Tensão na bomba
Postos de gasolina à espera do próximo assalto
Porto Alegre tem média de um posto roubado por dia. DG percorreu a Capital entre 21h e 0h de quinta e ouviu relatos de medo de frentistas e funcionários
Basta entrar um novo cliente na loja de conveniências de um dos postos de combustíveis da Avenida Wenceslau Escobar, no Bairro Tristeza, para que a atendente Graziela Noal Ferreira, 31 anos, comece a tremer. A atitude, aparentemente exagerada, está ligada aos dois assaltos sofridos por ela em 17 dias, enquanto trabalhava na Zona Sul da Capital.
Na ação mais recente, ocorrida na semana passada, perto da meia-noite, a atendente levantou as mãos antes de o ladrão mascarado entrar no local. Ficou só esperando o bote.
- Nem isso ajudou. Ele bateu a minha cabeça contra a gaveta porque queria que eu me abaixasse rápido. Pensei que morreria. Foi assustador - recordou.
Segurança foi reforçada
Depois dos ataques, Graziela começou a trabalhar em uma filial - e seu antigo posto passou a fechar às 22h. Para manter um local funcionando na madrugada, os donos da rede contrataram segurança, ampliaram as rondas, aumentaram o número de frentistas neste horário e instalaram mais câmeras.
Levam moedas e deixam medo
As mudanças não têm sido suficiente para manter a calma de quem está atrás do balcão.
- Quase não trabalhamos com dinheiro. Os bandidos roubam moedas, mas deixam um rastro de medo - afirmou o gerente de pista, Luciano Nienaber, 23 anos.
Na Zona Norte, uma das áreas mais visadas pelos bandidos, os funcionários dos postos evitam falar sobre os assaltos. Num deles, na Avenida Assis Brasil, no Jardim Lindoia, os roubos se tornaram tão comuns que o proprietário já não vai à DP fazer o registro (a polícia alerta sobre a importância de saber dos crimes, pois sempre haverá dados novos para ajudar na captura dos ladrões).
Assaltos geram troca de horário
Só nesta semana, foram dois por volta da 1h30min. No último, na quinta-feira, dois homens armados fizeram os dois frentistas, um funcionário da loja e um cliente deitarem no chão, sob a mira de um revólver. A dupla fugiu a pé. Resultado: desde ontem, o posto fecha à meia-noite.
- Fazia três meses que o dono tinha decidido reabrir de madrugada. Mas os assaltos o fizeram mudar de ideia. Não temos como trabalhar com medo da próxima arma - contou um frentista.
Ataques já não têm hora para ocorrer
E as investidas dos bandidos também ocorrem durante o dia, como num posto da área central de Porto Alegre, onde o último assalto ocorreu por volta das 19h - horário de intenso movimento. De acordo com o frentista, a dupla de assaltantes estacionou a moto ao lado dele e encostou uma arma contra a barriga do funcionário.
- Estava atendendo um cliente. Só deu tempo de tirar trocados do bolso. Meu colega, nervoso, chegou a cambalear. Não vi a cor da moto, dos capacetes. Já virou rotina ser roubado - desabafou.
No lado Leste da Capital, no Bairro Partenon, a situação se repete. O medo emudece quem trabalha na área. Quando falam sobre os assaltos, os funcionários pedem anonimato, temendo represálias.
- Só posso dizer que já perdi a conta das vezes em que fui assaltado. Continuo porque preciso do trabalho. Mas conto cada minuto até ir embora com vida - desabafou um frentista de um posto da Avenida Bento Gonçalves.
Números do drama
- Entre janeiro e outubro, a Brigada Militar registrou 232 roubos a postos na Capital. Número 60% superior ao de todo o ano passado.
- A frequência dos crimes se agravou desde o início deste ano.
- Entre junho e novembro, o Sulpetro aponta 179 casos.
- 90% dos ataques tiveram o uso de revólver ou pistola.
- 78% dos crimes foram cometidos na noite ou madrugada.
- Em 90% dos casos, os bandidos, em motos ou carros, usam arma, mas poucas vezes partem para a violência.
- Geralmente, as quantias roubadas não superam R$ 100.
- A cada dia, em média, um posto de combustíveis é roubado na Capital.