Retratos da Fama
Após o atentado contra Ana Hickmann, a polêmica é levantada: até onde vai o limite entre público X privado de fã e ídolo
Caso da apresentadora, que foi ameaçada por fã que acabou morto por seu cunhado, reacende o debate sobre os limites entre o amor do fã que pode ser saudável até algo que vire caso de polícia
O atentado contra a apresentadora Ana Hickmann, que acabou na morte do seu agressor, ligou o sinal de alerta para a relação entre fã e ídolo: no dia 21 de maio, ela foi atacada em um hotel, em Belo Horizonte, por Rodrigo Augusto de Pádua, que entrou em luta corporal com o cunhado da loira e acabou baleado. A cunhada e assessora de Ana também levou tiros. Um dos maiores casos foi de John Lennon, morto por um fã, Mark David Chapman, em 1980, a tiros, na frente do prédio onde morava, em Nova York. O assassino segue preso.
Neste fim de semana, Retratos da Fama conversa com alguns ídolos e seus admiradores para saber até onde essa relação pode e deve ir, para não se tornar doentia, e como os artistas lidam com a tietagem, quando a loucura por eles chega a gerar medo.
Pode parar por aqui!
Um dos músicos mais populares do Rio Grande do Sul, MC Jean Paul tem, hoje, uma legião de fãs, tanto nas suas redes sociais quanto nos seus shows. Com cinco fã-clubes oficiais, o funkeiro pode se orgulhar de uma relação intensa e de carinho com os seus admiradores.
Porém, o amor que muitos demonstram nas redes precisa ter alguns limites, como observa o próprio artista gaúcho:
– Acredito que o fã se espelha no seu ídolo, idolatra ele. Até aí, tudo bem. O problema é quando ultrapassa essa relação. Quando o fã deixa de ser fã e se acha no direito de invadir a vida pessoal do seu ídolo. Quando confunde amor de fã com sentimento de posse, já não é mais fã.
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Filtro necessário e o susto
Em 2009, o músico passou por um susto. O rapaz, que não integrava nenhum fã-clube do funkeiro, começou a imitá-lo em tudo, desde roupas, cabelo e até na forma que Jean falava. Com o passar do tempo, o menino começou a segui-lo.
– A impressão que eu tinha é que ele queria ter a minha vida. Avisei toda a minha equipe. Ele já tinha me pedido emprego, eu já tinha falado com ele algumas vezes, sempre queria estar por perto e começou a ir nos meus shows. Uma vez, apareceu na frente da minha casa, vi que estava transtornado. Mas foi embora e ficamos alertas. Ele acabou desaparecendo – relembra o músico.
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Jean Paul valoriza o seu fã-clube oficial por também selecionar quem ingressa nele.
– É importante esse trabalho, pois filtra quem realmente tem o verdadeiro sentimento de fã de uma forma mais controlada. Um fã de verdade nunca fará mal para o seu ídolo e sempre desejará o melhor para ele. Um fã de verdade quer ver seu ídolo feliz – defende o gaúcho depois do susto que passou.
Uma relação de respeito e carinho
Greyce Barbosa, 21 anos, presidente do fã-clube Nossa História, que acompanha Jean Paul em shows pelo Estado afora, comenta que a recepção aos novos integrantes tem lá seus cuidados.
– Estamos sempre presente, e ele nos atende com carinho e amizade. Quando entra uma nova fã, ela vai até um show conosco, já começa a se integrar com as meninas, e o Jean as recebe com um "seja bem-vinda!", Então, ali já surge o respeito. Não precisa passar dos limites para ter contato com ele! – argumenta a presidente do fã-clube, que conta com 30 aficionados pelo funkeiro.
"Aconteceu só uma vez. Não acontece toda hora"
Apresentadora do Saia Justa, do GNT, que nesta semana gravou a estreia do projeto Saia Justa por Aí em Porto Alegre, Astrid Fontenelle é categórica e tem uma visão diferente e interessante dessa situação: sempre que tem tempo, responde às interações e críticas de fãs pelas redes sociais, principalmente via Twitter. Ela diz que não tem medo de aproximações mais violentas e acredita que, dificilmente, uma situação parecida com a da Ana se repetirá:
– Aconteceu uma, só uma vez. Não acontece toda hora. É uma situação em um milhão. É lamentável, não tem graça nenhuma o que aconteceu. Minha solidariedade total à Ana e, principalmente, à cunhada.
Mas Astrid ainda defende uma postura positiva da relação com o público.
– Não cabe mudar o jeito que a gente faz as coisas, a rotina. A gente tem muito mais fãs do bem do que os maluquinhos – garante.
Barraco do outro lado do mundo
Um dos nomes da música no Brasil que arrasta milhares de fãs a cada show, Wesley Safadão foi ter problema com um deles em Dubai, nos Emirados Árabes. Lá, em uma festa, Thyane Dantas, esposa do cantor, se irritou em uma boate com uma admiradora do marido e jogou champanhe na mulher, causando um barraco no espaço e provocando uma ação imediata dos seguranças da casa noturna, que separaram as duas.
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A confusão teria começado quando a fã chegou para tirar uma foto ao lado do ídolo. Os dois teriam emendado um papo, o que teria atiçado o ciúme de Thyane. Ao achar a moça um pouco abusada, não pensou duas vezes e jogou bebida nela. A fã, por sua vez, não deixou por menos e virou seu drinque na rival. Mas, em entrevista a Retratos da Fama, por e-mail, Safadão coloca panos quentes e diz que os fãs são tranquilos:
– O máximo que acontece é receber alguma peça íntima jogada no palco (risos). Nossa relação é muito saudável, tenho fãs carinhosos e atenciosos.
Mentiras com direito a bilhete de ameaça
E não é que as subcelebridades também passam perrengues com o seu público? Uma das representantes da categoria, Mulher Melancia, ou também conhecida como Andressa Soares, já teve problemas com um sujeito que morava perto da sua casa.
– Ele dizia para as pessoas da rua onde eu morava que já havíamos sido casados, que morava há dez anos na rua porque eu mandei ele ir morar comigo e, depois, não quis mais, que eu havia rejeitado ele – contou Andressa, em relato enviado por sua assessoria de imprensa.
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O amor platônico chegou a tal ponto que o fã roubou um cachorro para dar de presente à mulher fruta e ainda começou a malhar na mesma academia onde Andressa se exercitava:_ Certo dia, ele deixou uma carta no vaso de planta que eu tinha no quintal, me ameaçando, dizia que eu tinha que ficar com ele. Ali, comecei a ficar com medo de verdade e me mudei. Graças a Deus, nunca mais o vi!
Sinais de alerta aparecem no comportamento
Admirar, idealizar, seguir todos os passos de alguém: em um primeiro momento, esse comportamento não é nem um pouco problemático. Aliás, se mostra um processo normal, segundo a professora de Psicologia da Feevale Juliana Pureza:
– A identificação de modelos faz parte do processo de desenvolvimento de crianças e adolescentes. E continua na vida adulta. Pode ser alguém da família, um professor ou uma figura pública, por exemplo.
A preocupação começa quando essa admiração e o tempo investido no ídolo prejudicam outros setores da sua vida. Por isso, a família precisa ficar de olho!
– É preciso observar os sinais de que a saúde mental pode estar prejudicada para perceber um possível problema. Essa pessoa tem boas relações com sua família e com os amigos? Ela desempenha outras atividades do cotidiano normalmente? Costuma ficar muito triste ou ansiosa? Consegue pensar em outras coisas que não o ídolo? – orienta a especialista.Se perceber estes sinais em um familiar, encaminhe para a avaliação psicológica.
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