Na telinha
Grazi Massafera conta como "Bom Sucesso" a conecta com sua origem humilde
Atriz paranaense é a protagonista da novela da sete
De participante de reality show a indicada ao Emmy Internacional por sua atuação como a garota de programa Larissa, em Verdades Secretas (2015): não restam dúvidas de que Grazi Massafera, 37 anos, hoje pertence ao clube de estrelas da teledramaturgia brasileira. Agora, ao protagonizar sua terceira novela – já esteve à frente de Negócio da China (2008) e Flor do Caribe (2013) –, a atriz paranaense reafirma seu talento como a intérprete de Paloma, em Bom Sucesso.
Na trama das sete, Grazi interpreta uma costureira que cria os três filhos sozinha. Nos primeiros capítulos, sua vida sofreu uma incrível reviravolta ao ter os exames trocados com os de Alberto (Antonio Fagundes) e achar que morreria em seis meses. Após o esclarecimento do erro, os dois se conheceram e nasceu uma bela amizade. A partir daí, o destino deles – e de suas famílias – se entrelaça.
Se a artista está pronta para mais este desafio?
– Pronta e relaxada, nunca. Mas me sinto mais segura, sim – garante.
Neste papo, Grazi fala sobre o passado humilde, a relação com a filha, Sofia, sete anos, e sua identificação visceral com a atual personagem.
Qual é a sua motivação ao protagonizar Bom Sucesso?
O fato de poder fazer uma homenagem a minha mãe (Cleusa), que é costureira. Ela me remete a uma mulher que eu também sou. Eu volto para esse lugar com pé no chão, de povo, de público, do popular, da vivência do cheiro da máquina de costura, daquele barulho que ficou na minha cabeça desde a infância. Lembrei do quanto minha mãe trabalhava, e como isso me ajudou a me tornar uma mulher forte e batalhadora.
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Então, existe uma grande identificação com a personagem?
Sim. E tem um resgate de coisas populares e do público que eu fui durante toda uma vida. Agora, vivo dando entrevista, virei atriz de novela, saí desse lugar, mas carrego uma simplicidade. Estou amando fazer esse resgate e trazer essa coisa mais espontânea.
Discussões sobre os múltiplos papéis da mulher na sociedade estão cada vez mais em foco. Qual é a responsabilidade de interpretar uma personagem que é a síntese dessa questão?
É grande porque acaba sendo uma homenagem a todas. A gente está vivendo um momento feminino muito bonito, com personagens interessantes. Me sinto com maturidade para fazer uma personagem assim e retratar a vida de mulheres, mesmo que na ficção.
E como é estar na pele dessa mãe batalhadora de três adolescentes, Alice (Bruna Inocêncio), Gabriela (Giovanna Coimbra) e Peter (João Bravo)?
Agora sou mãe de três, né? É uma grande diferença. Sou mãe de uma criança, já a Paloma tem filhos adolescentes. Eu tive a sorte e o prazer de poder conquistar minha independência financeira antes de ser mãe. Isso faz uma grande diferença. Vemos que muitas mulheres não têm essas condições. Eu me lembro da minha mãe e do cuidado comigo e com os meus irmãos (Alexandre, Alecsandro e Junior). Ela se separou do meu pai (Gilmar) e ficou numa situação mais complicada. Jurei que seria mãe só quando conseguisse minha independência financeira. Já para Paloma e para tantas outras Palomas, a situação é muito mais complicada. Há muitas Palomas por aí. Então, acaba sendo uma homenagem a elas.
Está preparada para a adolescência de Sofia?
Não estou (risos). Eu fui adolescente no Interior (nasceu em Jacarezinho, no Paraná). É diferente de ser adolescente no Rio de Janeiro. Aqui há muitos atrativos. Então, conto com o auxílio do pai (o ator Cauã Reymond), e há muita conversa com ela. Eu não conseguia mentir para a minha mãe. Criamos uma relação de amizade, que acho muito bonita até hoje, e tento ter isso com a Sofia.
A temática da morte é abordada de que forma na história de Paloma?
O fato de a Paloma ter uma data (para morrer) a faz se transformar e viver uma vida mais intensa, a partir desse contato com a finitude. Acho que isso é bom para questionar: “Como você está vivendo a sua vida?”. Mas está sendo prazeroso, é uma novela que tem muito drama, mas tem uma pitada de humor e de leveza. Eu sei que protagonista sofre do início ao fim, mas vamos lá, gente, vamos sofrer!
Em 2010, você e Antonio Fagundes participaram de uma mesma novela, Tempos Modernos, mas eram de núcleos diferentes. Como é ser parceira de cena dele em Bom Sucesso?
Ele está me fazendo entrar mais em contato com a leitura. Fagundes é uma enciclopédia ambulante. Nos presenteia (o elenco) com livros divinos. Já estou com uma listinha que ele me deu, mas não estou conseguindo ler. É um presente estar ao lado desse homem.
Você se sente pronta e relaxada para viver uma nova protagonista?
Pronta e relaxada, nunca. Mas me sinto mais segura, sim.
Sua personagem tem uma ligação forte com a leitura. E você?
Não. Na minha casa, quando eu pegava um livro para ler, minha mãe falava: “Ei, vagabunda! Vai trabalhar!”. Livro era uma coisa que significava “não ter o que fazer”. Para a maioria dos brasileiros, infelizmente, ainda é assim. Não julgo minha mãe e minha família, mas tinha uma conotação de não estar fazendo nada. E pelo contrário, né? É tão lindo, e o hábito de ler precisa ser desenvolvido desde cedo. Hoje, eu leio com a minha filha. Recentemente, estava lendo o livro da Ana Claudia Quintana Arantes, A Morte É um Dia que Vale a Pena Viver (leitura de apoio do elenco de Bom Sucesso). É maravilhoso.
Paloma vai se envolver em um triângulo amoroso com Marcos (Romulo Estrela) e Ramon (David Junior). Como essa dinâmica vai se estabelecer?
Depois da troca de exames, a vida dela muda. Essa situação faz com que ela veja a vida de outra forma: pondere, questione e viva mais intensamente. Paloma nunca se daria ao direito de uma “paixonite” com o Marcos e, depois de tudo o que aconteceu, se permite viver isso. Não é uma coisa que ela controle. Marcos é uma pessoa que mexe com ela. Ramon é um amor de adolescência, eles têm uma filha. É uma coisa que desgastou, mas, ao mesmo tempo, existe aquela raiz. Então, isso é legal: a contradição, o conflito.
Como administra seu tempo?
Eu trabalho de segunda a sábado, 11 horas por dia. De resto, estou dentro de casa, grudada na minha filha e estudando texto. Eu estou ficando verde. Minha cor bronzeada é de mentira.
O que podemos esperar de Bom Sucesso?
Espero que as pessoas gostem, pois estamos fazendo com carinho, gravando desde fevereiro. Está uma loucura, porque tem sequências que a gente nem fechou ainda. Estou gravando de trás para frente, de frente para trás. Na hora que reunir tudo isso, nem sei.
Gravando nesse ritmo intenso, sobra tempo para cuidar da saúde e da beleza?
Estou tentando dormir melhor, tomo vitaminas e faço ioga, que é a minha nova paixão. Não estou conseguindo fazer tanto quanto queria. Gosto de esportes, de me exercitar, sou do dia, e isso já ajuda muito. Estou levando dois litros de água, todos os dias, para o estúdio. O meu maquiador – Maicon, que eu amo – é quem me fala a hora de comer, porque, às vezes, esqueço.
Nas redes sociais, você faz vários posts sobre a prática da ioga. Como isso se enquadrou na rotina?
A gente vai aos pouquinhos. A ioga não tem comparação: você vai ao limite e sente a evolução do seu próprio corpo. Eu não suportava. Brinco que é igual à comida japonesa: come uma vez e acha ruim. Depois, vai gostando. Eu senti a diferença na minha vida e na minha profissão. A gente não sabe respirar, ainda mais hoje, em que é tudo para ontem, uma loucura. Eu acho que essa conexão foi importante e está sendo interessante para mim. Aliás, estou aflita por não conseguir fazer todos os dias.
*Viajou a convite da Globo.