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Conheça Dekilograma, multiartista que diz ter "fome de hip hop"

Natural de Bagé e residente de Gravataí, DKG acumula no currículo seis álbuns, prêmio e mais de cem batalhas de rap

13/08/2024 - 17h16min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Arquivo pessoal / arquivo pessoal
Há mais de 15 anos na cena do hip hop, Dkg ainda quer mais.

Desde quando era um guri, crescendo em Bagé, na Campanha, o hip hop já fazia parte da vida de Daniel Guedes Couto. Ele lembra com carinho de um CD que a mãe apresentou a ele, da banda Negritude Júnior, que tinha uma participação do Racionais MC. Essa introdução abriu caminho para uma vida inteira de arte e poesia.  

É poeta, slammer, beatmaker, produtor musical e MC. Tem seis álbuns, diversas colaborações com outros artistas, mais de cem batalhas de rap e diversos eventos no currículo. O trabalho feito por anos, foi reconhecido ao ganhar o 15º Festival de Música de Porto Alegre. 

Dos CDs que comprava no camelódromo de Bagé, aos discos autorais que Daniel vendia de mão em mão na Região Metropolitana, o hip hop era o seu guia. Ele não lembra quando foi que decidiu ser artista. Na verdade, não acredita que tenha tido alguma opção:  

— O hip hop bateu na porta da minha casa e disse “tu tens que vir irmão”. 

Desde então, ele foi. Hoje, como Dekilograma, ou só DKG, o artista de 35 anos continua vivendo da arte e para a arte.  

Daniel se mudou para Gravataí aos 15 anos, quando entrou de fato na cena do hip hop. A mãe queria estabilidade para o filho, tinha medo da vida difícil que leva um artista. Mas DKG não parecia se importar. Trabalhava com o que podia para ajudar em casa e não largou a arte, que sempre esteve em seu primeiro plano. 

— Eu trabalhei de auxiliar de tudo, mas nunca dava certo, porque o hip hop ficava sempre me chamando — conta.

Propósito

Começou no grupo Ideologia RS. Em sua primeira apresentação, cantou em uma escola. Talvez ele ainda não soubesse, mas a educação e arte teriam um forte significado em sua vida: são o seu propósito.  

Com o freestyle, o improviso e as rimas, o artista percebeu o valor da palavra falada. Participou de alguns livros de grupos de poesia antes de publicar o seu livro solo, Palavra. Assim como fazia com suas primeiras gravações musicais, Daniel vendeu diversos livros de mão em mão. Hoje chegam a quase mil exemplares vendidos.  

Arquivo pessoal / arquivo pessoal
Livro também é vendido online.

Além da vida de escritor, compositor, produtor e MC, DKG também é palestrante e ativista. Ele fala em escolas, a partir de projetos que visam aumentar o acesso à cultura aos jovens.  

Além disso, participa da diretoria estadual do coletivo Nação Hip Hop Brasil, que o ajudou desde que chegou na Capital. Como liderança do projeto, ele conta que teve o espaço para poder fazer mais pela comunidade:

— A Nação foi uma das coisas mais importantes que aconteceu na minha vida. Em 2007 fui acolhido pelo coletivo, foi a organização que me formou. Poder estar colhendo, repercutindo políticas públicas com o hip hop é muito importante para mim.

Em uma destas ações, Daniel ajudou a criar a lei municipal que instituiu o Dia do Hip Hop em Bagé, cidade que nunca perdeu espaço no seu coração. Os avós, que são leitores fiéis do Diário Gaúcho, ainda moram por lá. De tempos em tempos DKG volta para a casa para ver a família e fomentar a cena local.  

— Eu nunca deixei de representar minha cidade — afirma, com orgulho.  

Novo lançamento

Recentemente o artista produziu e lançou quatro faixas, para o mini albúm Antes do Próximo, que surgiu a partir de sua ação durante a enchente e da sua observação sobre o que as pessoas viviam. Neste período, inclusive, DKG precisou sair de casa para evitar inundações. E, mesmo fora de seu lar, trabalhou incansavelmente no Nação Hip Hop, coletivo que teve uma ampla atuação social durante a tragédia.  

— Levamos poesia e arte para os abrigos, ajudamos nas doações… Fizemos o slam no Centro Viva, como uma maneira de acolher as pessoas — conta. ,

Incansável

Como se já não tivesse feito tanto pela cultura, Daniel cursa, hoje, História. O objetivo não poderia ser outro: discutir hip hop na academia.  

— Estou adquirindo um conhecimento que também nos pertence. É uma conquista, uma retoma, através da arte, da cultura e da educação — conta. 

Atualmente, DKG está em processo de produção de mais um álbum. E não pretende parar por aqui. Sonha em ter suas músicas tocando em festivais e rádios, além de poder conquistar seu espaço. Essa atuação incansável é natural para ele: 

— Tenho fome de hip hop. Faço arte porque eu vivo ela. 

* Produção: Camila Mendes


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