Mães da vida real
Confira a rotina de quatro mães famosas no período de isolamento social
Vanessa Uflacker, Shana Müller, Daniela Ungaretti e Isabel Ferrari falam sobre a relação com os filhos neste período de intenso convívio
Neste Dia das Mães, em um momento tão atípico como o que vivemos, de isolamento social em função da pandemia de coronavírus, a relação entre mães e filhos assume um outro significado: com mais tempo dentro de casa, a conexão fica ainda mais intensa, o que gera novas experiências em relação à convivência. Com a redefinição da rotina de atividades, os laços se estreitam, pois, ao trabalhar direto de seus lares ou com a jornadas reduzidas, as genitoras podem acompanhar seus rebentos mais de perto e também aprender com eles. No Diário Gaúcho, confira o bate-papo com quatro mamães conhecidas pelos gaúchos para saber como anda o confinamento ao lado dos filhos pequenos, crescidos ou até dos que estão por vir. Tudo, claro, sem ignorar os problemas que nos rodeiam, mas usando-os para mudar o olhar sobre o momento e curtir instantes inesquecíveis com a família.
"Não tem maternidade perfeita"
- Eu não minto. Aqui, não tem maternidade perfeita.
Assim, Shana Müller, 40 anos, cantora e apresentadora do Galpão Crioulo, define não só o período de isolamento social, mas sua experiência materna. Ela é mãe de Gonçalo, três anos, e de Francisco, um ano, e está no terceiro mês da gestação de seu terceiro filho. Confinada há cerca de 30 dias, Shana e o marido, o cirurgião digestivo Juliano Chibiaque, 39 anos, estão se dividindo entre Porto Alegre e a fazenda dos pais da artista, em Júlio de Castilhos, região central do Estado:
- Aqui, na casa dos meus pais, tenho a ajuda da minha mãe, Sandra, e da Ana, que trabalha com ela há anos e mora aqui. Assim, pude liberar as babás que trabalham comigo em Porto Alegre, para que possam cuidar de suas famílias, mas sigo pagando elas. Mas, aqui, a rotina tem sido muito louca.
Volta no tempo
Nesta gravidez, assim como nas anteriores, Shana afirma que tem sentido muitos enjoos.
- É uma situação complicada, tendo um nenê em casa, que demanda atenção, e o Gonçalo, que está sem as atividades da escolinha. Em alguns dias, só tinha vontade de ficar deitada, tudo que eu comia, vomitava. Agora, melhorou - relembra Shana.
Por outro lado, ela destaca pontos positivos. Um deles foi a festa preparada para o aniversário de um aninho de Francisco, celebrado no domingo passado. Antes da comemoração, a cantora colocou a mão na massa, fazendo os cachorros-quentes, a pipoca, os brigadeiros, o bolo e a decoração da festa.
- Voltei no tempo, lá nos anos 1980, quando eu era criança e eram meus pais que faziam toda a decoração das festas, com balões e velinhas. As fotos eram maravilhosas. Me voltou (à memória) um tempo de simplicidade, um tempo de coisas que realmente importam - reflete.
Ao final, ela celebra a oportunidade de ter a ajuda de sua mãe:
- Nesses momentos, vejo como Deus é sábio. Enquanto estou passando por essas dificuldades, estou aqui com a minha mãe me cuidando. Quem olha eternamente pelo filho é a mãe. Sempre gosto de dizer que quem olha pra gente, na hora do parto, é a nossa própria mãe. Eu não seria mãe sem a minha mãe. Ela criou quatro filhos, trabalhou fora, é uma avó incrível. Ela me ensina, todos os dias, como é ser mãe.
"Está nascendo outra mãe”
À espera de Gael, que deve nascer em junho, Vanessa, 40 anos, da dupla com Claus, 41, faz uma reflexão interessante sobre o período de isolamento. Na visão dela, inicialmente, como ninguém sabia o que vinha pela frente, as pessoas encararam o início do isolamento como um período destinado a uma espécie de descanso.
- Na primeira semana, as pessoas ainda estavam cansadas do trabalho e da rotina. Depois, fomos vendo a gravidade da situação e como aquilo estava impactando a nossa vida - reflete a cantora.
Sobre estar grávida nesse momento de pandemia, ela revela que teve dúvidas, no início, sobre eventuais riscos. Porém, com orientação de sua ginecologista, foi vendo que não existia um perigo significativo para qualificar sua gestação como de risco. Em isolamento em casa, em Porto Alegre, ao lado de Claus e de Olívia, Vanessa afirma que o confinamento deu a chance de uma conexão diferenciada entre a família.
- Acho que o mundo estava precisando mesmo de uma parada. Tanto é que vemos benefícios em várias escalas, na natureza, na relação com a família, na nossa relação interior - reflete.
Nova versão
Na atual situação, Vanessa enxerga aspectos positivos, como o fato de não precisar encarar horas de estrada nem subir aos palcos neste momento da gestação.
- Estou curtindo muito mais do que quando tive a Olívia. Na gestação dela, trabalhei até uma semana antes do nascimento. E, um mês depois do nascimento, eu já estava lá, no palco do Planeta Atlântida, fazendo show. Com Gael, está sendo bem diferente, nasceu outra mãe aqui - afirma a cantora gaúcha.
Sobre a intensidade de convivência com a filha, Vanessa conta que vê a pequena mais segura e tranquila por ter os pais com ela o dia inteiro.
- Foi uma oportunidade de me aproximar da minha filha. É um sonho ter um pai o dia inteiro, cozinhando, brincando, dando ordem, limite, tudo isso é importante. Vejo que ela está muito feliz - afirma ela, que completa:
- Mas, a parte ruim disso é não ter a liberdade de sair, de se isolar (da rotina do dia a dia). É um paradoxo.
“Eles são minha força e minha luz”
Mãe de João Pedro, 20 anos, Miguel, oito, e Clara, um aninho, Daniela Ungaretti, 43, apresentadora do Bom Dia Rio Grande, está vivendo intensamente o período de isolamento social, como ela mesma define. Atualmente, Dani só sai de casa para trabalhar, na sede da RBS TV, e volta para o lar, onde permanece o restante do dia, com o marido, Daniel, 45 anos.
- São três filhos que precisam de atenção, mas que têm necessidades diferentes - explica Dani.
O filho mais velho, João Pedro, é o que demonstra ansiedade, pois trabalha, estuda e costumava sair bastante.
- Já o Miguel é mais quieto, difícil é tirá-lo do videogame. Às vezes, tem que ter uma voz mais firme, e fazer com que ele esteja junto conosco, fazendo outras coisas - relata.
Enquanto isso, a pequena Clarinha é um caso à parte. Mexe em tudo, não para quieta, "não dá para tirar o olho dela", conta Daniela:
- A Clarinha dá um cansaço físico maior, exige mais energia. Estamos sempre inventando coisas para fazer com ela. Porém, traz aquela alegria, aquela agitação pra dentro de casa, que é gostosa. Ela está numa fase muito linda, em que cada dia descobre coisas novas.
Boa lição
Com três filhos que demandam tempo e energia, Dani ressalta a importância, e a dificuldade, de achar um tempo para dar aquela respirada.
- Quem é mãe sabe que isso é um tanto difícil, pois sempre tem um filho "grudado", precisando de algo. Mas é importante que a mulher tenha esse tempo só para ela - aconselha.
Fazendo um balanço do período, ela reconhece que, em um momento de exceção como esse, a sua família, como as demais, tem pequenos conflitos e desentendimentos. Mas é possível fazer do limão uma limonada e tirar uma bela lição.
- Antes, tínhamos tantos compromissos, tantas coisas na cabeça, que a gente fazia tudo correndo, não dando atenção necessária para as pessoas que mereciam essa atenção. Estamos conversando mais um com o outro, olhando com mais atenção um pro outro.
E estamos nos entendendo e nos enxergando melhor como família - reflete a jornalista, que passará o Dia das Mães em casa, claro, com a família:
- Eles são minha força e minha luz.
"A gente precisa se organizar de maneira diferente”
Isabel Ferrari, 47 anos, jornalista da RBS TV, conhecida pelo bom humor e carisma, define dessa maneira a convivência com o filho, João Pedro Ferrari Santos, o Pedrinho, nove anos, em tempo integral:
- Tenho certeza de que o guri é o top bagunceiro e arteiro (risos). Eu já sabia disso antes. Agora, tenho certeza.
Isabel, que está em isolamento com o pequeno e com o marido, Joel Santos, 47 anos, está tendo de "virar nos 30". Nesse período, ela conta, tem aprendido bastante com o marido, que trabalhava em casa há muitos anos.
- A gente precisa se organizar de maneira diferente, tem que ser produtivo e ser mãe, ao mesmo tempo.
Meu desafio é administrar as minhas tarefas em casa e, também, as coisas que tenho de fazer na RBS TV. E fiquei feliz com a minha reinvenção na profissão, fiquei muito orgulhosa de mim mesma, fiz matérias sem cinegrafistas, só com vídeos que eu fui atrás, que eu produzi – comemora.