Lady comportamento
Seu filho sofre bullying? Saiba como identificar os sinais e ajude-o a superar esse drama
Especialista dá dicas para que pais e escolas se unam na tentativa de resolver este problema.
- Eu gosto dos meus colegas.
Só não gosto quando vou de trança, e eles falam que tenho piolho - diz, tímida, a garota de seis anos, cuja identidade será preservada, e que estuda em uma escola estadual da Capital.
Ela se sente incomodada com a frase que é repetida pelos coleguinhas de sala - para eles, uma brincadeira, para ela, palavras que machucam.
É o chamado bullying, que, em inglês, significa intimidação. Gordinhos, gays e os muito inteligentes também não estão livres desse tipo de provocação. As vítimas se tornam alvos de expressões negativas não só na escola, mas onde moram, na roda de amigos e até mesmo na pracinha.
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Na maioria das vezes, os agressores são da mesma faixa etária de seus alvos, que passam a ser cercados de forma sutil no início.
- Sempre houve brincadeiras entre as crianças. Só que, de uns tempos pra cá, começaram a ficar mais agressivas - lamenta a publicitária, mãe da estudante e de mais duas meninas.
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A criança que acaba sendo vítima de bullying não sofre só no momento em que é intimidada. Ela perde o interesse por tarefas que antes lhe davam prazer. Essa estudante, por exemplo, não queria mais fazer atividades em grupo. Quando perguntada se gosta de ir ao colégio, afirma:
- É muito chato! Seu rendimento na escola foi caindo a ponto de ficar duas semanas sem ir à aula.
As piadas começaram quando ela ainda frequentava a creche e tinha três aninhos. Sobre a sua relação com os colegas, a estudante não diz uma palavra. Apenas procura o colo da mãe, que conta:
- A gente teve problemas gravíssimos. Faziam chacota do cabelo dela, e um colega chegou a bater na minha filha. Isso, além de apelidos do tipo "cabelo duro". Um caso de discriminação racial em sala de aula?
- Entre crianças, o bullying fala mais alto do que o preconceito, pois, nessa faixa etária (até os dez anos, em média), os pequenos ainda não têm essa noção quando agridem
- diferencia a psicopedagoga e professora da UniRitter Silvana de Boer Waskow.
Ação e reações
Os pais tentam conversar com os filhos e, muitas vezes, buscam auxílio com psicólogos, ao mesmo tempo que tentam resolver o problema na escola, conversando com familiares dos outros alunos e com a direção.
A publicitária fez isso. Porém, o esforço foi em vão. - Um dos diretores me disse: "Não tem que dar bola! Criança fala hoje e, amanhã, esquece".
Agora, quando se torna repetitivo e incomoda o outro, é porque passou do limite, né?
- desabafa ela, que teve reações nada amistosas de alguns pais dos coleguinhas da filha. Mas ainda são anos de colégio pela frente e um trabalho de autoestima a ser feito em casa.
- Eu tento tornar a minha filha forte para que goste de si. Ser diferente é normal - diz a mãe.
OLHOS ATENTOS
No colégio
/// A escola deve trabalhar as regras de convivência. O ideal é que a coordenação do colégio aposte sempre em uma perspectiva de prevenção, como a aceitação das diferenças e o respeito à individualidade.
/// No caso de o bullying acontecer, o primeiro olhar atento deve ser do professor, que tem a obrigação de observar as relações entre os alunos, assim como
os comportamentos um a um.
/// A atenção deve ser dada tanto para quem sofre quanto para quem agride, pois a criança que pratica bullying, muitas vezes, também está com dificuldades.
Em casa
/// Pais devem estar muito atentos à conduta dos filhos. Mudanças de comportamento e baixa do rendimento escolar são sinais de alerta.
/// O diálogo é extremante esclarecedor, cria sempre um canal de confiança entre pais e filhos.
/// Escute sem cobrar. Às vezes, os filhos não denunciam por medo de não corresponder às expectativas dos pais.
/// Assim que identificar sinais diferentes, procure a escola e encare essa instituição de ensino como sua parceira no desenvolvimento dos seus filhos.
* Fonte: psicopedagoga e professora da UniRitter Silvana de Boer Waskow.