Dia Nacional do Samba
Diogo Nogueira, Jorge Aragão e Moacyr Luz: bambas no fim de semana de samba em Porto Alegre
No Auditório Araújo Vianna, Diogo e Jorge fazem show por conta da data, neste sábado. Já neste domingo, Moacyr traz seu Samba do Trabalhador para a quadra da Imperadores.
Para entrar no ritmo de um gênero que é a cara do país, Porto Alegre prepara cavaquinhos e tambores neste fim de semana especial, que celebra o Dia Nacional do Samba, comemorado oficialmente neste sábado. Além de eventos em comunidades (confira mais no nosso site, diariogaucho.com.br), três expoentes do gênero prometem colocar a Capital no embalo do ziriguidum.
Neste sábado, tem Diogo Nogueira e Jorge Aragão no espetáculo Dois no Samba, no Araújo Vianna. E, no domingo, acontece a estreia do evento Samba do Trabalhador, de Moacyr Luz, na quadra da Imperadores.
Para perpetuar a "espécie"
Aos 36 anos, Diogo Nogueira é um dos expoentes entre os sambistas que apareceram para o grande público nos anos 2000, ao lado de nomes como Xande de Pilares. No show deste sábado, ele deve apresentar canções do disco Munduê (R$ 22, preço médio), lançado na semana passada, e sucessos da sua trajetória como Clareou e Pé na Areia.
Completando 10 anos de carreira em 2017, Diogo fala, em entrevista por telefone, do Rio de Janeiro, sobre o atual momento do gênero, o surgimento de novos talentos e a sua relação com bambas do gênero.
Diário Gaúcho — Como é tua relação com os bambas do gênero, como Jorge Aragão?
Diogo Nogueira — É sempre bom estar por perto, ter por perto pessoas como o Jorge, um amigo por quem tenho grande respeito. E, claro, é um cara que influencia demais o meu trabalho, desde sempre, até pela amizade e pela parceria dele com o meu pai (João Nogueira, 1941 - 2000, um dos maiores nomes da história do gênero no país, autor de clássicos como Espelho).
Diário — Tu és bem mais novo do que o Jorge, tem idade para ser filho dele. Como vês a passagem de gerações dentro do samba?
Diogo — É uma continuação, né? É como se o bastão estivesse sendo passado, a cada novo nome que surge no gênero. E cada sambista tem uma história que está sempre viva, são caras que você cresceu ouvindo.
Diário — Além do teu show e do Jorge, Porto Alegre recebe, neste fim de semana, uma série de eventos pelo Dia do Samba, inclusive, o show do Moacyr Luz. O que achas dessa mobilização?
Diogo — Sensacional! Mostra que o samba está mais vivo do que nunca.
Diário — O samba é um gênero tipicamente brasileiro, com a cara do país. Mas já foi alvo, e ainda é, de muito preconceito. Como avalias a criação do Dia Nacional do Samba?
Diogo — Merecida. É um ritmo que passa de geração para geração, sofreu muitas perseguições. Com a força de quem faz samba aqui, venceu isso. É um ritmo totalmente brasileiro, genuíno. É uma comemoração merecida, como todas as outras datas que as pessoas celebram. E acho muito importante ter shows e eventos nesta data.
Diário— Mesmo que o teu novo disco tenha faixa só tuas, és conhecido como um cara generoso, que recebe material de muitos artistas e prestigia novos compositores. Como consegues acompanhar o surgimento de novos talentos?
Diogo — Eu sou um cara aberto para o trabalho de jovens compositores. Tem alguns aqui no Rio, por exemplo, como o Inácio Rios, que faz um baita trabalho. Sempre tento ter esses artistas junto comigo para que as pessoas saibam que existe gente de muita qualidade, só que ainda não tem toda a mídia que outros mais conhecidos.
"Tem muita gente boa vindo aí"
Uma das grandes referências do samba nacional, Jorge Aragão, 68 anos, é lembrança obrigatória quando se fala na história do gênero por aqui. Nascido no subúrbio de Padre Miguel, no Rio de Janeiro, em 1949, está presente em repertórios de gênios, como Beth Carvalho, Alcione, Zeca Pagodinho e Martinho da Vila, para citar apenas alguns.
Afinal, quem não conhece os sucessos Coisinha do Pai, Vou Festejar, Terceira Pessoa e Enredo do Meu Samba? Em entrevista por e-mail, falou do show e da experiência de cantar com Diogo.
Diário — Que tal a experiência de fazer show com Diogo Nogueira, filho de um grande parceiro seu, João Nogueira?
Jorge Aragão — Eu vi o Diogo nascer e sempre fui um grande amigo e admirador da obra do João Nogueira. Para mim, é uma felicidade poder ter trabalhado com o pai dele e, hoje, fazer esse projeto com o filho. Temos tido ótimas experiências com shows com o Diogo Nogueira em diferentes cidades do Brasil.
Diário — O que achas da criação de um dia específico para um gênero tão brasileiro como o samba?
Jorge — O samba, por si só, já é uma grande celebração, é comemorado diariamente. Mas acho importante termos um dia especial, para o Brasil inteiro reverenciar esse ritmo que tão bem representa o nosso povo.
Diário _ Consegues acompanhar a nova geração de sambistas que surge no Rio?
Jorge — Estou sempre atento aos novos talentos e vejo que, assim como em outros gêneros, o samba se renova. Tem muita gente boa vindo aí.
Diário— Mostrarás alguma canção nova neste show?
Jorge — Isso é segredo. Quem for saberá (risos)!
Serviço:
— O quê: Dois no Samba, com shows de Jorge Aragão e Diogo Nogueira.
— Quando: neste sábado, às 21h.
— Onde: Auditório Araújo Vianna, Avenida Osvaldo Aranha, 685.
— Quanto: restam ingressos de plateia alta central, a R$ 160, à venda neste link.
Estreia entre os gaúchos
Há 12 anos, em dia inusitado, justamente a tão temida, pelos trabalhadores, segunda-feira, o sambista, cantor e compositor carioca Moacyr Luz, 59 anos, resolveu inovar e tentar deixar o dia um pouco mais animado para a galera que labuta desde cedo. Estava criado o Samba do Trabalhador.
A cada 15 dias, no Clube Renascença, em Andaraí, no Rio de Janeiro, ele reúne diversos integrantes do Quintal do Pagodinho - grupo de compositores e parceiros de Zeca Pagodinho - além de convidados ilustres, como o próprio Zeca, Leila Pinheiro e Rildo Hora, para um público de cerca 1,5 mil pessoas, em plena segunda.
— É um dos espaços mais democráticos da cidade, um dos poucos lugares do Rio que reúne gente rica e pobre com naturalidade. Sempre fui um cara que gostava de estar com os amigos e sentia falta disso na segunda-feira, e falta de um evento desses. Na época, o clube estava um pouco caído. Deu certo (risos) — comenta Moacyr, em entrevista por telefone, do Rio de Janeiro.
Pezinho local
No fim de semana do Dia Nacional do Samba, o projeto chega pela primeira vez a Porto Alegre, neste domingo, na Quadra da Imperadores, dentro da tradicional Domingueira Vermelha e Branca. Embalado pelo lançamento do CD (R$ 20, preço médio) e DVD (R$ 25), que leva o nome do projeto, Moacyr, que já lançou 12 discos, afirma que a expectativa para a apresentação é grande!
Até pelo fato de que a gauchada é presença constante no Samba do Trabalhador, no Rio.
— O número de gaúchos que frequenta o Samba do Trabalhador é impressionante, eles se identificam muito. Vejo grandes grupos daí nas apresentações — afirma Moacyr, um dos mais premiados e requisitados compositores do samba nacional.
O que vem por aí
No show, além de canções do álbum, como Cabô, Meu Pai e Saudades da Guanabara, Moacyr apresenta sucessos do samba nacional de sua autoria, como Vida da Minha Vida, consagrada na voz de Zeca Pagodinho.
— O samba, obviamente, está incorporado na vida dos gaúchos. E tentarei retribuir um pouco do carinho desse público no show deste domingo. Estou muito ansioso pela estreia do Samba do Trabalhador aí — afirma Moacyr.
Direto do Rio
— O quê: Domingueira Vermelha e Branca, com show de Moacyr Luz, Casarão do Samba, Pagode da Nena e Cezar Carioca.
— Onde: Quadra da Imperadores, Padre Cacique, 1.567
—Quando: neste domingo, a partir do meio-dia.
— Quanto: ingressos a R$ 25.
Data estadual
— Em 3 de setembro de 2013, a Assembleia Legislativa aprovou, por unanimidade, o Dia Estadual do Samba, projeto de autoria do deputado Raul Carrion (PC do B). No Estado, a data já era comemorada em Porto Alegre, Canoas, Esteio, São Leopoldo, Pelotas, entre outras cidades.
No Brasil
— O Dia Nacional do Samba surgiu na década de 40 em homenagem ao compositor brasileiro Ary Barroso, por iniciativa do vereador baiano Luis Monteiro da Costa. Foi em um 2 de dezembro que ele visitou, pela primeira vez, a capital Salvador.
Sem jamais ter pisado na Bahia, Ary havia composto o sucesso Na Baixa do Sapateiro. A comemoração foi se espalhando pelo Brasil e virou data nacional.
* Fonte: PETILLO, Alexandre. Curtindo música brasileira: um guia para entender e ouvir o melhor da nossa arte. Caxias do Sul: Belas Letras, 2013.