Contas públicas
Governo reduz gastos no primeiro ano de mandato para dar sinal de austeridade
Despesas com passagens e locomoção de servidores do Estado caem 47,6% em um ano, para R$ 14,1 milhões. É pouco diante do déficit de R$ 2,7 bi, mas indica busca de equilíbrio fiscal
Em um ano marcado pela falta de dinheiro, os gastos do Estado com passagens e locomoção de funcionários registraram a maior queda desde 2010. De janeiro a novembro de 2015, a soma de despesas do tipo nos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo, além de Ministério Público (MP) e Tribunal de Contas (TCE), despencou 47,6% em relação a igual período de 2014, em termos reais - de R$ 26,9 milhões para R$ 14,1 milhões.
Rosane de Oliveira: Quatro meses de calmaria antes de novo temporal
Os números de dezembro ainda estão sendo contabilizados, mas a tendência é de que o saldo positivo se mantenha. O alcance da economia aos cofres estaduais, no entanto, pode ser considerado irrisório. Ao todo, foram poupados R$ 12,8 milhões, recurso suficiente para bancar apenas um mês de transporte escolar.
- É nada frente ao déficit do Estado (R$ 2,7 bilhões em 2015). Mas, na falta de alternativas, é uma medida válida. Não havia o que fazer. No mínimo, isso sinaliza moralidade. Só não pode parar por aí - avalia o economista Fernando Ferrari Filho, da UFRGS.
Com redução de juros da dívida, RS deve investir em infraestrutura
Disponíveis no site da Secretaria da Fazenda, os dados se dividem em três itens: passagens de avião, locação de veículos e transporte de pessoal (basicamente gastos com ônibus e táxi). A pedido de ZH, os números foram compilados por técnicos do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
O desembolso de R$ 14,1 milhões entre janeiro a novembro de 2015 é o menor registrado nos últimos cinco anos, e o campeão em cortes foi o Executivo, com diminuição de 53,3% e queda em todos os quesitos analisados.
- É lógico que a redução não cobre o rombo nas contas. Temos consciência disso. Por outro lado, mostra uma tendência clara no governo, que vai ter continuidade. Não ficamos só no discurso. Estamos mostrando que dá para mudar - afirma o chefe da Casa Civil, Márcio Biolchi.
Piratini destinará R$ 90 milhões para dívidas com municípios e hospitais
Entre os demais poderes e órgãos avaliados, o TCE registrou o melhor resultado, principalmente pela adoção do sistema de milhas nos voos de servidores, e a Assembleia ficou com a pior performance. Ainda assim, com cortes em outras áreas, o parlamento conseguiu contingenciar R$ 85 milhões em 2015 (leia mais abaixo).
Mais despesa com táxi, menos com avião
No caso do Judiciário e do MP, houve queda nos gastos com viagens de avião e aluguel de veículos. Em contrapartida, as despesas com ônibus e táxi cresceram em relação a 2014.
O presidente do conselho de comunicação do Tribunal de Justiça, Túlio Martins, atribui o aumento à implementação do sistema de informática nos fóruns do Interior e aos problemas provocados pelas chuvas.
- Foi necessário deslocar técnicos para que cuidassem da manutenção da rede e garantissem a qualidade dos serviços. Fora isso, economizamos em todo o resto - afirma Martins.
Empossado em junho, o procurador-geral de Justiça, Marcelo Lemos Dornelles, determinou um conjunto de medidas de controle assim que assumiu o cargo. Os cortes, segundo ele, passaram a fazer efeito principalmente a partir do segundo semestre, e o aumento nos gastos com ônibus reflete a contenção nas outras duas rubricas.
- O resultado, mesmo que preliminar, é positivo. Indica o início de um processo. Nossa perspectiva é ampliar a austeridade no que for possível - afirma Dornelles.
Deputado não pode ficar ilhado, diz Brum
Embora tenha economizado R$ 85 milhões em 2015, a Assembleia Legislativa registrou aumento de 45,5% nos gastos com passagens aéreas entre janeiro e novembro de 2015, em relação a igual período de 2014. Em termos reais, o valor desembolsado passou de R$ 766,9 mil para R$ 1,1 bilhão. A elevação, segundo o presidente do oarlamento, Edson Brum (PMDB), resultou principalmente de viagens oficiais a Brasília, para tratar de "interesses do Estado":
- Ao longo do ano, várias cidades foram afetadas e precisavam de recursos. Também tivemos toda aquela discussão em torno da dívida com a União, sem falar nas reuniões para a implementação dos aeroportos regionais. Os deputados não podem ficar ilhados. É importante que defendam os interesses do Estado.
O presidente do Poder Legislativo afirma que medidas de contingenciamento foram adotadas desde o início de 2015, incluindo campanhas internas pela redução do uso da energia elétrica e de água. O custo com pessoal, segundo dados divulgados em dezembro, caiu 42% com a extinção de 140 cargos, e as despesas com diárias diminuíram 72%. Conforme Brum, o percentual da Casa no orçamento do Estado, que seria de até 3%, não passou de 1,38%.
- Chegamos ao fim do ano com economia de 15%. Isso é fruto de gestão - afirma.
Banco de dados para milhas chama atenção
Para reduzir as despesas com viagens de avião, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) decidiu implementar o que muitos passageiros já fazem há anos: adotar os programas de milhagens das companhias aéreas. O mecanismo funciona a partir de um banco de dados que permite a troca de milhas acumuladas em viagens oficiais por novos bilhetes, sem custos para o TCE. Desde que adotou a alternativa, em 2013, na gestão do ex-presidente Cezar Miola, a instituição conseguiu gerar 28 tíquetes de graça (que teriam custado R$ 21 mil aos cofres públicos) e obter créditos para a compra de mais 15 trechos, totalizando economia estimada em R$ 29 mil.
Pelo menos 94% dos servidores da instituição aderiram à ação. Na prática, é necessário que autorizem o repasse das milhas ao TCE para que esses créditos possam ser utilizados - já que as empresas aéreas não autorizam a recuperação de créditos diretamente para a instituição. A ideia despertou o interesse de outros órgãos no Rio Grande do Sul e no Brasil, e o novo presidente da Corte, Marco Peixoto, avalia que o programa pode ser replicado.
- Estamos conseguindo aproveitar créditos que, antes, eram utilizados individualmente. Com o banco, as milhas retornam para o poder público, o que é, também, uma medida de justiça - diz Peixoto.
A INICIATIVA
- A falta de recursos levou o governador José Ivo Sartori a assinar, em janeiro de 2015, decreto de contingenciamento de gastos no Executivo com foco em passagens e diárias de servidores, entre outros itens, como proibição de criação de novos cargos. O ato também suspendeu promoções e reviu pagamentos de fornecedores.
- Na época, Sartori fez apelo aos chefes dos demais poderes, pedindo que cortassem despesas desnecessárias.
- Um segundo decreto, em março, diminuiu em 21% as despesas das secretarias. No total, a economia total gerada foi de R$ 1 bilhão.
- O governador deve renovar o primeiro decreto ainda nesta semana.