No Centro Histórico
A Capital levanta o caneco: Porto Alegre entra de vez no circuito da Oktoberfest
No compasso das bandinhas, festa reuniu milhares de pessoas na Sete de Setembro e resgatou uma tradição que nasceu na própria cidade há mais de 110 anos

Mais de um século depois de sediar a primeira Oktoberfest do Brasil, Porto Alegre voltou a celebrar oficialmente as raízes germânicas. Neste domingo (5), o Centro Histórico se transformou em uma pequena Baviera durante a Oktoberfest oficial da capital gaúcha, reunindo famílias, turistas e amantes do chope na Rua Sete de Setembro, entre a Casa de Cultura Mario Quintana e a Rua dos Andradas.
Com entrada gratuita, o evento contou com mais de 20 cervejarias e cerca de 100 torneiras de chope, reafirmando o lugar da cidade no mapa das grandes festas cervejeiras do Rio Grande do Sul.
Nem mesmo a chuva que caiu por volta das 16h desanimou o público. Sob guarda-chuvas e capas improvisadas, milhares de pessoas seguiram circulando pelas barraquinhas, brindando e dançando as tradicionais marchinhas.
O público presente pôde vivenciar uma programação diversa, que misturou o som alegre das bandinhas alemãs Triozinho Alles Blau e Banda Periquito com o balanço da roda de samba Volto Pra Te Ver e o rock gaúcho da Vera Loca, em um encontro musical que uniu sotaques, estilos e gerações.
A Rua dos Andradas, tradicional corredor gastronômico do centro, também foi tomada por aromas e sabores típicos. Bares e restaurantes locais prepararam cardápios inspirados na culinária alemã — com salsichas, chucrute, pretzels e outras delícias.
Entre os comerciantes, o sentimento era de otimismo e gratidão. Egles Notti, proprietário de uma das bancas do Up Food Art, destacou o movimento intenso e o clima de harmonia entre o público.
— Está sendo muito lindo, está bem frequentado, pessoas bacanas, tudo muito harmônico. A gente não vê confusão. Veio além da nossa expectativa. A gastronomia da Andradas apoiou junto com os organizadores, e está sendo muito bom — contou, enquanto servia chope artesanal a uma fila constante de clientes.
Festejo no Centro Histórico
A iniciativa também movimentou o comércio alternativo. No trecho próximo à Casa de Cultura Mario Quintana, o empresário Marco André Schieck, dono da loja Disfarce Mania, vendia chapéus, tiaras e outros acessórios típicos da festa. Para ele, o evento representa um passo importante na valorização cultural e econômica da cidade.
— Sempre que a gente pensa em eventos que trazem a cultura do Rio Grande do Sul, temos que prestigiar. O Oktoberfest é tradicional na região Sul, mas Porto Alegre ainda não tinha uma com a sua identidade. Acho que essa é uma boa iniciativa, usando um espaço tão nobre como o entorno do Mario Quintana. Tem tudo para dar certo — afirmou.
No meio da multidão, Felipe Rodrigues dos Santos, 33 anos, segurava um copo de chope e observava o movimento. Para ele, a escolha do Centro Histórico para sediar a festa é simbólica:
— É bacana porque traz atividade econômica para o centro, que sofreu muito durante a enchente. As pessoas têm que ocupar esse espaço, que é de todos. É uma iniciativa legal de promover o comércio local e de reaproximar as pessoas do coração da cidade.
Rodrigues também destacou que a Oktoberfest ser realizada na Capital preenche uma lacuna histórica:
— É curioso que ainda não tivesse acontecido aqui. Acho que faltava isso para a cidade. É algo que já faz parte da cultura do Rio Grande do Sul, e agora Porto Alegre tem a sua própria festa.
Um retorno às origens

A retomada da Oktoberfest em Porto Alegre carrega um significado histórico. Poucos sabem, mas a primeira Oktoberfest do Brasil aconteceu justamente na capital gaúcha, em 1911, promovida pela Sociedade Ginástica de Porto Alegre (Sogipa) — uma tradição iniciada por imigrantes alemães que ajudaram a moldar a identidade da cidade.
Inspirada na celebração criada em 1810 pelo rei bávaro Luís I, em Munique, a festa porto-alegrense foi organizada pelos Haberer, grupo que mantinha vivas as danças, músicas e a gastronomia da terra natal.
Casos de intoxicação por metanol não afetaram a festa

Enquanto o país registra casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas, o clima de alerta não interferiu na Oktoberfest de Porto Alegre.
O Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) recebeu duas notificações no Rio Grande do Sul — uma em Porto Alegre e outra em Santa Maria, esta última já descartada após avaliação preliminar. O Ministério da Saúde acompanha o caso da Capital.
Até a manhã deste domingo (5), o Brasil registrava duas mortes confirmadas em São Paulo e 195 notificações de intoxicação em todo o país.
Na festa porto-alegrense, o cuidado com a procedência das bebidas e a fiscalização foram reforçados, e tanto organizadores quanto comerciantes afirmaram que o público se manteve confiante.
— Não chegou aqui esse pavor — garantiu Notti, ao relatar que as vendas seguiram normais ao longo do dia.
Entre os frequentadores, a sensação também era de tranquilidade. Rodrigues contou que, apesar da repercussão nacional dos casos, o tema não alterou tanto seus hábitos de consumo.
— Afetou um pouco, sabe? Mas a gente está cuidando as informações que saem. Acho que aqui no Estado ainda não é um problema muito relevante. Mas a gente fica atento, né? — comentou.