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Músicos se posicionam sobre a era dos shows vistos pelo celular

A cada dia, cresce o número de fãs que registra parte, ou todo o show, de seus ídolos. Saiba como os artistas convivem com as mudanças e como tiram vantagem disso a seu favor

21/05/2016 - 12h03min

Atualizada em: 21/05/2016 - 12h04min


José Augusto Barros
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Alguns anos atrás, antes de começar um show, vinha o aviso: “Por favor, desliguem seus celulares. Não é permitido fazer filmagem”. Mas o avanço da tecnologia transformou o comportamento do público durante e após o espetáculo, via redes sociais e YouTube, onde os fãs costumam registrar momentos perto dos seus ídolos.

E os artistas que, antes, se incomodavam com a quantidade de flashes no palco, tentam tirar proveito deste fenômeno. Em entrevista a Retratos da Fama, eles falam sobre a era do show visto pelo celular e contam como encaram essa nova forma de consumo do público.

O melhor proveito da tecnologia

Marcelo D2, 48 anos, é um exemplo de músico que usou ao seu favor a obsessão dos espectadores em registrar cada momento dos shows.

– Há tempos, eu vinha notando que a galera filmava direto os shows no celular. No começo, me irritava um pouco, achava que o cara não estava nem aí para o meu trabalho. Mas, depois, comecei a pensar que tinha que usar isso a meu favor. Mesmo assim, ainda acho que as pessoas vivem muito mais nas redes sociais do que na Terra, até – revela D2, em entrevista a Retratos da Fama, por telefone.


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Cinegrafistas amadores

No seu mais recente DVD, Nada Pode me Parar (R$ 30, preço médio), a canção Ela Disse tem intensa participação dos fãs.

– Na gravação do DVD, antes de começar a cantá-la, pedi que todos levantassem a mão para cima, o que não é difícil (risos) e que registrassem com seus celulares a música. Pedi que me enviassem os vídeos, em um e-mail que criei especificamente para isso – explica.

Resultado: mais de 170 mensagens recebidas. E claro, como se tratava de vídeos amadores, teve de tudo: gente que esqueceu de cortar alguns momentos, outros que mandaram imagens suas no show, ao invés do espetáculo...

– Teve até um uma menina que estava com a mãe e dizia: "Manda um beijo pro D2!" (risos) – conta D2, que usou o resultado da iniciativa no DVD.

Muito além dos shows

Músico com 30 anos de estrada entre carreira solo e Engenheiros do Hawaii, Humberto Gessinger, 52 anos, percorre o país com a turnê Louco Pra Ficar Legal e ressalta que este fenômeno transcende a música:

– No dia a dia, as pessoas parecem deixar o prato esfriar no restaurante pra postar foto no Instagram (risos). Nos aniversários, cantam parabéns filmando, até já vi político filmando-se ao ser entrevistado. Talvez, isso tenha vindo pra ficar, talvez, seja um desbunde passageiro de quem não estava acostumado com tanta facilidade de registro audiovisual, e voltemos a viver o tempo real. Não sei.

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Com experiência no Brasil e no Exterior, Gessinger também observa que os registros andam cada vez mais curtos.

– Muita gente filma. Mas noto que esses registros são cada vez mais curtos e com menor qualidade, talvez pelo limite de tempo do Instagram. É muito mais uma vontade de registrar a participação no evento do que oferecer uma versão desta ou daquela música. Acho bacana, uma demonstração de carinho – afirma o gaúcho, por e-mail.

Outros tempos

Ex-vocalista do Grupo Revelação, Xande de Pilares, 46 anos, vê com bons olhos o avanço e o uso da tecnologia durante seus shows.

– É uma contribuição para o artista, e, de certa forma, o fã leva um registro dele para casa – comenta o sambista carioca, por telefone.

Xande relembra a adolescência, quando assistia ao Cacique de Ramos - bloco carnavalesco que surgiu em Ramos, no subúrbio carioca, nos anos 60, e que acabou virando uma das mais famosas rodas de samba da Cidade Maravilhosa.

Segundo ele, se a tecnologia existisse naquela época, a história seria outra:

– Eu teria feito registros históricos. Improvisos do Zeca (Pagodinho), por exemplo. Rapaz, eu teria feito registro da primeira vez que fui ao Maracanã, assistir Flamengo e Vasco.

Ferramenta de popularização

O sambista ainda revela que recebe vídeos pelas redes sociais e que, por meio deles, relembra situações inusitadas dos shows:

– Já recebi imagens que mostravam coisas que falei, que fiz e nem lembrava mais. Quando está no palco, com a adrenalina, o artista quer agradar ao público. Depois, não lembra.

Ao lançar a canção Cheiro Bom, ele começou o rito de todo o artista. Divulgá-la, aos poucos, em seu show, sem saber se cairia no gosto da galera.

– Fui pego de surpresa, algumas pessoas gravaram a canção e postaram no YouTube. Nos shows seguintes, a galera já estava cantando.

Experiência perdida

Luiza Possi, 31 anos, é uma voz destoante dos colegas. Mesmo salientando que curte, responde e assiste aos vídeos que são postados com trechos de seu show, ela mantém uma postura crítica:

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– A pessoa acaba perdendo a experiência de estar ali no momento. E eu me pergunto se ela chega em casa e vê aquele vídeo que ela fez. É chato, o show é um momento de ter uma relação com as pessoas. E fica uma máquina fotográfica ou celular entre você e elas.

Ela considera ainda pior o fã que chega junto ao palco e pede para que o artista pegue o celular e faça uma foto daquele momento, uma selfie do cantor com seus espectadores.

– Acho que isso foi uma invenção dos sertanejos, acho chato. Eu tô cantando, cara, interpretando, sentindo. Uma selfie no meio de uma música, com o cantor, é descabida – critica a bela, por telefone.

Do palco, um mar de luzes

Na única entrevista que deu no Brasil por conta da turnê que os Rolling Stones fizeram por aqui, em fevereiro e março deste ano, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Porto Alegre, Mick Jagger, 72 anos, fez uma fina ironia sobre o fenômeno dos smartphones.

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Ele considerou São Paulo a "cidade do celular" e afirmou que sua impressão foi de que o público paulistano assiste ao show através dos aparelhos.

– Quando olho pra plateia, vejo um mar de celulares – comentou, em entrevista ao programa Superpop, da RedeTV!, comandado por Luciana Gimenez, com quem tem um filho, Lucas.

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Questão legal

A questão legal gera polêmica. O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) informou, via assessoria de imprensa, que, atualmente, o YouTube não paga direitos autorais ao escritório pelas músicas executadas na plataforma. Por isso, são considerados inadimplentes pelo escritório. Quanto às publicações de vídeos no Facebook, o Ecad não se manifestou.

O YouTube informou, em matéria publicada no blog oficial do Google no Brasil, que entrou com uma ação na Justiça, por discordar da maneira que o Ecad cobra pelos direitos autorais.

Em outra matéria, o YouTube anunciou, ainda, que começou a assinar acordos de licenciamento com editoras musicais e a pagar compositores brasileiros e estrangeiros pela reprodução de suas obras no YouTube, e também de forma retroativa, em concordância com as leis vigentes no Brasil. Desde a fundação do canal, em 2005, o site anuncia ter pago mais de US$ 3 bilhões em direitos autorais no mundo.

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