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Bons exemplos

Eles não ficam parados: quatro artistas que movimentam a cultura gaúcho em tempos de pandemia

Um dos exemplos é Negra Jaque, que está à frente do projeto da construção de uma casa de cultura no Morro da Cruz

27/02/2021 - 12h12min


José Augusto Barros
José Augusto Barros
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Reprodução / Facebook

Em 2020, com a  pandemia de coronavírus, o mundo se viu, praticamente, paralisado. Algumas atividades, com restrições ou adaptações, conseguiram manter alguma normalidade. Porém, a cultura, desde o começo, tem sido uma das áreas mais atingidas.

No início, as transmissões ao vivo, ou lives, foram a saída encontrada pelos artistas para conseguir alguns patrocínios, manter o seu sustento e o de suas equipes. Porém, o formato foi perdendo força e a galera da cultura foi tendo que achar outras maneiras de se virar nos 30. 

Com a chegada de 2021, a expectativa era de que, aos poucos, pequenos shows, peças de teatro e apresentações fossem retomadas. Até que chegamos no momento atual, o mais crítico desde o início da pandemia de coronavírus. Para trazer uma mensagem de otimismo e um sopro de esperança, Retratos da Fama deste fim de semana foi atrás de iniciativas de artistas locais que podem se sustentar pós-pandemia e que tem potencial para oferecer oportunidades para outros talentos, como o estúdio multicultura do Alma Gaudéria ou o Centro de Cultura no Morro da Cruz, que tem como uma das artífices a rapper Negra Jaque. 

São iniciativas de artistas batalhadores que, no meio da crise, tiveram que pensar em saídas diferentes, para que a roda da cultura siga girando. Confira e ateste que, mesmo em tempos difíceis, existe uma saída.

Livro e série

Um dos nomes mais representativos do rap gaúcho, Rafa, do grupo Rafuagi, conta que, durante a pandemia, ele vem mirando para além das lives. Um dos exemplos foi o lançamento da série Faça Você, no Facebook, Instagram e YouTube do artista, em vídeos de um minuto.

–  Claro que as lives, muitas vezes, contribuíam no caráter relacionamento e imagem (de um músico com o seu público). Mas, com os produtos digitais que lancei, como essa série, visei para além de ajudar diversos atores e atrizes sócio-culturais, mas também contratos de consultoria com órgãos do primeiro, segundo e terceiro setor, para que em momento de não realização de shows, bem como de eventos nos projetos que atuo, a exemplo da Casa da Cultura Hip Hop de Esteio, pudesse gerar trabalho e renda – explica Rafa,


Inquieto

Outro projeto do gaúcho, ainda mais nos dias atuais, é um passo ousado na sua exitosa carreira de rapper. Em maio, o gaúcho lança seu primeiro livro, Teoria Prática, no qual compartilhará experiências vividas em mais de 20 anos no hip hop, que incluem turnês pelo país, pela América do Sul, pela Europa e muito ativismo social. 

Emicida fez o posfácio do livro de Rafa

- A ideia do livro, que tem posfácio do Emicida, surgiu com o propósito de apresentar o método de construção dos principais projetos de impacto social e de políticas públicas que consegui ajudar diversos coletivos a construir ao longo da história desses coletivos e da minha história, também - explica Rafa, 32 anos, que mora em Esteio. 

Rafa buscou, ainda, novos projetos, que possam ser inaugurados pós-pandemia, como o Museu do Hip Hop do Rio Grande do Sul, por exemplo. 

- Teremos, ainda, o Festival Cuida Natura RS, que acontecerá em abril, de modo híbrido (se essa modalidade for possível) - afirma. 

Sonho que será realizado

Expoente dos últimos anos do rap gaúcho, ativista de voz forte, Negra Jaque, 32 anos, está trabalhando, durante a pandemia, em um projeto que promete ajudar boa parte da cadeia de músicos de periferia de Porto Alegre: o Galpão Cultural Casa de Hip Hop, no Morro da Cruz. A obra, que estava parada desde o fim de 2018, por falta de recursos, foi retomada no ano passado, após o lançamento de uma campanha de financiamento coletivo. 

Fabiana Menini / Divulgação
Negra Jaque é uma das artifícies da Casa de Cultura

A construção do Galpão começou em 2015, depois que os pais da rapper, Maria Aparecida Trindade Pereira e Luis Carlos Gonçalves Pereira (já falecido), doaram o terreno. O próprio pai de Jaque ajudou a construir e organizar o material que chegava. Nesta semana, Jaque, seu irmão, o artista de grafite Geovane Trindade Pereira, conhecido como Getri, e seu companheiro, Inácio, estavam no local, com a mão na massa. 

- Terminamos de construir a parte da frente de um galpão que será um espaço alternativo para lives e um espaço para o meu trabalho, também, já que, hoje, eu faço as transmissões da minha casa. Nesse período todo, participei de lives, claro, mas estou realizando meu sonho. Pintaremos a fachada toda com grafite, montar esse espaço de cultura.


Projeto

A ideia de construir o Galpão surgiu a partir do Sábado Cultural, evento de cultura e arte com oficinas e mostras culturais, entre outras atividades, que já teve 10 edições no Morro da Cruz. Ela explica que, quando estiver pronta e a pandemia permitir, a casa vai oferecer atividades diárias: oficinas, projetos musicais e audiovisuais, biblioteca, espaço para ensaios artísticos e sala de cinema comunitária - entre outras ações que já são desenvolvidas na comunidade, como o próprio Sábado Cultural. Novos projetos também serão bem-vindos.. 

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Obra do espaço foi retomada após financiamento coletivo

- Será um espaço, também, para oficinas, sejam elas ligadas à cultura hip hop ou não. Será aberto para todas as formas de cultura solidária, democrático e acessível. Quero que seja um espaço acolhedor, colorido, com a estética de uma cultura democrática, sempre foi meu sonho.  Acho que é legal que o rap esteja na rua, mas ter uma casa para voltar é bom demais - finaliza ela. 

Espaço democrático

Grupo acostumado a cortar as estradas do Brasil fazendo shows (além dos três Estados da Região Sul, o Alma Gaudéria já tocou no Paraná, em São Paulo, no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul), o Alma Gaudéria sofreu um baque quando a pandemia de coronavírus chegou ao país. Com os shows cancelados, Fernando Espíndola, voz solo e líder do grupo, começou a pensar em projetos paralelos, projetando o futuro. 

Rogério Bastos e Liliane Bastos / Divulgação
Grupo aposta no novo espaço para auxiliar os músicos

- O importante é saber que, quando se fecha uma porta, existe sempre outra janela. O importante neste momento é pensar fora da caixa, saber que o mundo lá fora muda a todo o momento e que o mais importante é adaptar-se o mais rápido possível - afirma o músico.


Mercado


Foi com essa filosofia que surgiu o Espaço AG, uma espécie de estúdio, na Vila Jardim, zona norte da Capital, na casa em que Fernando mora e onde o grupo ensaiava. A proposta do local é que músicos possam gravar suas músicas e transmitir suas lives.

- Acho que a leitura rápida do mercado foi o que fez o Alma ter essa iniciativa. É um espaço de cultura multiuso, auxiliou e continuará auxiliando durante a pandemia. E, após a pandemia, será referência no nosso setor - afirma Fernando.

No último ano o espaço sediou lives de nomes conhecidos da música gaúcha, de diversos gêneros, de Rafael Malenotti ao Gaúcho da Fronteira.

- É um espaço muito democrático, para artistas de todos os gêneros: rock, samba, pop, MPB, nativista. E também tivemos eventos de poesia e lançamento de livros. E ainda temos uma rádio web no local - explica Fernando. 

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Gaúcho da Fronteira também esteve por lá
Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Malenotti e sua turma aprovaram o espaço

Um novo formato

Um dos nomes mais conhecidos da música gaúcha, e do Litoral Norte, Enzo Munari tem fé que 2021 será um ano diferente, depois do difícil 2020, por conta da pandemia de coronavírus. Após mais de 10 anos de parceria com o irmão, Rodrigo, em uma dupla que rendeu muitos frutos, inclusive com música em trilha sonora de novela da TV Globo, (Traz de Volta a Minha Vida, que esteve na trilha de Paraíso, em 2009), Enzo aposta forte na carreira solo. Depois que a dupla se desfez, Enzo integrou, ainda, o Tchê Barbaridade. 

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Enzo aposta nos shows menores, quando o mundo voltar ao normal

Até o início deste mês, ele vinha fazendo apresentações menores pelo Litoral Norte, no formato voz e violão ou voz e gaita, sem banda, e com as casas com lotação restrita, respeitando as normas de distanciamento.


Origens


Agora, com as restrições da bandeira preta em todo o Estado, os shows pararam, novamente. Mesmo após a mudança de bandeira, Enzo acredita que esse formato de shows menores, voz e violão, quase como uma volta às origens, tocando em bares, será a saída para um novo momento.

- Neste ano, usarei muito as redes sociais e lançarei bastante material nas plataformas digitais, apostando forte na minha carreira solo. E, quando as coisas começarem a retomar a normalidade, os shows terão que ser no formato voz e violão, com certeza – acredita o gaúcho.


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