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Chileno bom de bola

Conheça o tímido Aránguiz, o representante do Inter na Copa

Aos 25 anos, volante é um dos destaques do Inter de Abel Braga

10/05/2014 - 11h11min

Atualizada em: 10/05/2014 - 11h11min


Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Desde criança, Charles Aránguiz já se destacava com a bola nos pés

Seu tom de voz é mistério para muitos. O futebol, consenso. Charles Mariano Aránguiz Sandoval conquistou torcedores e comissão técnica com poucas palavras e boas atuações. Será comprado em definitivo pelo Inter até o fim do mês. O clube pagará US$ 5 milhões (R$ 11,6 milhões) ao Granada-ESP.

Único jogador em atividade no Estado presente na Copa do Mundo, o chileno ganhou status de indispensável no Inter. Passou os dois últimos dias em treinos regenerativos, mas Abel Braga avisou: vai esperar até o último instante para escalá-lo contra o Atlético-PR, a partir das 18h30min deste sábado.

Além do bom futebol, Aránguiz chama a atenção nestes cinco meses de Inter pela timidez. Depois dos jogos, o volante sai em disparada do campo e evita os repórteres. As entrevistas coletivas o aterrorizam. Foram apenas duas em Porto Alegre - uma delas na apresentação. O volante é avesso a microfones, seja qual for o idioma dos donos deles. No Chile, abre exceção para só um jornalista específico. Culpa da timidez.
A discrição se mantém na rotina do Inter, embora a adaptação ao clube e aos companheiros. Prova disso é o sorriso quase permanente no vestiário, onde é conhecido como Chile. Contido, é bem verdade. Mas ele ri, mesmo que não entenda o que estão falando. Há poucos dias, Abel Braga tratou de fazer uma brincadeira com ele. Mas atropelou as palavras. Percebeu e olhou para Aránguiz, que sorria. O técnico desconfiou:

- Tu tá entendendo alguma coisa, Chile?  

- Como? Como? - devolveu Aránguiz, entregando que o chefe falava grego para ele.
Envergonhado, o chileno enrubesceu. Abel achou graça da situação. 

- Ele é assim, muito simples e quieto. Mas no campo vira um monstro - elogia o técnico.

O chileno mostra-se contido até mesmo nos hábitos mais cotidianos. É rotina no vestiário todos se cumprimentar com aperto de mão ao chegar para o treino. Para ele, nem isso sai de forma natural.

- Até nisso ele é meio tímido - entrega Abel.

A falta do domínio do português trava ainda mais o jogador. A ponto de o vice de futebol, Marcelo Medeiros, compará-lo ao calado D'Alessandro de 2008, quando desceu no Beira-Rio. Para acelerar o processo, o Inter indicou uma chilena que vive há muitos anos em Porto Alegre para ser a professora dos Aránguiz. Além do volante, a mulher e a filha Maithe, de cinco anos, têm aulas com a compatriota. O caçula Renato, de um ano, recém aprende as primeiras palavras.

Aránguiz mostra-se bem adaptado à vida longe da comuna (bairro) Puente Alto, uma das mais pobres encravada no sul de Santiago. O churrasco caiu nas graças do volante. Nas folgas, é comum ver os Aránguiz com as famílias de Jorge Henrique, Alan Patrick e Índio em uma churrascaria no bairro Boa Vista, perto do condomínio onde o chileno mora. Caiu em suas graças também o clima de Gramado. Talvez por lembrar do ar gelado dos Andes. Mas isso ninguém sabe. Aránguiz não é de falar. É de jogar.

Mas quem é esse chileno de poucas palavras?



- Um encanto de filho - simplifica a mãe, Mariana Sandoval, 50 anos, por telefone, direto de Puente Alto.

Antes de abrir parte da história do mais famoso dos cinco filhos, ela recua.

- Charles não gosta que eu fale com a imprensa.

Diante do pedido, Mariana cede. Confirma que o volante é tímido desde que vestia a camisa do Nueva Esperanza, time do bairro. Nem mesmo o fato de a mãe ser a treinadora alterava seu perfil discreto. A família mantém laços estreitos com as origens. Mariana é hoje a vice-presidente do Nueva Esperanza. Há quem diga no bairro que ela entende mais de futebol do que o filho estrela da seleção. Ao ser indagada sobre o tema, Mariana solta uma gargalhada. 

Da mãe, Aránguiz herdou a dedicação ao esporte. Aos cinco anos, vestiu a uniforme do time do bairro pela primeira vez. Três anos depois, foi eleito o craque do torneio de Puente Alto. Já juvenil, foi para o Cobreloa, clube da região do deserto de Calama. Voltou à Capital pelo Colo-Colo e parou na Universidad de Chile, de onde foi trazido pelo Inter.

Mariana mata a saudade do filho em breves telefonemas diários. Em fevereiro, visitou o filho em Porto Alegre. Queria saber que lugar era esse em que moraria. Ficou tranquila. Sua ansiedade agora é pela convocação da seleção chilena para a Copa. Diz que "será um orgulho, um sonho de mãe realizado ver o filho defender as cores do nosso país". Não vai além disso. Antes de desligar, se desculpa pelas respostas curtas:

- Gosto de simplificar as coisas.

Deu para perceber, dona Mariana. Aliás, Aránguiz faz o mesmo em campo.


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