“Para existir as fadas, existiram as bruxas”, diz Josiane Mores. Na frase, ela se refere à skatista Rayssa Leal, que ganhou notoriedade após um vídeo seu praticando o esporte vestida de fada viralizar. Já a palavra “bruxa” é uma autodenominação. E, sim, Josi tem esse poder. Ouso dizer, inclusive, que dá para chamá-la de lenda viva da história do skate feminino gaúcho. 

O primeiro contato com o “carrinho” foi aos 10 anos, na casa de um amigo de sua irmã. Na ocasião, um dos meninos que estavam por lá foi fazer uma manobra, que era a de descer uma escada. Não conseguiu. Ousada, Josi pediu para tentar. Conseguiu. Desde então, não soltou mais o skate.

Ao longo da fase escolar, o tempo para a prática do esporte diminuiu, mas nunca deixou de existir. No fim do Ensino Médio, aos 18 anos, ela foi a primeira campeã gaúcha de skate. Porém, como o cenário era outro, não existindo muito incentivo e até mesmo, nas palavras de Josi, “nem pista de skate se via”, a obrigação adulta falou mais alto e as coisas mudaram.

– Ser atleta no Brasil é muito difícil, ainda mais há 20 anos atrás. Andar de skate (na época) era coisa de vagabundo, marginal. 

A vida adulta te cobra, sim. E aí eu larguei. Nunca perdi o contato, porque, como tive um escritório de design, acabava fazendo camisetas de campeonato etc, mas parei de andar. E não me arrependo, porque se hoje tenho uma estrutura, é por conta dessa pausa – conta.

Entre a vida e a morte

Em 2020, Josi descobriu uma pedra nos rins e ficou 20 dias na UTI. Neste momento, ela conta ter tido um encontro com Deus, onde tomou conhecimento sobre qual é a sua missão na Terra:

– Minha missão é ensinar crianças a andar de skate. 

Depois disso, a instrutora passou por fisioterapia e outros procedimentos para se recuperar totalmente das sequelas deixadas pelo período que ficou internada. O tempo ia passando, Josi se recuperando, e os acontecimentos mundiais pareciam corroborar para a volta dela ao esporte. 

A nível internacional, Rayssa Leal colocava o skate feminino em pauta nas Olimpíadas de Tóquio, no Japão, em 2020. Em outubro do ano seguinte, Porto Alegre inaugurou a maior pista de skate da América Latina. 

Recuperada, Josi se deu conta que era o momento certo de viver e cumprir seu propósito.

Skate Pras Gurias

O reencontro com o esporte foi a partir de um convite para ser instrutora voluntária no projeto Orla Social, em 2022, que dá aulas gratuitas para crianças. Meses depois, desenvolveu um evento destinado apenas às mulheres que desejavam iniciar no esporte. O sucesso foi tão grande que acabou se tornando uma ação social. 

Skate pras Gurias ocorre uma vez ao mês, em um sábado de manhã, na pista de skate da orla do Guaíba, em Porto Alegre. As instrutoras são mulheres e o projeto dispõe de todo o aparato necessário para aprender a prática. 

A participação não necessita de inscrição e atende qualquer faixa etária. Basta chegar no local e manifestar o desejo. 

Para ficar por dentro de quando rola as aulas, é só seguir o projeto no Instagram (@sktgurias).