Tragédia
Incêndio mata três crianças e uma adolescente em Viamão
Acidente teria sido causado por uma vela acesa durante falta de luz. Chamas destruíram a casa em poucos minutos
Uma adolescente e três crianças sozinhas em casa, à noite, quando falta luz. Possivelmente para acalmar os pequenos, a jovem vai até a casa da avó, nos fundos do terreno, e pede uma vela. A cena descrita por familiares pode ter sido o ponto de partida de uma tragédia, por volta das 22h30min de sábado, em Viamão. De acordo com o Corpo de Bombeiros, provavelmente a chama da vela tenha originado o incêndio que destruiu completamente a pequena casa de madeira onde estavam os quatro menores, localizada no Condomínio Santa Fé, Bairro Morro Grande.
Em aproximadamente dez minutos, não havia mais nada além de cinzas, fumaça e labaredas. Morreram no desastre Bruna Chaiane dos Santos Lopes, 15 anos, e os primos dela, os irmãos Yasmin Guimarães dos Santos, sete anos, Marcos Vinícius Guimarães dos Santos, seis anos, e Luis Ricardo Guimarães dos Santos, dois anos, conforme a Brigada Militar. As causa do fogo, porém, só poderão ser confirmadas pela perícia.
Os pais das crianças, Francini da Silva Guimarães, 23 anos, e Marcos Soares do Santos, 27, haviam saído de casa, por volta das 19h, para um evento religioso. Deixaram os filhos sob os cuidados da sobrinha Bruna. Por conta da falta de luz, os avós das crianças recolheram-se cedo. Só acordaram com os gritos dos netos, conforme relato do tio dos pequenos, Márcio da Silva Guimarães, que mora em um terreno em frente.
- A vó ouviu os gritos e saiu para a rua, implorando ajuda. Tentou quebrar o vidro de uma das janelas com as mãos, chegou a queimar os dedos, mas não adiantou. Toda a vizinhança tentava apagar as chamas - contou.
Três crianças morrem em incêndio em Cachoeirinha
Mãe ferida em incêndio segue hospitalizada em estado grave
Apesar dos esforços, pela rapidez e intensidade com que o fogo tomou conta da casa, ficou impossível entrar para resgatar as crianças.
- Chegamos a quebrar a porta da frente, mas o fogo imediatamente explodiu para o lado de fora. Corremos até a janela dos fundos e a quebramos, mas aconteceu o mesmo: aquela bola de fogo. Vimos que era impossível entrar. Não tínhamos mais como salvá-los. Só restava apagar as chamas para evitar que a casa da vó e do vizinho do lado incendiassem também - contou Márcio.
Vizinhos de uniram para combater as chamas
Cerca de 50 pessoas envolveram-se na tentativa de salvar as crianças, conforme relatos de parentes e vizinhos das vítimas. Munidos com baldes e mangueiras, quebraram os canos e registros do terreno para facilitar a pulverização da água. A piscina de plástico, que tantas vezes refrescou e foi a diversão da criançada, foi esvaziada para combater o incêndio. Foram quase três horas até que o fogo estivesse completamente apagado. Ao final, todos se depararam com a cena de horror:
- Reconhecemos os corpos pelos tamanhos. Dava para perceber que não estavam dormindo, parecia que tinham tentado fugir. A Bruna estava embaixo de uma janela ao lado da porta da frente. A Yasmin e o Luís Ricardo, bem ao lado da porta do banheiro, onde tinha uma janela. O único que estava na cama era Marcos - lembra Márcio, abalado.
Pais só viram as cinzas
Os pais das crianças chegaram do evento por volta da meia-noite, ainda sem saber o que havia acontecido, já que a comunicação era precária por conta da chuva e da falta de luz, que prejudicavam o sinal dos celulares.
- Ela pulou do carro e gritou: "cadê meus filhos?", e ninguém conseguiu responder nada. Ela berrava: "é mentira, meus filhos não estão lá dentro! Vocês estão de brincadeira comigo!". Desabou, desesperada. Precisou ser carregada e dopada - descreveu a cunhada de Francini, Kelly Guimarães.
Família havia celebrado o Natal no dia da tragédia
Nem a chuva que caía na manhã seguinte à tragédia eliminou o cheiro forte das cinzas que ainda pairava no ar no local onde a família Guimarães dos Santos morava. Enquanto os pais e avós das crianças estavam recolhidos na casa de um parente, longe dali, tios e vizinhos se uniram em um mutirão para limpar o terreno, a pedido do pai, que não queria nenhum vestígio do que havia acontecido. Com uma retroescavadeira, Márcio tirava o pouco que sobrou.
- Só restou a casinha do cachorro, que ficava ao lado, e uma motoca das crianças, que botamos fora. O resto tudo virou pó - disse o tio.
A hora da limpeza também foi de relembrar os últimos momentos da irmã e do cunhado com os sobrinhos.
- Os dois passaram o dia curtindo as crianças. Foram em duas festinhas de Natal, e elas já tinham até ganhado os presentes: bola, boneca, carrinhos e um quadro-negro. Estavam felizes. A noite de Natal ia ser aqui mesmo, na casa da vó, todo mundo junto. E agora essa desgraça - lamentou.
Depois do drama familiar, Márcio tomou uma decisão que, acredita, deverá ajudar ele e sua família a amenizar as lembranças.
- Vou botar a casa para vender. Não tenho como continuar aqui. A única maneira de tentar amenizar essa dor é nunca mais olhando pra esse lugar. Mas é uma cena que nunca vai sair da minha cabeça - completou o tio.
Bruna, a sobrinha de Francini e Marcos que cuidava das crianças, havia se formado no ensino fundamental na última sexta-feira. A conquista foi celebrada por toda família em um restaurante nas redondezas. Os tios e primos estavam lá para compartilhar o momento.
- Ela adorava os primos, estava sempre lá com ele. Quando precisava, cuidava das crianças, e adorava fazer isso - resumiu, entre lágrimas, por telefone, a mãe de Bruna, Cristiane dos Santos Lopes.
Bichinho de estimação se salvou
Enquanto vizinhos e familiares limpavam o terreno, a gatinha de estimação das crianças - que sobreviveu ao incêndio mas perdeu três dos seus quatro filhotes - andava em círculos sobre as cinzas.
- Ela e um dos filhotes conseguiu fugir, mas os outros três não. Ela não sai daqui, dá voltas e voltas na casa da vó e sobre as cinzas do terreno das crianças, miando sem parar. Deve estar sentindo o que aconteceu - acredita Márcio.
Leia mais notícias de polícia no Diário Gaúcho
Leia outras notícias no Diário Gaúcho
A família das três crianças necessita de auxílio para os enterros. Quem quiser ajudar pode entrar em contato pelos telefones: 9979-2565 ou 3498-4479.