Portas soldadas
Após invasões, tapumes que isolavam Confeitaria Rocco são retirados; fachada deteriorada causa risco aos pedestres
Calçada em volta da construção no Centro Histórico foi cercada em 2023. Com estudos para concessão em andamento, prefeitura segue com a intenção de repassar imóvel à iniciativa privada

Tapumes que cercavam o prédio da Confeitaria Rocco, no Centro Histórico, foram removidos. Em 2023, a prefeitura de Porto Alegre avaliou que a fachada do prédio estava deteriorada e que isso causava risco aos pedestres, motivo pelo qual o município isolou a área. Agora, devido a arrombamentos e invasões, as estruturas foram removidas.
"Pessoas em situação de rua estavam arrombando o prédio da Rocco e invadindo edifícios vizinhos. Os tapumes dificultavam a visibilidade e os moradores do entorno reclamavam dessa situação. Por essa razão os tapumes foram retirados", disse a prefeitura em nota.
Para evitar novas invasões, as portas do imóvel foram soldadas. O edifício fica localizado na esquina da Rua Doutor Flores com a Riachuelo. A reportagem de Zero Hora questionou a prefeitura se os tapumes serão colocados novamente, já que a área apresenta riscos, mas não teve retorno até a mais recente atualização desta reportagem.
De acordo com a Procuradoria-Geral do Município (PGM), um laudo da Secretaria Municipal da Cultura (SMC) apontou que elementos da fachada da construção histórica estão deteriorados. Há, por exemplo, pontos com ferragem exposta e alguns dos ornamentos frouxos.
Estudo para concessão
Após assumir a gestão do imóvel, no ano passado, a prefeitura decidiu concedê-lo à iniciativa privada, noticiou o colunista Jocimar Farina. A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), consultoria contratada para auxiliar na elaboração da modelagem da concessão, está realizando a análise da condição estrutural do prédio.

Ainda não é possível saber qual será a destinação do prédio, o que depende da avaliação feita pela consultoria. O estudo deve ser entregue até novembro deste ano. Neste mês de maio, uma equipe esteve presencialmente no imóvel para fazer uma vistoria.
O vencedor da concessão deverá ficar responsável pela reforma do prédio. O tempo de contrato irá prever tempo suficiente para que os investimentos feitos sejam recuperados.
História do imóvel
Antes de radicar-se no Brasil, o italiano Nicolau Rocco trabalhou como confeiteiro em Buenos Aires, na Argentina. Com a experiência lá adquirida, chegando a Porto Alegre, fundou a Confeitaria Sul-Americana, em 1892. Com o crescimento da cidade e dos negócios, em 1910, encomendou a construção do imóvel da Confeitaria Rocco, que ficou pronto dois anos depois.
Durante décadas, o negócio prosperou, recebendo celebridades de todo o país. Teve seu último inquilino fixo até 1999, quando um curso pré-vestibular passou a operar no local.
Em 2006, tanto os donos do imóvel da Confeitaria Rocco quanto a prefeitura foram condenados pela Justiça a restaurar o bem, que foi tombado em 1997. A ordem ocorreu dentro de uma ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado.
Em 2012, ano de centenário da Rocco, a prefeitura tentou adquirir o imóvel. À época, a Secretaria Municipal da Fazenda avaliou o prédio em R$ 2,5 milhões, valor que não foi aceito pelos herdeiros. Em 2022, a área foi avaliada em R$ 4,45 milhões. Os antigos proprietários estavam com dívidas de IPTU de R$ 432.849,26.
Em outubro do ano passado, a prefeitura tomou posse da edificação, que foi declarada de utilidade pública, o que permitiu ao município fazer a sua desapropriação.
O imóvel tem três pavimentos, além de um porão. De acordo com a prefeitura, o prédio não recebe manutenção apropriada desde 2006. O edifício histórico tem infiltrações, ferrugem e mofo. Parte do teto não conta com telhas, o que ajuda a explicar por que uma estrutura do forro de madeira desabou. Poucas janelas ainda têm seus vidros intactos.