais sejam entregues na próxima semana e a intervenção seja concluída em seguida. “A administração reforça que entende os transtornos causados, mas reafirma o compromisso de entregar uma solução definitiva para os moradores.”

Produção: Guilherme Freling