Cidade desabastecida
Como os moradores de Alvorada driblam a falta de água
Desde segunda-feira, o município da Região Metropolitana está com as torneiras secas
A chuvarada impôs uma contradição aos moradores de Alvorada: enquanto os pátios das casas permanecem úmidos devido às grandes precipitações, as torneiras estão secas. Desde segunda-feira, para executar tarefas simples do dia a dia, é preciso driblar o desabastecimento.
Em frente a uma residência da Rua Noruega, a vizinhança se enfileira munida de baldes e garrafas. A mangueira junto à grade é a salvação para quem não tem poço artesiano.
- Fizemos este em 2003, por causa de uma seca que deu na cidade. Poucas pessoas sabiam, mas foram avisando outras. Nestas horas, precisamos ser humanas e ajudar - conta a dona da casa, Rosana Schuquel, 50 anos.
Lá, a coleta começa de manhã cedo e passa da meia noite. Rosana acredita que, na quarta-feira, mais de cem pessoas aproveitaram sua ajuda. Como o motor do poço fica ligado o dia inteiro, a vizinha da frente pediu que quem use a água contribua com R$ 2 para pagar a conta de energia elétrica.
Rosana oferece água do poço para a vizinhança | Foto: Diego Vara
Uma das pessoas que têm ido diariamente até a casa de Rosana é Sandra Bernadete Nunes, 52 anos. A água levada em seis baldes é utilizada pela doméstica para higiene pessoal, fazer comida e escovar os dentes - a quantia usada no banho é aproveitada na descarga.
- Não estamos lavando roupa, não tem como - conta Sandra.
Para uma família moradora da Rua Floriano Peixoto, os mil litros da caixa da água duraram até ontem. Agora, é preciso buscar no poço de um vizinho. Os últimos dias foram de economia para Leotilde Costa, 47 anos, que divide o teto com o marido e quatro filhos - de três a 23 anos.
- Eu guardo água da chuva em latões para lavar a calçada. Mas acabei usando para o banheiro. A louça de hoje (quinta-feira) ainda não consegui lavar, e as roupas sujas estão empilhadas - salienta Leotilde.
Na casa de Leotilde, a água da caixa terminou na quinta-feira | Foto: Diego Vara
Venda cresce
A venda de água mineral na cidade deu um salto nesta semana. Quem comprova é Vagner de Souza, 32 anos. Em sua ferragem, a média semanal é de 40 bombonas. Mas, nos últimos dois dias, foram vendidas aproximadamente 200.
- Tem gente que usa até para lavar louça. Uns compram cinco de uma vez só - diz o comerciante, que aumentou o preço da água (sem casco) de R$ 8 para R$ 10, mas reduziu a margem de lucro: como a demanda no fornecedor de Alvorada é grande e a entrega demorada, ele está buscando em Porto Alegre.
Venda de água mineral cresceu na ferragem de Vagner | Foto: Diego Vara
Nesta quinta, uma das pessoas que foi à ferragem se informar do preço foi Cristina Silva da Silva, 33 anos, que trabalha na varrição do município. Antes, ela havia passado em outros dois estabelecimentos e se assustado com o valor: em um, a água com a bombona saía por R$ 25 e, no outro, por R$ 28.
- Vou usar para beber e fazer comida. Para o resto, estamos pegando da piscina de um vizinho - relata.
E não é só em casa que é difícil lidar com o desabastecimento. Em um restaurante e lancheria na Avenida Presidente Getúlio Vargas, a água da caixa acabou ainda na segunda-feira. Para fazer as refeições e a limpeza do local, o proprietário está buscando em um poço no Morro Santana.
- Estou pegando uns 200 litros por dia. Faço cinco viagens - diz Jocemar Zangbuchi, 42 anos.
Jocemar busca água no Morro Santana para o restaurante | Foto: Diego Vara
Um caminhão-pipa, providenciado pela Corsan, atende o município emergencialmente. A programação pode ser conferida aqui.
*Diário Gaúcho