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Grupo de amigos raspa a cabeça em solidariedade a jovem com câncer

Guilherme Dias Molina, de Estrela, foi surpreendido com atitude dos campanheiros de time de futebol

11/08/2012 - 16h49min

Atualizada em: 11/08/2012 - 16h49min


Guilherme (E) à frente do time formado por amigos que exibem cabeças raspadas e largos sorrisos por poderem ajudá-lo na recuperação

Uma adversidade transformou a vida de Guilherme Dias Molina. Aos 21 anos, o jovem morador de Estrela, no Vale do Taquari, descobriu um câncer. Meses depois, ao iniciar a quimioterapia e decidir cortar o cabelo para abreviar a inevitável queda, outra surpresa: 16 amigos, a maioria de seu time de futebol, também rasparam a cabeça. Uma demonstração de apoio que fortaleceu o jovem para enfrentar a doença.

O surpreendente dessa história, que tem sido vista como prova de amizade em outros casos no Brasil, foi como o corte dos cabelos aconteceu. Depois de cumprir com o primeiro ciclo da quimioterapia, na metade de julho, Guilherme convocou os amigos para um churrasco.

Era noite de sexta-feira, dia 13. A tarefa dos companheiros de futebol era ajudá-lo a cortar os fios curtos, castanhos, nunca antes raspados totalmente.

- Os meninos puxaram a máquina e começaram a raspar a minha cabeça antes da dele - lembra o colega Alexandre Rupp Barth, 22, aos risos.

Como numa brincadeira de criança, outro amigo teve a cabeça raspada, e depois outro. E mais outro. Pelo menos oito passaram pela máquina no nível zero antes de Guilherme. Foi só depois de ver todos os companheiros sem cabelo que o protagonista daquela noite sentou-se à cadeira para se despedir dos fios que já ameaçavam cair por causa do tratamento.

- O fato de eles terem cortado o cabelo antes, de terem deixado a vaidade de lado, foi o mais emblemático do apoio que estão me dando - resume.

Os demais colegas do time de futebol Tsunami, e integrantes de outros times que não estavam mais na noite do corte coletivo, se reuniram no dia seguinte e também rasparam a cabeça. Apareceram na casa de Guilherme sem as antigas melenas.

Juntos desde a infância, sete amigos entraram no time há oito anos. Os outros foram se juntando depois. Os jogos de futebol, aos sábados, num campeonato amador de Estrela, unem os meninos que viraram assunto na cidade pela ação fora dos gramados.

- Fizemos um ato pra gente e logo ganhou repercussão nas redes sociais. O bacana é mostrar como as pessoas podem apoiar - diz Guilherme que, após descobrir a doença, precisou trancar o primeiro semestre no curso de Administração na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Apoio dá confiança e ajuda no tratamento

Gestos como o dos amigos de Guilherme causam reflexos não apenas no cotidiano de pacientes como ele, mas também em seu tratamento.

- Quem recebe apoio familiar tem mais segurança, confiança e tolerância ao tratamento. Quem ganha provas de amizade se torna ainda mais otimista - diz o oncologista Leandro Brust, que atende o jovem de Estrela.

A medicina não tem explicações técnicas, mas, aos olhos do especialista, os pacientes que mantêm laços fortes com a família e os amigos superam o tratamento com mais facilidade.

Passar por uma doença sem estar sozinho é como ter dividida a responsabilidade, sentir que há alguém superando com os pacientes as dificuldades, explica a psicóloga Teresinha Klafke, coordenadora do curso de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul:

- Há uma tendência de o tratamento evoluir mais rápido.

Para Guilherme, a doença enfrentada em grupo o fez ver o problema por outros ângulos. Ele sorri ao encarar o espelho e lembrar que, assim como ele, outros 16 companheiros também estão sem cabelo. Mostrou-lhe que há formas de estar ao lado de um amigo com gestos, simples, muito além das palavras.

Um recado para Guilherme

Guilherme, me contaram sobre a tua batalha contra o câncer e do apoio dos teus amigos neste momento tão difícil. Estou te escrevendo porque, há 15 anos, eu também enfrentei um câncer. Foi um grande susto para mim e para minha família.

A tua história me fez lembrar do que eu passei naquela época. Aos 10 anos eu não entendia o que realmente estava acontecendo, só sabia que era algo muito grave. Naquele momento o que mais me deu força foi entender que eu não estava sozinho naquela luta, saber que havia muitas pessoas ao meu lado me apoiando para enfrentar tudo o que estava por vir. Quem tem câncer tem medo.

Eu fiquei um mês longe da escola na primeira fase do tratamento, e quando voltei fui recebido por vários colegas que, assim como teus amigos, haviam raspado a cabeça para me apoiar. Foi emocionante, aquela atitude fez com que eu me sentisse "abraçado", me lembrou mais uma vez que eu não estava sozinho. Fico muito feliz em saber que teus amigos e tua família estão te apoiando, te abraçando. Ajuda muito, vale muito.

Hoje tenho 25 anos, estou cursando minha segunda faculdade, pratico esportes, e tenho uma vida normal, mas nunca esqueci do que passei e das pessoas que me abraçaram. Busco sempre passar adiante as coisas boas que aconteceram comigo.

No dia 22 de setembro, com o Instituto do Câncer Infantil do RS, realizaremos a 15ª Corrida Pela Vida de Gramado. É sempre um momento emocionante para mim e para a minha família. Fica o convite para ti, tua família e teus amigos para participarem conosco. Estou torcendo por ti. Um grande abraço para ti e para teus amigos.

Fabrício Bertoluci


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