Apelo na rede
Jovem publica pedido de socorro no Facebook antes de morrer
Na madrugada, Michele Cardoso escreveu "Incêndio na KISS socorro"
A tragédia
O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.
Sem conseguir sair do estabelcimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.
A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos útimos 50 anos no Brasil.
Veja onde aconteceu
A boate
Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade da Região Central, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes - além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com o comando da Brigada Militar, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.
Clique na imagem abaixo para ver a boate antes e depois do incêndio A festa
Chamada de "Agromerados", a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas "Gurizadas Fandangueira", "Pimenta e seus Comparsas", além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.
Acompanhe as últimas informações
O pânico e a impotência circularam de forma instantânea. Um dos apelos mais dramáticos ecoou às 3h20min da madrugada. A protética Michele Cardoso usou o celular para disparar um alarme no Facebook. Escreveu somente quatro palavras, na pressa de quem está a perigo, o suficiente para noticiar o sinistro e implorar por ajuda. Ainda grafou o nome da boate com letras maiúsculas, para que não houvesse dúvidas sobre o local:
- Incêndio na KISS socorro.
Michele não mais se comunicou - seu nome apareceria depois na lista de mortos. Mas, naquele início de madrugada, as 21 letras que escreveu acionaram um grupo de amigos que passou a pedir informações - e multiplicar o SOS. Tudo na linguagem abreviada, sem vírgulas ou acentos, de quem digita um teclado virtual impelido pelo desespero, acreditando que alguns segundos ganhos podem salvar uma vida.
Letícia Côrtes foi a primeira a perguntar por Michele, às 3h40min:
- serio mii?
A partir daí, uma torrente de preocupações irrompeu na página do Facebook de Michele. Frases com letras engolidas, truncadas, evidenciaram a ansiedade de quem buscava um informe.
- Tu ta bem, um amigo acabo de me ligar dizndo q ta no hospital ajudando os feridos... - questionava Gláucia Pires, às 4h48min.
Um minuto depois, Gláucia insistiu com a amiga silenciosa. O ponto de interrogação ressou no vazio.
- ?????
Outras colegas se conectaram, aflitas por Michele.
- tu tá bem? - perguntou Daniela Sudati, às 5h30min.
- Miiiiiiiii - angustiava-se Jéssica Corrales Brandli, às 6h32min.
Confiando na ferramenta virtual, no minuto seguinte Jéssica voltou a clamar:
- tah beeem?!
Michele estava incomunicável, para tormento das colegas. Às 7h13min, Laady Soares Rosa engrossou o coro dos agoniados. Ela espichou as sílabas da mensagem, como se gritasse para amplificar a súplica:
- Miiiicheleee, ta bem? da notícias por faavor!
Imagem: Arte ZH