Estragos
Morador de prédio atingido por ônibus em chamas no centro de Porto Alegre encontra apartamento com paredes pretas e móveis queimados: "Ainda nem sei o que fazer"
Após a Defesa Civil autorizar o retorno ao edifício na manhã deste sábado (4), residentes avaliam danos causados pelo fogo

De cabeça baixa e segurando uma sacola, o servidor público aposentado Mário Floriano estava desolado ao deixar o Edifício Esmeralda na manhã deste sábado. Pouco antes, ele havia entrado no apartamento 14, o mais atingido pelas chamas do ônibus que incendiou na tarde de sexta-feira, no Centro Histórico de Porto Alegre.
— Estragou bastante. O meu quarto ali na frente, não sobrou nada. O colchão sumiu, derreteu — relata Floriano.
No momento do incêndio, Mário estava voltando de Guaíba, onde havia ido visitar uma fábrica de computadores. Soube do fogo pelo rádio. A esposa, Laura, estava na sala de casa, vendo TV, quando as janelas estouraram de repente.
— A TV derreteu também. Foi consumida pelo calor — conta Floriano.
Situado no segundo andar e de frente, o apartamento do casal foi o primeiro a ser alcançado pelo ônibus de excursão que desceu descontrolado a Rua Espirito Santo, uma das ladeiras mais íngremes do Centro Histórico.
— Quando o ônibus bateu aqui na frente, explodiu. Foi um barulho absurdo, seguido de um fogaréu. A sensação era de que o prédio estava desmoronando — lembra a advogada Daniela Silveira, 43 anos.
Vizinha de janela de Floriano, mas morando no prédio vizinho, ela abriu as persianas para ver o que estava acontecendo. As chamas logo irradiaram um calor intenso e sufocante.
Daniela e o marido abandonaram o edifício, ajudando vizinhos nas escadas. À noite, conseguiram voltar. Para felicidade dos dois, os estragos haviam sido mínimos, restritos a uma persiana empenada e parte do ar-condicionado derretido.
Floriano não teve a mesma sorte. Tão logo a Defesa Civil autorizou o retorno dos moradores, por volta das 9h30min deste sábado, ele percorreu os cerca de 80 metros quadrados do imóvel de dois quartos. Enquanto conferia os estragos, funcionários da limpeza urbana da prefeitura retiravam escombros próximos à fachada e sob risco de queda na calçada.
Impotente diante das paredes pretas e móveis queimados, Floriano resignou-se a esvaziar o freezer.
— Peguei algumas carnes para não estragar. Ainda nem sei o que fazer — lastimou.