DELAS
Espetáculo que traz à tona a luta dos Lanceiros Negros terá apresentações neste fim de semana em Porto Alegre
Colunista Giordana Cunha escreve sobre o universo feminino todas as sextas-feiras
O espetáculo infantojuvenil O Lanceirinho Negro, inspirado no livro de mesmo nome da escritora gaúcha Ângela Xavier, será apresentado em diversos espaços públicos de Porto Alegre neste fim de semana (veja abaixo). Com realização do coletivo Trupi di Trapu e contemplado pelo último Edital de Produção Artística do Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre (Fumproarte).
A montagem dirigida por Mayura Matos traz à tona histórias de luta e resistência dos Lanceiros Negros, promovendo reflexões sobre ancestralidade e fortalecimento identitário para crianças e adolescentes. No elenco, estão Anderson Gonçalves, Bruno Fernandes, Jane Oliveira e Yannikson (no papel do Lanceirinho). Ketelin Oliveira integra o grupo, realizando a interpretação de libras.
A peça é uma adaptação teatral da obra, criada para responder às inquietações de uma aluna sobre a Revolução Farroupilha. O espetáculo, rico em sonoridades e elementos da cultura afro-gaúcha, utiliza recursos como atabaques, samba de roda e arquétipos dos orixás para envolver o público em uma narrativa poética e educativa. Os personagens conectam vivências contemporâneas com a memória dos Lanceiros Negros, símbolos de coragem e resiliência.
Além da valorização histórica, a encenação destaca a importância do protagonismo negro, explorando temas como identidade e combate ao racismo por meio de jogos, músicas e brincadeiras afrorreferenciadas.
Com o objetivo de ampliar o debate presente no livro e de expandir cada vez mais a memória dos Lanceiros Negros, o espetáculo teatral O Lanceirinho Negro, proposto pelo grupo, surge como uma possibilidade de resgate ancestral, de difusão de conhecimento e de aproximação das novas gerações com a cultura e com a história negro-brasileira.
TE PROGRAMA!
/// O quê: espetáculo infantojuvenil O Lanceirinho Negro
/// Quando e onde: Sábado (25), 10h30min – Chocolatão | Biblioteca (Rua Mario Juarez de Oliveira, 261, Morro Santana)
Domingo (26), 16h – Redenção | Perto da Cancha de Bocha
/// Quanto: de graça
Com a palavra, Mayura Matos
Como você descreve a importância de adaptar a obra O Lanceirinho Negro para o teatro, especialmente no contexto de um espetáculo infantojuvenil?
A adaptação para o teatro é fundamental para ampliar a percepção das crianças e do público em geral sobre essa história. O teatro, como uma linguagem sensorial e interativa, permite que a mensagem alcance diferentes níveis de compreensão e emocione de maneira única. Além disso, abordar a história dos Lanceiros Negros em uma peça infantojuvenil garante que as novas gerações conheçam o passado sob uma perspectiva afrocentrada, valorizando os heróis negros e fortalecendo a identidade cultural desde cedo.
Quais foram os maiores desafios que você encontrou ao dirigir essa peça, que mistura temas históricos com elementos da cultura afro-gaúcha?
O maior desafio foi adaptar o massacre de Porongos para uma linguagem acessível ao público infantojuvenil, sem suavizar a importância e a gravidade da história. A abordagem lúdica foi essencial: usamos metáforas, como a prisão de um pássaro para representar a escravidão, e estimulamos o público a refletir sobre liberdade e opressão. Trabalhamos com música, capoeira e interação direta com a plateia, criando um espaço onde as crianças podem entender a história de forma envolvente, sem subestimar sua capacidade de reflexão.
A peça utiliza elementos como atabaques, samba de roda e arquétipos dos orixás. Como esses elementos foram escolhidos para construir a narrativa e qual a importância deles dentro do contexto da história dos Lanceiros Negros?
Os elementos culturais foram escolhidos para criar uma conexão profunda com o público e para celebrar as raízes afro-brasileiras. O samba de roda e os atabaques promovem interação e troca, refletindo valores civilizatórios como coletividade e respeito mútuo. Já os arquétipos dos orixás foram trabalhados de forma subjetiva nos movimentos e nas posturas dos atores, servindo como inspiração para representar os Lanceiros Negros como guerreiros. Esses elementos fortalecem a narrativa e ressaltam a ancestralidade presente na história.
O espetáculo tem uma forte ligação com a ancestralidade e a luta contra o racismo. De que maneira esses temas foram abordados de forma acessível e educativa para o público jovem?
Embora o espetáculo não foque diretamente no racismo, ele exalta o protagonismo negro, celebrando a existência e a singularidade de pessoas negras. A história aborda a traição de Porongos, aponta responsabilidades e celebra os heróis negros de forma afirmativa. Essa abordagem educativa convida o público jovem a valorizar a ancestralidade e a história negra, promovendo reflexão e identificação.
Como a obra de Ângela Xavier influenciou sua visão como diretora do espetáculo? Houve algo que você quis modificar ou adicionar em relação ao texto original?
Mantive o máximo de fidelidade possível ao texto de Ângela Xavier, destacando momentos fundamentais como a relação entre avô e neto e as reflexões sobre o ambiente escolar, onde muitas crianças negras enfrentam o racismo. Algumas adaptações foram necessárias para tornar o massacre dos Lanceiros Negros compreensível ao público infantojuvenil, utilizando humor, afeto e linguagem simbólica. Também incluí detalhes históricos para reforçar a importância da resistência e da memória.