Tragédia em Santa Maria
Funcionário de loja diz que banda comprava artefatos pirotécnicos "toda semana"
Segundo vendedor, notas fiscais que comprovam aquisição do material usado na boate Kiss já estão com a Polícia Civil de Santa Maria


Um funcionário da loja Kaboom Pirotecnia, de Santa Maria, confirmou nesta quinta-feira, a Zero Hora, que a banda Gurizada Fandangueira costumava comprar artefatos pirotécnicos "quase toda semana" na loja. Antes da tragédia na boate Kiss, no último domingo, um deles teria adquirido uma caixa de sputniks de uso externo, considerado inadequado para a casa noturna.
Incomodado com o assédio da imprensa, o funcionário disse que não tinha autorização para falar e que "tudo já foi informado para a Polícia Civil". Ele afirmou que as notas fiscais referentes à compra foram entregues aos investigadores.
- Estamos proibidos de comentar esse assunto - disse.
Apesar disso, ele confirmou que, antes da tragédia, a banda teria optado por adquirir os produtos de uso externo, que são mais baratos. Uma caixa com seis unidades custa R$ 13, enquanto que um único exemplar de sputnik indoor (uso em ambiente interno) sai por R$ 75 no local.
Na quarta-feira, sem saber que estava sendo gravado pelo repórter Cesar Menezes, da Rede Globo, deu mais detalhes:
- Ele (o membro da banda) levava só o Sputnik. Nesse dia ele decidiu levar chuva de prata para testar. Várias vezes a gente dizia para ele: tu tá usando na parte interna. Ele dizia: mas eu sei como estou usando, estou usando com segurança, eu tenho o curso. Disso dele ter o curso é pior ainda. Se tem o curso, ele sabia que não podia usar - contou.
O funcionário afirmou que foi oferecido desconto para que o integrante da banda levasse o produto de utilização interna, mas não conseguiu concretizar a venda.
- Ele não quis, porque era muito caro - declarou.
Em depoimento à Polícia Civil, o produtor da banda, Luciano Augusto Bonilha Leão, reconheceu ser o responsável pela aquisição, mas disse que os sinalizadores utilizados eram "gelados, sem queima".
Clique na imagem e confira o perfil das 236 vítimas

Como aconteceu
O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.
Sem conseguir sair do estabelecimento, pelo menos 236 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.
A tragédia, que teve repercussão internacional, é considerada a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos últimos 50 anos no Brasil.
Em gráfico, entenda os eventos que originaram o fogo:
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A boate
Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade de Santa Maria, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes - além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com a Polícia Civil, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.
Clique na imagem abaixo para ver o antes e o depois da danceteria:
A festa
Chamada de "Agromerados", a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia.
Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas "Gurizadas Fandangueira", "Pimenta e seus Comparsas", além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.
