Nasci pra brilhar
Empreguete da vida real faz sucesso como cantora
Como as empreguetes da novela Cheias de Charme, ex-doméstica de Alvorada ralou para chegar ao sucesso. Virou cantora, fez shows e gravou quatro CDs
Quando o espanador vira microfone e a sala de jantar um palco iluminado, a patroa descobre que a verdadeira estrela da casa é sua empregada. E, se o talento para cantar for o mesmo que ela tem para limpar, lavar e passar, o sucesso será uma questão de tempo. E de oportunidades.
Moradora de Alvorada, a ex-doméstica Valira Pereira da Silva, hoje com 62 anos, concretizou na vida real o sonho da adolescente que passava as tardes ensaiando na frente do espelho. Tornou-se cantora e gravou não um, mas quatro CDs, provando que a ficção imita a realidade.
O desejo que fez brilhar os olhos da nossa personagem move atualmente As Empreguetes da novela Cheias de Charme da Globo, vividas pelas atrizes Taís Araújo (Penha), Leandra Leal (Rosário) e Isabelle Drummond (Cida). Três Marias uniformizadas que cantam durante o trabalho de olho numa carreira profissional.
Cantora e compositora
Se na novela Rosário escreveu Vida de Empreguete (a letra, na verdade, é do baiano Quito Ribeiro), Valira compôs Lágrimas Sentidas, Bichinho de Estimação e muitas mais.
- Quando vi a imagem delas (na novela) correndo para pegar o ônibus e falando sem parar comecei a rir porque é o jeito de toda empregada - lembra Valira.
Estreia em auditório
O trio da ficção estourou com um hit na internet. Nossa cantora estreou no programa de auditório O Show do Gordo, apresentado por Ivan Castro na Capital, na década de 70. E já chegou arrasando, graças aos vocalizes (técnica para modular a voz) que fazia entre a cozinha e o tanque, emendando com músicas de Agnaldo Timóteo e Carmem Silva, babá e empregada doméstica como ela.
- Meus patrões diziam: não sei o que tu estás fazendo aqui dentro com o potencial que tu tens - lembra-se, orgulhosa.
Aos 48 anos, resolveu encerrar a carreira. Recentemente, driblou um câncer que lhe custou a retirada da mama direita. Mãe de três filhos e avó de seis netos, esta guerreira nunca se entregou.
Valira, com seu gogó de ouro, é a verdadeira rainha do lar.
Do avental para o vestido longo
Na juventude, Valira estudou solfejo e guarda até hoje a carteira da Ordem dos Músicos do Brasil. Antes de gravar o primeiro CD, acrescentou um "i" ao nome de batismo e passou a se chamar Valiria Silva. Dedicou mais tempo aos shows, introduzindo clássicos do tradicionalismo gaúcho no repertório. Formou a dupla Cachoeirinha e Gauchinha, com o segundo companheiro. Durante 13 anos, lotaram CTGs e clubes do Estado. O talento de Valira, a essa altura, não era mais um privilégio exclusivo da família que a contratara para cuidar da casa. Então, trocou o avental pelo vestido longo para conquistar plateias de todos os rincões.
Discografia
- Escrava do Amor, de 1986
- Lágrimas Sentidas, de 1998
- Alma Inquieta, de 2004
- Cometa Luz, de 2008
Valiria mostra seu talento exclusivamente para o Diário Gaúcho. Confira o vídeo:
Pegou!
"Levo vida de empreguete, eu pego às sete...". O refrão de Vida de Empreguete pegou na novela, na internet e nas rádios. No site ww.globo.com/cheiasdecharme, o clipe da música de Rosário, Penha e Cida já foi visto mais de 10 milhões de vezes.
Chayene (Cláudia Abreu) não fica atrás. Em uma pesquisa da TV Globo, ela foi apontada uma das personagens favoritas da história. Prova de que ninguém resiste às suas trapalhadas na tentativa de acabar com as curicas!
De 1ª a 26 de junho, Cheias de Charme foi o terceiro programa mais assistido na Grande Porto Alegre, com 36,3 pontos de audiência e 62,23% de share (de cada cem tevês ligadas, cerca de 62 estavam na novela). Só Avenida Brasil e Jornal Nacional têm mais do que os 2,5 milhões de telespectadores da novela das sete por dia, no Estado.
Elas estão com tudo!
O sucesso de Cheias de Charme, que coloca em evidência a atividade das domésticas, vem mexendo com o astral das empreguetes da vida real. Elas, que têm uma rotina puxada e nem sempre são tão valorizadas, se alegram ao ver que são protagonistas do horário nobre.
"O nosso dia a dia é lavar roupa, limpar a casa, fazer comida. Muitos criticam, outros acham certo o que a Chayene faz com as empregadas. Acho que a novela veio para levantar a moral da gente, nos valorizar."
Lúcia de Jesus da Rosa, 58 anos, Canoas.
"Eu estou adorando a novela, é muito boa. E nos ajudou bastante, porque as patroas enxergam o que está errado. A empregada acumula um monte de funções. Anima a gente ver aquelas gurias se darem bem!"
Íria Rosa Freitas Lemos, 58 anos, Porto Alegre
"Acho bom ter domésticas como protagonistas da novela, era preciso. Até pouco tempo, muitos direitos a gente não tinha. Agora que isso mudou. Estamos conquistando espaço, isso é importante."
Zelinda Moreira Machado, 59 anos, Porto Alegre
"Eu acho a novela show, está bem legal. Assisto sempre, não perco. Estou pensando em fazer um clipe, cantando a música das empreguetes. Estou muito feliz de ver as domésticas em alta."
Cláudia da Silva Oliveira, 46 anos, Viamão