Estrelas da Periferia
O corre de Mc Lukinhas, o funkeiro de Santa Cruz
Mesmo com apenas 22 anos, Lucas Espedito já tem longa estrada de batalhas e trabalhos para ter seu nome reconhecido na música
Quem vê Mc Lukinhas, 22 anos, nos estúdios de grandes produtores do funk, em São Paulo e Belo Horizonte, dificilmente imagina a história vivida pelo menino de Santa Cruz do Sul. Criado no bairro Pedreira, Lucas Espedito de Almeida Pires trilhou um longo caminho, levando na sua bagagem o sonho de ser um grande Mc. Ele conta que foi aos 15 anos que o sonho nasceu: inspirado nos gaúchos Mc Tchesko e Mc Felipinho, o menino Lucas foi a Porto Alegre gravar a sua primeira música.
— Depois que eu fiz a minha primeira, eu só quis gravar mais. Nos dias que eu ficava triste, entrava no meu quarto e fazia música — diz.
O funk, segundo ele, foi o que o manteve no caminho certo, o que o ajudou a desabafar, compreender seus sentimentos e se distrair de adversidades. Fora do RS O investimento para esta primeira gravação, assim como para todas as outras, foi feito com seu próprio dinheiro, já que não tem empresários ou padrinhos — como de costume no funk.
Desde os 11 anos, Lucas vende doce na rua. Já vendeu bala, trufa, mandolate e torrone. Além de ajudar a mãe em casa, o dinheiro que ganha com o trabalho suado foi economizado para investir na carreira. Segundo Lucas, muitas pessoas duvidaram que esse trabalho de anos fosse a verdadeira fonte do investimento. Aos que desacreditam, ele responde na música Tão até Falando: “Vai lá no sinal, na rua principal e vê se o trampo do menor não é real”. O clipe, inclusive, foi gravado na quebrada dele, na Pedreira.
As conquistas vêm aos poucos nesses quase 10 anos que Lucas trabalha com o funk. Em 2023, o artista gravou duas faixas e também foi para Belo Horizonte, lar do funk de BH — como é chamado o estilo feito na capital mineira, usado por Lucas, que tem ganhado popularidade nos últimos anos.
Em 2024, já foram três músicas finalizadas. Uma delas foi gravada na Love Funk, em São Paulo, uma das maiores produtoras do gênero no mundo, que lançou artistas como Mc Paiva, Mc Gabb e Mc Mirella. Trata-se de Minha História, um funk consciente, subgênero que se diferencia por suas letras reflexivas, com mensagens politizadas, abordando questões sociais vividas na periferia como a violência, a desigualdade social, preconceitos e empoderamento. Lucas conta que a letra é sobre seus desafios enfrentados, vindo de uma família humilde e lutando contra a dependência química vivida por sua mãe.
— Coloquei todo o meu sentimento de tudo que passamos, eu e ela. É muito difícil, mas eu nunca desisti dela — conta o Mc, que acredita que essa seja a maior música de sua carreira. Segue firme Segundo Lucas, as dificuldades por conta da doença da mãe não o desanimam. Pelo contrário, movem ele:
— A história da minha mãe foi mais uma motivação para entrar no funk. Eu quero dar uma boa vida para ela.
O artista já fez shows em Encruzilhada do Sul e em Cachoeira. O foco agora não é tanto em apresentações e, sim, na composição, já que acredita que quanto mais música tiver, mais reconhecimento terá.
— Tô focado em alcançar o sucesso. Quero esse ano ainda voltar pra Belo Horizonte e gravar mais — conta.
Lucas segue buscando o sucesso, um passo de cada vez. Ele diz que o caminho do artista independente é longo e que nem sempre tudo dá certo, mas usa uma analogia com seu trabalho de vendedor ambulante para explicar como mantém a fé e a confiança que seu esforço será recompensado:
— Eu levo como inspiração meu próprio dia a dia. Olha quantas pessoas eu abordo para oferecer meus doces. Não são todas que compram, mas sempre tem alguém que compra. E é isso que eu levo comigo. Nem toda música eu vou acertar ou estourar, mas uma hora eu acerto um hit, porque cada sonho tem seu preço e seu tempo certo pra ser realizado. Eu acredito muito em Deus e vai ser a hora que ele quiser que minha estrela vai brilhar.
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*Produção: Camila Mendes