Solidariedade
Estudantes se mobilizam e arrecadam materiais de higiene para presidiárias
Impressionadas com relatos de presas brasileiras, jovens começaram campanha para doações
Preocupadas com aquelas que a maior parte da sociedade ignora, estudantes de Direito de Porto Alegre estão se mobilizando para arrecadar itens de higiene para as presas da Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba Julieta Balestro e da Penitenciária Feminina Madre Pelletier, de Porto Alegre.
Motivadas pela repercussão do livro Presos que Menstruam, de Nana Queiroz, que conta a vida das mulheres tratadas como homens nas prisões de todo país, estudantes da PUCRS, UFRGS e Fundação Escola Superior do Ministério Público (FMP) decidiram se mobilizar.
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O relato de presas do Centro do país que usam miolo de pão como absorvente e jornal no lugar de papel higiênico chocou alunas como Fernanda Rossi, 22 anos, e Camila Belinaso, 25 anos, integrantes do Coletivo de Mulheres Maria Lacerda da FMP. Para além das teorias sobre direito penal na sala de aula, elas resolveram partir para a prática.
Reprodução
Desamparadas
Elas descobriram que as presas gaúchas recebiam papel higiênico e absorvente insuficientes. O coletivo então se mobilizou, começou a passar nas salas de aula, divulgar a campanha nas redes sociais e colocar pontos de coleta na faculdade. A mobilização tem dado resultados animadores.
- Quem vai levar o que a presa precisa se ela está desemparada da família? As mulheres têm necessidades diferentes de um homem - coloca Camila.
Se o Estado não faz e a maior parte das pessoas fecha os olhos para esta realidade, elas provocam a comunidade a se colocar no lugar do outro. Sair da zona de conforto.
- Elas já estão sem liberdade, mas não precisam ficar sem dignidade - defende Camila.
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As doações serão entregues em outubro e o grupo pretende continuar arrecadando donativos.
- Cada vez mais as mulheres estão se ajudando porque na sociedade tudo é feito e pensado em função do homem. Precisamos sair da nossa bolha e olhar ao redor. A punição delas acaba sendo muito maior porque há muito preconceito e machismo - considera Fernanda.
Susepe
A Susepe informa que os kits de higiene são distribuídos para as casas prisionais conforme suas solicitações. O material é direcionado às presas que não recebem visitas de suas famílias.
Não há uma periodicidade, a distribuição segue os pedidos de cada penitenciária. O kit é composto por papel higiênico, creme e escova dental, sabonete e absorvente.
"O erro do RS é mais psicológico"
A jornalista Nana Queiroz colocou o dedo na ferida ao expor a realidade das penitenciárias femininas de todo país no livro Presos que Menstruam. Em entrevista ao Diário ela comentou sobre a realidade gaúcha:
Divulgação
Diário Gaúcho - O que mais te impressionou nos presídios gaúchos?
Nana Queiroz - O Madre é um pouco pior, mas Guaíba tem um problema grave. Apesar de ser muito limpo, há uma pressão psicológica constante porque as carcereiras ficam andando sobre o teto de vidro para cuidar o que ocorre dentro da cela. É uma disciplina meio castradora da individualidade. As presas usam uniforme masculino. O erro do Rio Grande de Sul é mais psicológico. Eu não vi, mas as presas do Madre me relataram que há muita sujeira, ratos. Mas entre todos que fui me pareceu um dos mais dignos.
Diário - Na avaliação de quem andou por presídios de todo País, o que está faltando aqui?
Nana - Seria legal fazer algum tipo de coleta para as crianças das presas, organizar, por exemplo, um comitê que faça entretenimento, palhaçada, conte histórias, colete fraldas, brinquedos.
Diário - Os presídios gaúchos não são tão ruins então?
Nana - Vocês estão na vanguarda dos presídios do Brasil, estão fazendo o melhor trabalho. A questão mais urgente é da disciplina que castra a individualidade da pessoa, as carcereiras não olham no olho, as presas são vistas de cima. A solitária eu também achei um pouco cruel, me parece um castigo pouco construtivo.
Diário - Que avaliação tu fazes de ações como a das gurias de Porto Alegre?
Nana - É um afago para o meu coração, porque eu vi muita intolerância, muito ódio. Preso não gera empatia, as pessoas não querem ajudar. E esse movimento de Porto Alegre me dá esperança nessa irmandade feminina porque nós, mulheres, somos criadas para competir e isso está começando a se transformar.
Como ajudar:
/// FMP - Na Rua Coronel Genuíno, 421, Centro de Porto Alegre, no 7º e no 12º andar há caixas coletoras na saída do elevador. Quem quiser doar em maior quantidade, pode fazer contato com a FMP em horário comercial pelo telefone 3027-6590.
/// PUC - Na Secretaria do Diretório Central de Estudantes (DCE), prédio 8. Das 8h às 22h. Faculdade de Comunicação, prédio sete, balcão do Centro Acadêmico Arlindo Pasqualino. Das 8h às 22h. Entrada pela Avenida Ipiranga, 6681.
/// UFRGS - No Centro Acadêmico André da Rocha da Faculdade de Direito da UFRGS, na Avenida João Pessoa, 80, no Centro. Segundas, terças e quartas-feiras das 18h às 21h30min e quintas e sextas-feiras das 9h30min às 12h30min.
* Diário Gaúcho