TV cada vez mais colorida
Orgulho e diversidade na telinha: personagens LGBT+ marcam presença nas novelas
No Dia do Orgulho LGBT+, relembre alguns personagens que fizeram história na teledramaturgia
As conquistas da comunidade LGBT+ têm acontecido a passos lentos, são marcadas por muita luta, preconceito e invisibilidade. Se as novelas são um espelho da realidade, nada mais justo que as tramas exibam todas as formas de amar, para que as mais diversas pessoas se sintam representadas na telinha. No Dia do Orgulho, selecionamos alguns personagens recentes que mostram que, como canta Milton Nascimento, "qualquer maneira de amor vale a pena".
Mudanças importantes
Em Renascer, a história de Buba (Gabriela Medeiros) sofreu modificações com relação à trama original. Se em 1993 Maria Luísa Mendonça era intersexual (antigamente chamada de hermafrodita), a nova Buba é uma mulher trans. Foi de fundamental importância também o espaço que o autor Bruno Luperi deu à família e ao passado da personagem. O reencontro com os pais, a rejeição sofrida e toda a dor de não ser aceita pelo que é foram exibidas com sensibilidade em cenas emocionantes.
A intersexualidade não ficou de fora do remake. Em homenagem à Buba original, agora é o bebê de Teca (Lívia Silva), Cacau, que apresenta a condição.
Em dose dupla
A diversidade está presente em todos os lugares, inclusive nos locais mais inóspitos do país. Em Terra e Paixão (2023), dois casais homoafetivos ganharam espaço. Destaque para a história de amor entre Kelvin (Diego Martins) e Ramiro (Amaury Lorenzo). Apesar da proximidade entre os dois e de muitos apertõezinhos, o capataz negava seus sentimentos, bradava que era "macho", e só com muita terapia e com a paciência de Kevinho, o brucutu se abriu para uma nova e profunda forma de amar. O final feliz dos dois teve muitos beijos, declarações de amor e até casamento!
Ainda na trama de Walcyr Carrasco, Menah (Camila Damião) e Mara (Renata Gaspar) passaraam alguns capítulos como boas amigas e o romance ganhou pouco espaço. O "sumiço" das personagens rendeu até mensagens das atrizes nas redes sociais, lamentando que a história tenha sido abafada. A reclamação parece ter surtido efeito, já que depois disso, o casal teve cena de beijão e mais destaque na reta final da novela.
Pioneira
Mais uma barreira foi quebrada em Elas por Elas (2023), com a primeira protagonista trans da teledramaturgia. Maria Clara Spinelli deu vida a Renée, que tinha uma história muito além das questões de gênero. Era uma mulher abandonada pelo marido, que lutava pra criar os filhos e vivia novos amores. A única menção à transição da personagem foi no reencontro das amigas, já que, há 25 anos, Renée ainda se apresentava como um rapaz gay.
A atriz tem se manifestado nas redes sociais a respeito da falta de oportunidades na carreira, principalmente por não ser chamada para interpretar personagens que não sejam trans. "Se eu não aceitar mais interpretar personagens de pessoas que nasceram transgênero... a minha carreira acaba?", questionou Maria Clara no Instagram.
Censura?
Se na telinha os casais formados por homens gays já são aceitos naturalmente, parece haver ainda uma certa resistência a mostrar mulheres se relacionando. A polêmica se instaurou durante a novela Vai na Fé (2023), quando Clara (Regiane Alves) se apaixonou por Helena (Priscila Sztejnman), e logo o casal ganhou uma forte torcida, principalmente para que o primeiro beijo e o início do namoro fosse mostrado na trama. Foi uma decepção para os fãs quando algumas cenas foram cortadas e não chegaram a ir ao ar. As atrizes revelaram que os beijos foram gravados, mas a equipe da novela optou por não exibir. O primeiro beijo do casal só foi ao ar mais adiante, quando a relação estava consolidada e elas até já moravam juntas. Perdeu-se o timing, afinal, tais cenas mereciam mais destaque. Nos bastidores, comentou-se que o público mais conservador não aceitaria a relação de Clara com Helena enquanto ela ainda fosse casada com Téo (Emilio Dantas). Seja qual for o motivo, foi frustrante.
Polêmica de época
Amor Perfeito (2023) se passava entre as décadas de 1930 e 1940, época em que qualquer comportamento fora dos padrões impostos pela sociedade era malvisto e, em alguns casos, configurava crime. Por conta disso, Érico (Carmo Dalla Vecchia) fazia de tudo para ocultar seu relacionamento com Romeu (Domingos de Alcântara) e esse segredo foi até usado como arma por Gilda (Mariana Ximenes), que chantageava o advogado. Ao longo da novela, Érico acabou se envolvendo com Verônica (Ana Cecília Costa), dando a entender que ele era, na verdade, bissexual. Já casado e pai de uma bebê, Érico reencontrou Romeu e se viu em dúvida sobre o caminho a seguir. Venceu a família tradicional, deixando parte do público desiludida.
A de quê?
Famosa por apresentar assuntos inovadores ao público, Gloria Perez trouxe à tona em Travessia (2022) o significado do "A" na sigla LGBTQIA+. Caíque (Thiago Fragoso) revelou a Leonor (Vanessa Giácomo) que era assexual, ou seja, não sentia atração sexual por ninguém. Isso não o impedia de se envolver romanticamente, só não adicionava o sexo a essa equação.
A convivência com Caíque fez com que o adolescente Rudá (Guilherme Cabral) entendesse por que sempre se sentiu tão diferente dos garotos de sua idade. Ele também era assexual, descoberta que o fez se sentir mais aliviado a respeito de si mesmo.
Peão incompreendido
O carismático Zaquieu (Silvero Pereira) cativou o público no remake de Pantanal (2022). A chegada do mordomo à fazenda de José Leôncio (Marcos Palmeira) provocou muitas confusões e discussões sobre o jeitinho peculiar do rapaz. O sonho de Zaquieu de ser peão foi visto como piada no início, mas aos poucos, ele abriu a mente dos machistas do lugar e deu uma verdadeira aula sobre respeito, diversidade e amor, seja como for.