Placas por toda parte
Número de imóveis comerciais para locação no centro de Porto Alegre cresce 45% e valor do aluguel cai
Quantidade de espaços em oferta na região avançou de 1.109, em março de 2020, para 1.607, em setembro de 2023, de acordo com dados do Sistema Secovi-RS
Há um novo elemento visual no Centro de Porto Alegre: a placa de “Aluga-se”. São dezenas espalhadas pelas ruas, hoje não mais tão abarrotadas de pessoas, dividindo o campo visual com o cinza dos prédios históricos, o alaranjado dos poucos táxis com essa cor ainda em circulação e o vermelho das lotações. A percepção é confirmada pelos números da vacância na região e é apenas uma das sequelas econômicas deixadas pela pandemia.
Desde março de 2020, a quantidade de imóveis comerciais em oferta para locação nessa região avançou 45% – de 1.109 para 1.607, em setembro de 2023 – apontam os dados do Sistema Secovi-RS. Na outra página dos contratos, os aluguéis caíram 5% — o dobro da média registrada nos demais bairros da capital gaúcha: 2,5%.
Mas existem espaços em que a pedida era de R$ 1 mil mensais, por exemplo, e a forçada remarcação para baixo do valor pretendido por proprietários já está em R$ 800. Ou seja, agora é possível encontrá-los com 20% de desconto, o que converge para uma das leis infalíveis do mercado: da oferta e da procura.
— O custo do aluguel é o calcanhar de aquiles de qualquer varejo. Com os níveis de movimento do pós-pandemia, é precioso olhar com uma lupa para o que mais pesa no orçamento. É o que estamos fazendo neste momento – declara o empresário Wagner Amorim, proprietário da rede de bazar Casas Maria.
Atualmente, são seis filiais das lojas apenas no Centro. Amorim acrescenta: está em curso um levantamento interno para avaliar a possibilidade de reduzir a presença no bairro pela metade, porém, as três unidades renascentes têm de dar conta da conta de atender com qualidade, pondera.
Mais familiaridade do público com as compras na internet, fechamento de lojas durante o período de duração das medidas de prevenção à covid-19 e aspectos econômicos como a inflação nos últimos dois anos são as três principais causas apontadas pela economista-chefe do Secovi-RS, Lucineli Martins, para a conjuntura do mercado de imóveis. Ela lembra que o DNA comercial do Centro de Porto Alegre permanecerá, mas terá de aprender a conviver com outros modelos de negócios em um processo de ajuste natural ao passar dos anos.
A boa notícia
A boa notícia vem dos preços. De acordo com Ricardo Leite, gerente da Agência Corporate da Auxiliadora Predial, há imóveis com 20% de desvalorização nas intenções de aluguel. Na imobiliária, os volumes de novos contratos aumentaram 40%, mas os valores caíram.
Como o mesmo cenário das locações se repete para a aquisição de imóveis, ele chama a atenção para a continuação da lei da oferta e da procura que diz: compra-se na baixa e vende-se na alta. Nesse contexto, afirma que há grupos de investidores em formação para abocanhar prédios inteiros. Recentemente, um desses negócios foi concluído na Rua Uruguai.
Para isso, comenta Leite, é preciso considerar a necessidade de reformas e manutenção. Outro alerta contempla a falta de infraestrutura no Centro, dentro de uma tendência em curso para a transformação de salas comerciais em espaços residenciais. Ele cita a baixa disponibilidade de escolas e postos de saúde na comparação com outros bairros.
A nova vizinhança de Silva, na Rua dos Andradas
Vendedor de uma loja de vestuário masculino há 15 anos, Airton Meira da Silva, 77, lembra de quando a esquina da Rua dos Andradas com a General Câmara era “um formigueiro humano”, com mais pessoas consumindo do que aquelas que por ali passam hoje porque estão no caminho do trabalho. Parado na frente da fachada do comércio, ele divide o espaço com novos vizinhos — os de antes, concorrentes ou não, cederam lugar a imóveis vazios com anúncios de locação por todos os lados.
— Aqui ao lado (aponta para a direita) os dois, quando alugam, dura pouco. Lá (indica a esquina à esquerda) já está assim faz tempo. E até as salas comerciais (movimenta a cabeça para o alto do prédio) estão todas sem ocupação — resume. — Tem menos movimento porque as pessoas compram mais na internet, mas também porque há menos lojas para atrair o movimento — comenta, como se desenhasse uma espiral com o dedo indicador em um quadro imaginário.