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Como garantir uma alimentação saudável na infância 

Nutricionista explica como o contato precoce com alimentos naturais ajuda a prevenir doenças e formar o paladar das crianças 

24/10/2025 - 10h55min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Alex Quinteiro/Divulgação
Falar sobre o tema na escola auxilia na construção de uma relação mais positiva com os alimentos.

Em setembro, a Organização das Nações Unidas (UNICEF) divulgou o relatório global Alimentando o Lucro: Como os Ambientes Alimentares Estão Falhando com as Crianças.

O documento, que mostra um panorama da nutrição de crianças e adolescentes em todo o mundo, apontou que, pela primeira vez, a obesidade cresce mais rápido na infância do que na fase adulta e já se tornou a principal forma de má nutrição global.

Ainda de acordo com o relatório, o principal motivo é de que milhões de crianças estão crescendo em ambientes alimentares onde produtos ultraprocessados são bastante acessíveis. 

Para entender melhor sobre a importância de formar hábitos alimentares saudáveis ainda na infância, a coluna Tua Saúde conversou com a nutricionista materno infantil Jéssica Blatt Lopes, do Hospital Moinhos de Vento.

Conforme a profissional, são nesses primeiros anos de vida que o paladar e as preferências alimentares começam a ser moldados.

—  Sabemos que a apresentação precoce dos alimentos ultraprocessados e açúcar, por exemplo, principalmente nos primeiros dois anos de vida, além de moldarem o paladar da criança, podem predispor o aparecimento de doenças como obesidade, diabetes e hipertensão na vida adulta — explica. 

Mesmo o “docinho inocente” de vez em quando, diz ela, pode ter efeitos cumulativos ao longo prazo.

Começa na amamentação

O contato com os sabores começa ainda no leite materno. De acordo com Jéssica, “a alimentação da mãe já influencia o paladar do bebê”.

— Aos seis meses de idade, o comportamento alimentar da criança pode começar a se estabelecer mais fortemente. E não é apenas pensando na qualidade nutricional dos alimentos, mas também na forma como esses alimentos são oferecidos e como está o ambiente em que a criança está realizando as refeições — afirma.

Nessa fase, o ideal é apresentar os alimentos amassados ou em pedaços grandes e macios, nunca liquidificados ou totalmente misturados. Para a profissional, é importante que as crianças conheçam diferentes texturas e sabores neste processo.

Grupos alimentares essenciais

De acordo com a profissional, um prato com quatro ou cinco cores diferentes ajudam a variar os grupos alimentares:

— Uma fonte de carboidrato (como arroz, batata ou aipim), uma proteína (carne ou ovo), uma leguminosa (feijão, lentilha, grão de bico), um vegetal verde-escuro (rico em ferro) e um legume colorido, como cenoura ou beterraba — detalha.

No caso de crianças vegetarianas, Jéssica também indica a combinação clássica de feijão com arroz, que garante uma fonte de proteína completa, pois oferece todos os aminoácidos essenciais, que são os que o corpo não produz.

Caso a criança "torça o nariz", o segredo, segundo a nutricionista, é não disfarçar nem enganar.

— Importante oferecer de formas diferentes, sempre deixando isso claro. Os legumes e verduras podem ser oferecidos de forma de salada, mas também cozidos, assados, em receitas como tortas, cremes e sopas — recomenda.

Atenção aos ultraprocessados

Bolachas recheadas, refrigerantes e salgadinhos podem parecer práticos, mas trazem consequências sérias. Além de favorecerem o ganho de peso e problemas metabólicos, também causam cáries e comprometem a saúde bucal.

— O consumo eventual e pontual não é o problema, mas sabemos que esses alimentos são considerados práticos e acabam sendo opções rápidas e frequentes nas famílias.

Para doces e guloseimas, antes dos dois anos a oferta é contraindicada. 

— Ideal é que o consumo aconteça apenas em momentos especiais, alguma festinha de aniversário, momentos em família, sem relacionar com recompensa por algo. Quanto mais tarde as crianças forem apresentadas a esses alimentos, menor será seu interesse em consumi-los depois — aconselha. 

Ajuda profissional

Se a alimentação da criança se torna muito restrita, com rejeição intensa a alimentos, texturas ou cores, e impacto no crescimento, é hora de procurar um nutricionista materno infantil.

— Esse profissional pode acompanhar desde a amamentação até a fase escolar, ajudando na prevenção de problemas nutricionais e apoiando os pais nos desafios do dia a dia — conclui.

Oficina de culinária saudável 

Através de uma inquietação acerca do tema, que a nutricionista infantil Diuly Vieira de Azevedo propôs uma oficina de culinária saudável para cerca de 20 crianças, de sete a 10 anos, da Escola Balduino Robson, em Três Coroas. 

Com o tema Nutrigoods, baseado na febre do Boobbie Goods, os alunos colocaram a mão na massa e fizeram biscoitos de aveia. Além da preparação dos alimentos, houve uma conversa sobre as diferenças desses produtos caseiros e dos industrializados. 

Para Diuly, levar essa discussão para as escolas é importante, porque contribui para que as crianças desenvolvam uma relação positiva com os alimentos.

Produção: Rayne Sá



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