De 17 a 27 de outubro, a primeira edição do Festival Caminhos Periféricos vai transformar as ruas, escolas e centros culturais das periferias de Porto Alegre em palcos de encontros e reflexões. A programação reúne 10 espetáculos e oficinas gratuitas, com grupos do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Moçambique e Equador. 

Mais do que uma mostra teatral, a proposta, idealizada pelo produtor e ativista cultural Alex Pantera, da DNÁfrica Produção Cultural, é aproximar o teatro do cotidiano das comunidades e valorizar produções afro-brasileiras, feministas, LGBT+ e periféricas.

— A ideia é fazer da periferia o centro. Nesse momento, o Festival Caminhos Periféricos é o centro do teatro da cidade de Porto Alegre —explica Alex.

Resistência cultural 

A motivação para criar o festival surgiu das experiências de Alex nas oficinas de teatro do projeto O Teatro como Instrumento de Discussão Social, promovido pela Terreira da Tribo. Na época, as apresentações dos alunos circulavam entre diferentes bairros da Capital, como Bom Jesus, Restinga e Humaitá, criando um circuito diverso de trocas e aprendizado.

— Eu achava aquilo muito legal. Quando saíamos da Bom Jesus para apresentar uma peça na Restinga, e o pessoal da Restinga vinha para o Humaitá, criávamos uma circulação de experiências. Isso me deu o start para pensar: vamos fazer algo parecido — conta. 

De com o coordenador, o projeto amadureceu com essa ideia de fazer o caminho inverso dos grandes festivais: em vez de tirar as pessoas da periferia para levá-las ao centro, levar a arte para onde elas estão. 

— Muitas vezes, quem mora na periferia trabalha a semana toda e não tem como se deslocar à noite para assistir a uma peça no centro. Então o Caminhos Periféricos vem para conectar essas comunidades por meio da arte — afirma.

Dentro das escolas 

Além das apresentações em praças e centros culturais, o Caminhos Periféricos leva o teatro para dentro das escolas públicas, dialogando diretamente com estudantes e professores. As atividades formativas incluem espetáculos pensados para estimular e aproximar a arte da realidade das juventudes periféricas.

Um dos exemplos é a montagem Dom Juan, do grupo Levanta a Favela, que será apresentada na comunidade do Mário Quintana. A peça revisita o texto de Bertolt Brecht para questionar as relações de poder e o machismo. Na terça-feira (20), às 20h, a obra será exibida para alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e comunidade em geral, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dep. Victor Issler.

Outro destaque é O Lanceirinho Negro, da Trupe de Trapo, que recupera a história dos Lanceiros Negros a partir do olhar de uma família negra.

— Esses espetáculos possibilitam que alunos e professores levem as discussões para a sala de aula. São instrumentos de reflexão, de pensar a história e a vida a partir de outros pontos de vista — afirma Alex.

Programação completa: 

Nos Tempos de Gungunhana - Klemente Tsamba (Moçambique) 

///Quando: sexta-feira (17), às 20h

/// Onde: Centro Cultural Marli Medeiros (Avenida Joaquim Porto Vilanova 143, Bom Jesus). 

A Lição Ancestral - Instituto Cultural Rasteira na Fome (RS) 

/// Quando: domingo (19), às 16h

/// Onde: Praça dos Anjos - Arena Haidee (Rua T, Bom Jesus).

Oficina de Teatro - Klemente Tsamba (Moçambique) 

/// Quando: segunda-feira (20), das 14h às 16h. 

/// Onde: Centro Cultural Marli Medeiros (Rua T, 143, Bom Jesus). 

O Lanceirinho Negro - Trupi de Trapu (RS)

/// Quando: terça-feira (21), às 15h. 

/// Onde: EMEF Dep. Marcirio Goulart Loureiro (Rua Saibreira, s/n, Cel. Aparício Borges).  

Don Juan - Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta Favela (RS) 

/// Quando: terça-feira (21), às 20h

/// Onde: EMEF Dep. Victor Issler (Rua Dezenove de Fevereiro, 330, Mario Quintana). 

Bonecos de Pau - A Divina Comédia Teatro de Bonecos (RS) 

/// Quando: quarta-feira (22), às 19h

/// Onde: Galpão Cultural (Rua 9 de Junho, 878, Morro da Cruz). 

 Katchaku Katchaka: era uma vez em Ojèijè – Sankofa (RS)

/// Quando: quinta-feira (23), às 20h

/// Onde: IFRS Campus Restinga (Rua Alberto Hoffmann, 285, Restinga). 

Eu Não Sou Macaco - Dedy Ricardo / UTA Teatro (RS) 

/// Quando: sexta -feira (24), às 15h

/// Onde: CPCA (Estrada João de Oliveira Remião, 4.444, Lomba do Pinheiro)

Encanto dos Insetos - Plataforma Beijo (MG) 

/// Quando: sexta-feira (24), às 20h

/// Onde: Terreira da Tribo (Avenida Pátria, 98, São Geraldo). 

Fazer Festa com o Perigo - Plataforma Beijo (MG)

/// Quando: domingo (26), às 15h

/// Onde: Praça dos Anjos (Rua T, Bom Jesus).

Memórias de Água - Colectivo Yama (Equador)

/// Quando: domingo (26), às 19h

/// Onde: Terreira da Tribo (Avenida Pátria, 98, São Geraldo). 

Produção: Rayne Sá