Em obras
Um ano e meio após enchente, frequentadores da orla do Guaíba ainda dependem de banheiros químicos: "Eles são bem sujos"
Sanitários do trecho 1 só devem ficar prontos no ano que vem, mas estruturas do trecho 3 têm previsão de conclusão para novembro. Enquanto isso, usuários relatam incômodo com cabines sujas e sem papel higiênico

Seja pela água que hidrata depois de se exercitar, pelo mate que acompanha um passeio ou pela cerveja que embala o fim da tarde, quem frequenta a orla do Guaíba ainda precisa recorrer a banheiros químicos para suas necessidades. Usuários que transitam no trecho 1, próximo à Usina do Gasômetro, nem sempre se sentem bem em usá-los.
Embora seja um problema de todos, é possível perceber, a partir dos relatos, que o incômodo maior é entre usuárias mulheres. É o caso de duas jovens que passeavam pelo trajeto na tarde desta segunda-feira (20). Isabelli Jobim, 19 anos, e Cecília Ricaldi, 20, contam que evitam usar os banheiros químicos por conta da higiene.
— Eles são bem sujos. Está sempre muito nojento e nunca tem papel. (Prefiro) procurar outro lugar ou voltar para casa — diz Cecília.
Em andamento desde maio deste ano, as obras de recuperação da orla após a enchente de maio de 2024 tiveram progresso em algumas intervenções. A área, que foi completamente revitalizada em 2018, já completa quase um ano e meio sem operação nos bares da parte inferior e, após abertura recente, somente um banheiro, no trecho 3 da orla, foi recuperado.
A reforma do trecho 1 tem previsão de conclusão em 2026. No trecho 3, entre a foz do Arroio Dilúvio e o Parque Gigante, o prazo de entrega está mais próximo (veja abaixo).
Trecho 1
Segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Smamus), já foi executada a demolição de bares, vestiários e lojas existentes no trecho 1.
A etapa em andamento é de reforma das áreas utilizadas por ambulantes e a construção de um novo espaço para a Guarda Civil Metropolitana que, segundo o comandante Marcelo do Nascimento Silva, ficará no canteiro central da Avenida Edvaldo Pereira Paiva, próximo à entrada do estacionamento do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. O investimento inicial é de cerca de R$ 1,8 milhão.
Na sequência, o plano é reconstruir os banheiros e bares. Ainda na mesma etapa, devem ser instaladas as estruturas de contenção de cheias e realizada a recuperação dos deques, taludes e áreas verdes. As melhorias na iluminação, paisagismo, bancos e lixeiras também estão inclusas neste momento.
Na tarde desta segunda, a condição dos banheiros químicos variava bastante. Ainda que algumas cabines contassem com papel higiênico, o item não era encontrado na maioria das unidades conferidas pela reportagem no trecho.
Trecho 3
Já no trecho 3, a Smamus afirma que os trabalhos de reconstrução devem ser concluídos neste novembro. A fase final da obra abrange a produção de quadros de energia sob medida, específicos para a ligação da CEEE Equatorial. Somente depois dessa etapa será definida a quantidade de bares e comércios que poderão se estabelecer no local.
Os banheiros, apesar de já estarem com a estrutura reconstruída com materiais mais resistentes à água, ainda não estão todos abertos ao público. Um deles, em frente a pista de skate, já pode ser utilizado, segundo a sinalização, das 10h até 21h45min.
No restante, conforme a prefeitura, resta finalizar alguns itens. Em áreas como a das quadras esportivas, por exemplo, seguem à disposição de usuários somente os banheiros químicos. Para o instrutor de futebol Lucas Souza, 24 anos, que dá aulas para o público infantil, a falta de banheiros no local prejudica seu trabalho.
— A gente não vê evolução, e os banheiros químicos que tem estão imundos. Tem meninos que vêm de longe, da Zona Norte, de Alvorada, uma senhora que veio de Sapucaia do Sul, como eles vão usar o banheiro? Ela tem direito de ter um espaço — o professor conta.
O paisagismo, o plantio de espécies nativas do Viveiro Municipal e a uniformização do gramado também estão incluídos na última etapa da reforma.
Estão completas, por outro lado, a revitalização das áreas de esporte, que incluiu a repavimentação e pintura da pista de skate, e também a ampliação da proteção contra enchentes. Conforme a Smamus, o reforço foi realizado com a recomposição de taludes, a descompactação para remoção de detritos e a aplicação de nova camada de terra.
Ainda, um novo espaço da Guarda Civil Metropolitana foi inaugurado ao lado da Sala da Secretaria de Esportes.
Atrasos nos prazos
Questionada sobre o adiamento de prazos para a conclusão de obras, a Smamus justificou que o atraso se deu por conta das fortes chuvas de junho deste ano, que alagaram a orla. Segundo a pasta, isso impediu a sequência diária dos trabalhos e fez com que algumas obras precisassem ser refeitas.
O projeto da reconstrução da orla do Guaíba é feito e fiscalizado pela Smamus. No entanto, o financiamento veio de contrapartida da construtora Cyrela, que contratou a empresa para executar as obras de acordo com o projeto. As obras são fiscalizadas pela secretaria.
*Produção: Fernanda Axelrud