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Lucro no bolso

Setembro é o mês do 13º dos músicos tradicionalistas

A vontade de celebrar as coisas do Rio Grande e de ouvir o melhor do som gauchesco levam os fãs a lotarem os espetáculos pelos quatro cantos do Estado

22/09/2013 - 14h01min

Atualizada em: 22/09/2013 - 14h01min


José Augusto Barros
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Mês em que o gaúcho mais manifesta orgulho da sua terra, usa bombachas como vestimenta diária e se muda para o Acampamento Farroupilha, setembro também é o período em que a cultura nativista brilha em uma das suas mais belas manifestações: a música. A vontade de celebrar as coisas do Rio Grande e de ouvir o melhor do som gauchesco levam os fãs a lotarem os espetáculos pelos quatro cantos do Estado.

Por consequência, quem lucra - e tem de enfrentar uma maratona de shows além da média - são os músicos, que se viram nos 30 para cantar nos mais longínquos rincões.

A tarefa exige logística, preparo físico e muita disposição. Mas é claro que tem o lado bom. Para os gaudérios, o mês farroupilha.

Vale tudo: até colocar gengibre no chimarrão

Em setembro, a agenda de César Oliveira & Rogério Melo emplaca 24 shows, enquanto a média nos demais meses é de 12. Mas como não perder a voz com tanta cantoria?

- Dormindo bem e tomando muita água. E, é claro, sem beber álcool - explica César, 42 anos, que conversou com a reportagem em meio a uma viagem, na terça-feira, quando a dupla chegava em Chapecó, Santa Catarina, para um show, vinda de Piratini, na Região Sul do Rio Grande.
No dia seguinte, eles já estariam em Barra do Ribeiro, na Região Metropolitana, para nova apresentação. Mas Rogério tem a sua tática: acrescenta gengibre à água do chimarrão!

- Melhora até a respiração, me sinto bem melhor. E tento falar pouco, para preservar a voz - revela o músico, 37 anos.

Saudade de casa, mas investimentos garantidos

A dupla salienta que o conforto de viajar em uma van própria e a harmonia entre todos que pegam a estrada acabam recarregando as baterias para tantos compromissos. Mas as distâncias percorridas são de deixar qualquer sujeito de língua de fora!

- A gente vai acostumando. Percorrer 700 km não é nada (de Piratini a Chapecó, foram cerca de 650 km). Até estranhamos quando o show é perto - afirma César, aos risos, que tem mais um motivo para ficar agoniado com as muitas horas de estrada:

- Minha esposa, Katyana, está grávida de sete meses. É o nosso primeiro filho. E, para completar, ela fez aniversário no dia 16 de setembro, quando eu estava na estrada. É muito complicado, dá saudade até dos cachorros (risos)! Tivemos só um dia de folga desde o começo do mês. Rogério, casado com Liliane e pai de Maria Luiza e de Clarissa, confessa que a saudade dói, sim, mas a família entende.

- Eu já conheci a minha esposa nesta profissão, e as minhas filhas foram criadas nesse sistema. Estamos sempre em contato, mas a presença física, realmente, é difícil - constata.

A agenda tão puxada tem a grande vantagem de os gaudérios darem uma forrada nas guaiacas. César, responsável pela logística da dupla, confirma.

- É o nosso 13º, que nos permite fazer uma programação de investimentos, não só pessoais, mas para a dupla também.

É hora de colher a safra

Para Joca Martins, 45 anos, setembro é o mês da safra, quando colhe o resultado do trabalho feito no ano todo. Com 15 shows no período - e dez, em média, nos demais meses -, o cantor trata esse mês como diferenciado, tanto na questão financeira, quanto no palco e até mesmo na relação com os fãs.

- É o que dá a diferença no ano, sem dúvida! É o mês que, principalmente, consigo adquirir novos fãs e renovar o público que escuta o meu som. São as crianças que se tornarão ouvintes não só da minha música, mas de todo o nativismo - comenta Joca.
Tendo que fazer dois ou três shows na mesma noite, ele garante que não existe milagre quando a questão são os cuidados para aguentar a maratona. Além de muita água e de descanso, ele dá uma atenção toda especial ao seu tão precioso instrumento de trabalho.

- Fiz aula de canto. Então, utilizo algumas técnicas para aquecer a voz, descendo e subindo a escala dela. Em uns 15 minutos, a voz está pronta! - ensina.

Veterano com pique de guri!

Aos 68 anos, o mestre João Chagas Leite anda mais sossegado e desfila o seu talento em bailes e em apresentações ocasionais, principalmente nos finais de semana. Porém, a Semana Farroupilha é um caso à parte. Do dia 14 até este sábado, 21, o gaudério teve espetáculo todo dia.

- É uma grande diferença na minha rotina. Em meses normais, faço de oito a dez shows, basicamente nos finais de semana.
Em setembro, toda essa agenda está concentrada em menos de dez dias. Tanto que, depois do dia 21, só volto a ter apresentação em outubro - revela.
Para aguentar o tranco, o veterano tenta dormir o máximo possível, toma muita água e cuida da alimentação de pertinho:

- Tento me preservar. Com todo esse tempo fora de casa, é preciso comer bem e dormir bem. Mas o músico mais novo acaba sofrendo, sempre fica muito tempo longe de
casa.


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