Crediário
Um em cada dez consumidores ainda usam carnê
Pesquisa aponta que apenas 10% dos consumidores que moram nas capitais brasileiras costumam fazer compras no crediário com alguma frequência
Na era do cartão de crédito, a cozinheira Margarete Corrales, 49 anos, ainda é fã assumida do crediário. Coleciona oito carnês da mesma loja e garante que não se atrapalha com as datas: em casa, tem uma planilha com valores e o dia de vencimento de cada um deles. Mesmo cheia de cartões na carteira - de crédito, supermercado e lojas -, não pretende abandonar os velhos carnês.
Consumidores com os hábitos de Margarete representam um em cada dez brasileiros. É o que mostra uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelo portal de educação financeira Meu Bolso Feliz. Segundo o levantamento, apenas 10% dos consumidores que moram nas capitais brasileiras costumam fazer compras no crediário com alguma frequência - ou seja, realizam pelo menos uma compra nesse tipo de modalidade a cada três meses.
Outros 40% dos entrevistados afirmam fazer até três compras por ano e 50% sequer chegam a utilizar o carnê em algum momento das suas vidas. Embora cada vez mais em desuso, comprar no crediário é um hábito mais comum nos consumidores da classe C (12%).
Dos entrevistados das classes A e B, apenas 8% utilizam o crediário. Ter um prazo determinado para pagar, fazer as compras mesmo sem ter dinheiro em mãos, a segurança de não precisar carregar dinheiro na carteira e não pagar juros são algumas das vantagens do crediário mencionadas pelos entrevistados.
"Não tem juros, nem tarifas"
Moradora do Bairro Jardim Itu Sabará, Margarete não se importa em ir até a loja pagar. Para isso, reserva os dias de folga e aproveita para fazer mais compras.
- Prefiro ir a loja pagar e ver o que tem na promoção. Não vou largar o carnê, não tem juros e nem tarifas - avalia.
Na manhã da sexta-feira passada, enquanto conversava com o DG, pagou prestações de três carnês e fez mais um: comprou quatro travesseiros e um jogo de lençol.
- Já que está na promoção, eu levo, tem que aproveitar - diz Margarete.
O cliente sempre na loja
A indução da nova compra é o que mais atrai o empresário a manter o carnê - que costuma ser mais oneroso do que o cartão - segundo o economista e educador financeiro Everton Lopes.
- Mesmo que impulsivamente, muitos vão comprar quando retornarem a loja. Para manter o carnê, o custo é muito alto, por isso a maioria das instituições estão fazendo seu cartão próprio.
Em algumas ocasiões, o crediário é uma forma de financiar as compras em mais parcelas do que um cartão de crédito permite. Isso porque o crediário é uma forma de financiamento que funciona de forma independente do banco.
Na maioria das vezes, o cartão de crédito permite que uma compra seja financiada em até 12 parcelas. Já o crediário em boleto ou carnê, possibilita que o mesmo financiamento seja estendido em até 48 vezes ou mais, dependendo da loja.
Pé no freio
Mesmo que não tenha custo de manutenção, é preciso ficar atento aos juros e a quantidade de compras parceladas em carnê. A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, recomenda cuidado na hora de fazer financiamentos de longo prazo:
- O consumidor deve evitar fazer mais de três prestações ao mesmo tempo. Quem compromete mais de 30% da renda familiar com prestações acumuladas, sejam elas através de crediário, cartão ou cheque pré-datado, pode sofrer sérios desarranjos no orçamento, caso haja uma situação emergencial.
Dicas da Giane - Carnê em dia
* Os juros para quem atrasa o carnê estão entre os menores do mercado. Segundo a Associação Nacional de Executivos de Finanças, é mais de 70% ao ano. A taxa média do rotativo do cartão de crédito, por exemplo, é quase 240%.
* Só não encare o juro do crediário como baixo. Vamos combinar que uma dívida de R$ 1 mil virar R$ 1,7 mil em um ano não é pouca coisa.
* Outro alerta: muitas lojas ainda mantêm o carnê porque traz o cliente na loja para pagar a parcela. A aposta é que sejam feitas novas compras. Aparece aqui o consumo por impulso, grande inimigo do orçamento doméstico.
* Parcelar por mais de 40 vezes, o que algumas lojas permitem no carnê, parece uma vantagem. Só que pode virar um perigo. Dívidas longas exigem mais controle. Uma dívida de R$ 200, mais duas de R$ 100 e outras duas de R$ 50. Somem R$ 500 do salário já comprometido no mês.